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Doença 'misteriosa' da BA pode ser causada por vírus ou carne contaminada

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

22/12/2016 15h53

Profissionais de saúde que lidam com pacientes e analisam amostras colhidas deles têm duas linhas hipóteses principais sobre o que está causando o surto de uma doença misteriosa que provoca fortes dores musculares e deixa a urina escurecida. Ao menos 22 casos já foram relatados na Bahia

Sem saber o que causaria o problema, as autoridades tratam apenas como mialgia aguda. Uma das investigações sobre o que está causando o problema está sendo feita pelo Laboratório de Virologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) --o mesmo que fez a descoberta do vírus da zika circulando no país.

Segundo Gúbio Soares Campos, coordenador do local, o laboratório está de posse de cinco amostras de sangue, urina e fezes de pacientes infectados e já há uma suspeita. "Achamos indício de um vírus [o Paraechovirus] e vamos sequenciar ele para confirmar. Isso leva de 15 a 20 dias", diz.

Campos conta que, apesar de não ter conhecimento de surtos desse vírus no Brasil, ele não é desconhecido dos especialistas, e casos com ele já ocorreram em países como Japão (em pelo menos três surtos) e na Dinamarca.

Segundo o pesquisador, o contágio do vírus ocorre por saliva ou mesmo pela respiração --em casos de maior aproximação com uma pessoa contaminada. "Não tem como saber como o vírus veio parar aqui. A Bahia recebe muita gente de fora, são muitos shows, as praias estão cheias", conta.

Carne contaminada

Segundo o infectologista Antônio Carlos Bandeira, que está acompanhando casos desde o início do surgimento do problema, os sintomas apresentados levantam outra suspeita: a de que seria a doença de Haff --que é uma síndrome causada pela ingestão de carne de algum tipo de animal contaminado com uma toxina. "A toxina vai para a carne do peixe, e a pessoa que o come fica contaminada", explica.

Ele explica que a toxina é normalmente encontrada em peixes de água doce. "Isso já aconteceu em outros locais do mundo, como no Amazonas, em 2008", explicou.

Segundo o médico, apensar dos sintomas passados pelos pacientes serem típicos da doença de Hass, as informações repassadas impedem a caracterização do problema.

"Eles não têm tido febre ou dor de garganta, o que fica menos típico de Paraechovirus. Por outro lado, tem alguns pacientes que tiveram sintomas sem comer peixe ou que os apresentaram com mais de 24 horas depois de ingerir. Nem tudo está perfeito nessa equação. O que já consegui mostrar é que se trata de um surto", disse, citando ainda que os pacientes têm afirmado que comeram peixe de água salgada, o que é incomum. 

Para o pesquisador Gubio Soares Campos, não é possível afirmar a doença tenha sido causada pelo consumo de peixe contaminado. "Para acusar algo, tem que investigar, e temos apenas fezes, urina e sangue de pacientes. Eu não recebi peixe, apenas amostra de pacientes", explica.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, os 22 pacientes apresentaram dor muscular intensa, de início súbito, acometendo, principalmente, pescoço, ombros, costas, coxas e/ou panturrilhas. "Todos os pacientes residem na capital, sendo que 14 relataram o consumo de peixe, enquanto oito não se recordam ou não consumiram peixe", disse, em nota, na terça-feira (20).

Segundo a pasta, um processo de investigação está em andamento, porém, até o momento não foi coletada quaisquer amostra de alimento, "pois os casos foram notificados tardiamente."