Por que Itaquera, Jaçanã e Jaguara lideram casos de dengue em São Paulo

Jaguara, na zona oeste, São Domingos e Jaçanã, na região norte, e Itaquera e São Miguel, no leste da cidade de São Paulo, estão no topo do ranking dos distritos com maior incidência de dengue. Os dados são da prefeitura da capital paulista e se referem até 28 de fevereiro deste ano.

O que acontece

A forma natural de transmissão dos mosquitos é um dos fatores que explicam a epidemia em determinados locais. Quanto maior o número de casos, mais o mosquito consegue se retroalimentar. Isso, porque, o vetor do mosquito tem mais oportunidade de se tornar infectante. "Esses bairros, provavelmente, têm uma condição boa para que o mosquito consiga se procriar e se desenvolver", explica Evaldo Stanislau, infectologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Bairros com maior incidência de casos da doença estão localizados na fronteira com outras cidades. "Esses distritos estão em regiões em que outras cidades, infelizmente, seguem em transmissão ativa de dengue durante todo o ano de 2023", afirma Luiz Artur Caldeira, coordenador da Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) da Prefeitura de São Paulo. Ele cita a região do Alto Tietê, que abarca municípios como Guarulhos, próximos da região norte e leste, além de Mogi das Cruzes e Itaquaquecetuba, perto da zona leste.

Orientação da prefeitura é que os moradores informem no posto de saúde caso outras pessoas da família ou da rua tenham sido infectadas com o vírus. Desta forma, segundo ele, os agentes conseguem identificar possíveis focos. Nos 96 distritos da cidade, 15 estão em epidemia — quando a incidência está acima de 300 casos por 100 mil habitantes.

Os casos assintomáticos também podem interferir no aumento de infectados. "As pessoas assintomáticas, durante uma fase da infecção, podem transmitir vírus para o mosquito, o que reforça a teoria de você ter muito vetor e muito vírus à disposição para espalhar", diz o infectologista do HC.

O mosquito não voa longas distâncias. Estanislau afirma que, se em um perímetro de 500 metros o Aedes aegypti não encontrar um lugar para procriar, sua geração termina em sete dias, em média. "Ele precisa do sangue humano para sobreviver e vai procurar pessoas próximas do raio de onde ele nasceu", disse o coordenador da Covisa.

O governo de São Paulo decretou na última terça estado de emergência para a dengue. Ao todo, a capital paulista registrou 25.185 mil casos da doença — no estado são mais 152 mil casos confirmados de dengue e 38 mortes.

O mosquito tem uma característica de que precisa estar alojado próximo do ser humano. Ele tem também um comportamento adaptativo, antes se observava a preferência por água limpa, mas agora não precisa estar tão limpo.
Luiz Artur Caldeira, coordenador da Covisa

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Imagem: Arte/UOL
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Quais locais vivem epidemia em São Paulo

Jaguara, na zona oeste, lidera o ranking com um uma incidência de 3236,7 casos por 100 mil habitantes. A região fica próxima de Osasco, na Grande São Paulo. A cidade registrou neste ano mais de mil casos da doença.

O comerciante Fábio Vinicius Correia Oliveira, 45, mora no Jaguara, no entorno da Praça Nair Zampieri Carbonaro, e foi infectado pela primeira vez. Ele e sua esposa, a dona de casa Kaliane Carvalho, 44, ficaram dez dias com sintomas — só a filha de três anos não ficou doente.

"Como trabalhamos com comércio, sempre tem pessoas que conhecem alguém que teve ou está com dengue", diz o comerciante. Febre alta, fraqueza, dor no corpo e nos olhos foram alguns dos sintomas enfrentados pelo casal.

São Domingos, na zona norte, aparece em 2º lugar com 861,6 de incidência e Itaquera, na zona leste, em 3º com 754,5. Em números absolutos, o distrito da zona leste, tem o maior número de casos da dengue, 1611.

O advogado Marcus Pimentel, 35, se viu cercado de familiares com dengue. Primeiro, a sua esposa apresentou os sintomas, no fim de janeiro. Depois, a filha de seis anos, que teve manchas no corpo, dores de cabeça e dificuldade de se alimentar. "Embora ela não tenha feito exame de sangue, o pediatra disse que todos os indícios foram de dengue", conta. Depois foi a vez dos seus pais, com 69 e 56 anos, que chegaram a ser internados na UTI por oito dias.

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Eles moram em Itaquera, onde Pimentel conta também ver outros moradores acometidos com a dengue. "A vizinha de porta pegou e meu vizinho está ruim, em casa, tomando soro, com febre", disse. "Nas vezes que fomos para o hospital, os próprios médicos diziam que tinha muitos casos em Itaquera".

Repelente na mochila nas crianças. A gravidade da doença alertou a família, que passou a colocar na rotina a aplicação de repelentes nas quatro filhas, com idades de 6, 4, 3 anos e 8 meses. "Ficamos na tensão", disse. "É repelente o dia inteiro, jogando e passando nas crianças."

Distritos com a menor incidência de casos: são o Jardim Paulista, na zona oeste, com 28,8 casos por 100 mil habitantes, e a Vila Mariana, na zona sul, com 32,7.

Estamos acompanhando a evolução em cada região. Em janeiro, a região oeste, principalmente no Jaguara, estava mais extrema. Depois, foi a leste e agora temos observado um aumento proporcional na região norte.
Luiz Artur Caldeira

Ação da prefeitura para combater focos do mosquito da dengue em São Paulo
Ação da prefeitura para combater focos do mosquito da dengue em São Paulo Imagem: Amanda Perobelli - 6.mar.24/Reuters

Como se proteger da dengue

Os cuidados devem ser individuais e coletivos, segundo os especialistas. Como a dengue é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, a melhor forma de evitar a transmissão é combater a proliferação do inseto.

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Identificar qualquer água parada é principal maneira de se proteger. Especialistas apontam que 80% dos focos estão nos quintais das casas — há uma preferência dos mosquitos por criadouros em recipientes artificiais como pneus, vasilhas, garrafas com água parada.

"Se cada um individualmente cuidar da sua casa e o poder público cuidar dos terrenos abandonados, das áreas públicas isso é um caminho [para combater a dengue]", afirma Stanislau. Encher até a borda os pratos das plantas com areia, manter a caixa d'água fechada e usar repelentes também são cuidados citados pelos especialistas.

Caldeira, da Covisa, ressalta também que em caso de sintomas, os moradores devem procurar um serviço de saúde. Os mais comuns são dores no corpo e na cabeça, febre repentina e manchas no corpo.

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