Topo

Infanta Cristina se desvincula dos negócios de Urdangarin em tribunal

08/02/2014 13h33

PALMA, Espanha, 08 Fev 2014 (AFP) - A infanta Cristina, filha mais nova do rei da Espanha, se distanciou, segundo um advogado, das atividades fraudulentas atribuídas ao seu marido, Iñaki Urdangarin, diante do juiz que a interrogava neste sábado no âmbito de um escândalo que sacudiu a monarquia.

Cristina, de 48 anos, chegou em um carro preto pouco antes das 10h00 locais ao tribunal de Palma de Maiorca, nas Ilhas Baleares, onde o juiz José Castro lidera desde julho de 2010 o chamado "caso Nóos".

Sobriamente vestida com uma calça azul, camisa branca e blazer preto, desceu do veículo aparentemente tranquila e saudou sorridente os fotógrafos e as câmeras de televisão de todo o mundo antes de entrar no tribunal para um acontecimento histórico: o interrogatório do primeiro membro da família real já acusado pela justiça.

O juiz Castro busca determinar se Cristina, sétima na sucessão ao trono da Espanha, cooperou nas supostas atividades criminosas de Urdangarin, suspeito junto a um ex-sócio de desviar 6,1 milhões de euros (8,3 milhões de dólares) entre 2004 e 2006 mediante uma sociedade sem fins lucrativos chamada Instituto Nóos.

Sentada em uma cadeira de veludo vermelho, em uma sala presidida pelo retrato do chefe de Estado, seu pai, a infanta respondeu a ele durante algumas horas.

"Cerca de 95% das respostas que dá são evasivas", declarou aos jornalistas na porta do tribunal Manuel Delgado, advogado da associação de esquerda Frente Cívica "Somos maioria", durante um recesso.

Castro está fazendo perguntas muito rigorosas à infanta, acusada por supostos crimes fiscais e lavagem de dinheiro, mas "ela está serena, tranquila e bem preparada", acrescentou.

A infanta "tenta não reconhecer fatos que a comprometam", ressaltou. "Está exercendo seu direito de não dizer uma verdade que a comprometa", alegando simplesmente que "tinha muita confiança em seu marido", disse.

Afastados do tribunal por um cordão policial, um grupo de manifestantes segurava cartazes nos quais era possível ler "Sangue real = justiça irreal" ou "A lei é igual para todos".

"Para nós, o juiz Castro é um dos grandes da Espanha. É o único que está fazendo justiça para os espanhóis", dizia Andrés Rodríguez, um motorista de ônibus de 35 anos.



Um golpe na imagem da Coroa

Após meses de trabalho, Castro acusou a infanta no dia 27 de janeiro com base em um documento de 227 páginas que caiu como uma bomba: protegida durante muito tempo, mas agora cercada pelos escândalos, a monarquia espanhola descobriu que não é mais intocável.

Aos 76 anos - 38 deles de reinado - Juan Carlos passa a imagem de um rei cansado, muitas vezes apoiado em muletas, após suas várias operações no quadril.

A deterioração de sua imagem começou com a acusação de Urdangarin em 2011 e se agravou após uma cara escapada a Botsuana para caçar elefantes em 2012, que indignou uma Espanha atingida pela crise.

A ponto de não ser mais tabu falar de uma eventual abdicação em favor do príncipe Felipe, que, aos 46 anos, encarna a esperança da Coroa.

"O caso Nóos foi um problema enorme para a monarquia desde o início. O que ocorre é que, ao se centrar na figura da infanta, o dano aumenta", explicou Ana Romero, jornalista do El Mundo.

elc-acc/sg/ra/ma