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Inundações históricas nos Bálcãs deixam mortos e milhares de desabrigados

19/05/2014 19h39

BELGRADO, 19 Mai 2014 (AFP) - Pelo menos 47 pessoas morreram e milhares tiveram que deixar suas casas em Sérvia, Bósnia e Croácia, países castigados pelas maiores inundações em mais de um século.

O governo da Bósnia anunciou nesta segunda-feira que mais de um quarto de sua população foi afetada, enquanto na Sérvia milhares de voluntários tentam reforçar os diques ao longo do rio Sava, que deve subir ainda mais.

"Um quarto da população foi afetada pelas inundações e um milhão de pessoas não têm água potável. Os estragos são enormes", declarou o ministro bósnio das Relações Exteriores, Zlatko Lagumdzija.

"A única diferença em relação à guerra é que menos pessoas morreram", disse o ministro, referindo-se à guerra de 1992-95 que deixou 100.000 mortos e mais de dois milhões de refugiados e deslocados.

Dos 3,8 milhões de habitantes da Bósnia, quase 100.000 foram obrigados a deixar as áreas atingidas pelas cheias, de acordo com Stanko Sliskovic, da Defesa Civil bósnia.

Na Sérvia, cerca de 600.000 pessoas, de um total de 7,2 milhões de habitantes do país, foram afetadas pelas inundações, indica um comunicado do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM).

Mais de 25.000 afetados deixaram suas casas.

As autoridades dos dois países alertaram para o risco de uma "catástrofe epidemiológica", se as regiões atingidas não forem rapidamente limpas e desinfectadas.

Na vizinha Croácia, onde as cheias afetaram o setor leste, deixando um morto e 15.000 desabrigados ou desalojados, as escolas estavam fechadas nesta segunda.

"O que aconteceu conosco acontece uma vez em mil anos", afirmou o primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic.

Em Belgrado, capital sérvia, milhares de voluntários reforçam os diques ao longo do rio Sava, que deve atingir seu maior nível na história.

Algumas pessoas, com pás, enchiam sacos de areia. Outros voluntários colocavam os sacos nos locais mais vulneráveis, ao longo dos 12 quilômetros que o rio Sava percorre na capital.

Mais de 300.000 sacos de areia foram colocados ao longo do rio Sava, informou o prefeito de Belgrado, Sinisa Mali.

"Aqui, a água está a dois metros dos diques e o nível aumenta dois centímetros por hora. No momento, a situação está sob controle", disse o prefeito.

Os diques montados por milhares de voluntários ao logo do rio Sava e ao redor da central de energia elétrica Nikola Tesla conseguiram conter a água no domingo, de acordo com a rede de televisão estatal RTS. Nesta segunda-feira, o dia estava seco e o nível dos rios menores começou a baixar.

A central estava cercada de água. Ela fica perto de Obrenovac, uma das cidades mais afetadas. Caso seja atingida, uma grande parte da Sérvia pode ficar sem energia elétrica, já que Nikola Tesla é responsável por 50% do fornecimento do país.

O ministro da Energia, Aleksandar Antic, disse que a defesa do local é "crucial" para a estabilidade do sistema energético sérvio.

Na Sérvia, muitas pessoas foram abrigadas em centros coletivos, principalmente em Belgrado, sob a supervisão de voluntários da Cruz Vermelha e de psicólogos.

O tenista sérvio Novak Djokovic - que chamou as inundações de "catástrofe bíblica" e apelou para a ajuda da comunidade internacional - anunciou que doará às vítimas todo o prêmio de 700.000 euros que recebeu ao conquistar o Masters 1000 de Roma, de acordo com a imprensa local.

Na Bósnia, onde um terço do território está debaixo d'água, surge uma nova ameaça. Com os deslizamentos de terra, as autoridades advertiram para possíveis deslocamentos dos campos de minas terrestres da guerra travada entre 1992 e 1995.

O número de minas é calculado em 120.000.

Os painéis que indicavam as áreas com minas também foram levados.

A cidade de Samac (nordeste da Bósnia), de onde quase todos os 26.000 habitantes foram retirados em botes infláveis e helicópteros, permanecia inundada nesta segunda, assim como dezenas de localidades dessa região do país.

Mais de 25.000 afetados foram evacuados até agora na Sérvia, mais de 10.000 na Bósnia.

Já em Maglaj e Doboj (norte da Bósnia), cidades que estavam totalmente inundadas, a água começou a baixar.

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