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Entenda por que demora a contagem de votos das presidenciais no Peru

Pedro Pablo Kuczynski lidera a corrida faltando poucas urnas para o fim da apuração - Martin Mejia/AP
Pedro Pablo Kuczynski lidera a corrida faltando poucas urnas para o fim da apuração Imagem: Martin Mejia/AP

Em Lima

08/06/2016 15h44

Três dias depois do segundo turno da eleição presidencial, os peruanos ainda não sabem quem governará o país entre 2016 e 2021. A apuração está em sua fase final e avança lentamente, com uma estreita vantagem a favor do candidato de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski.

No entanto, por conta da apertada margem, a populista de direita Keiko Fujimori, matematicamente ainda pode virar o jogo.

Então, por que não acabar com a angústia e acelerar a contagem de votos? Não é tão fácil. A seguir quatro aspectos a serem considerados nesta fase final da eleição.

Urnas em lugares distantes

Há uma pequena porcentagem de urnas que chega de províncias mais afastadas, e em alguns casos nem sequer saiu de seu lugar de origem.

Por exemplo, as urnas que chegam de Vraem, o vale da selva central do Peru onde opera o narcotráfico e que também serve de refúgio para os remanescentes do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. Uma parte de seu percurso é feito por via fluvial e são necessárias medidas de segurança para trazê-las a Lima.

Também falta chegar uma pequena porcentagem de urnas eleitorais do exterior, que são entregues em Lima pessoalmente pelos próprios cônsules. Nesta quarta-feira estavam chegando.

100% não é 100%. Como?

É provável que entre quarta e quinta-feira a apuração chegue a 100%. Mas esse 100%, o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) chama de 'urnas processadas'.

O que quer dizer? Que são todas as urnas que chegaram a seus escritórios em estado bruto. Esta contagem é de 99,5%, o mesmo que o chefe do ONPE, Mariano Cucho, informa à imprensa diariamente em seus boletins.

No entanto, a ONPE mantém um cálculo paralelo que denomina 'cédulas contabilizadas', que exclui aquelas nas quais há observações ou que foram impugnadas (porque estão rasuradas, mal somadas, mal assinadas, etc). Esta contagem é de 98,5%.

Ou seja, existe em torno de 1% de cédulas contestadas que são enviadas para um tribunal eleitoral para revisão, um processo que não tem prazo, ainda que se espere ser resolvido até o fim de semana.

Com 100% das dos votos processados, há ganhador?

Não necessariamente. No momento há uma diferença de aproximadamente 42.000 votos entre Kuczynski e Fujimori e, segundo analistas, o mais provável é que continue assim. Mas 1% das urnas vistas representa cerca de 200.000 votos. Assim, matematicamente, Fujimori poderia virar o jogo.

Dessa forma, para que Keiko reverta o resultado, teria que ganhar 70% dos votos que faltariam ser contabilizados.

O ex-diretor do Instituto de Estatísticas do Peru, Farid Matuk, deu um exemplo: "A atual seleção do Peru pode vencer por 7-3 a da Alemanha no futebol? Não. Isso não vai acontecer. Matematicamente pode ocorrer, mas não".

Quando será conhecido o ganhador?

Com plena certeza, quando tiver 100% das cédulas contabilizadas, ou seja, quando tiver o resultado de todas as urnas vistas.

A outra possibilidade é que antes de chegar à totalidade das cédulas contabilizadas, um dos candidatos alcance um resultado que não possa ser superado. Provavelmente a equipe vencedora irá fazer o anúncio.

Ou também é possível que o candidato derrotado reconheça que já não pode reverter o resultado.

Enquanto isso, continua a espera.