Topo

União Europeia confirma apoio a Cuba, apesar de pressão dos EUA

Bandeira da União Europeia (UE) - Pascal Rossignol/Reuters
Bandeira da União Europeia (UE) Imagem: Pascal Rossignol/Reuters

em Havana (Cuba)

09/09/2019 17h18

A União Europeia (UE) reafirmou hoje (9) seu apoio ao desenvolvimento de Cuba e destacou seu papel como interlocutor na América Latina, apesar das pressões dos Estados Unidos pelo respaldo de Havana à Venezuela.

"Nos tempos incertos que vivemos, valorizamos muito que nossos sócios, como é o caso de Cuba, compartilhem nosso compromisso com o multilateralismo e com um sistema internacional baseado em normas", disse em espanhol a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, na abertura do segundo Conselho Conjunto Cuba-UE, em Havana.

Mogherini, que liderou o evento com o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, chegou à ilha no domingo para iniciar uma turnê regional que incluirá México e Colômbia, com a situação da Venezuela na agenda.

Desde 2008, a UE "comprometeu 200 milhões de euros para apoiar o desenvolvimento de Cuba" na agricultura sustentável, na segurança alimentar, no meio ambiente e nas mudanças climáticas, "bem como acompanhar a modernização do país", afirmou.

"Cuba é um sócio crucial para nós", acrescentou, "porque pode servir como ponte entre a América Latina e os países do Caribe".

Já Rodríguez reconheceu que, graças a esta cooperação, "houve avanços" em temas como fontes renováveis de energia, agricultura, mudanças climáticas e cultura, bem como no intercâmbio de especialistas para a modernização da economia cubana.

Bruxelas e Havana assinaram o Acordo de Diálogo Político e Cooperação (ADPC) em dezembro de 2016, um mês antes da chegada de Donald Trump à Casa Branca. Ele foi ratificado em novembro de 2017, quando começaram as relações plenas, ignorando diferenças em temas sensíveis como os direitos humanos.

Helms-Burton e Venezuela

"Estamos no melhor momento da relação entre Cuba e a União Europeia nos últimos 25 anos. Antes, ficou estagnada durante 20 anos, de 1996 a 2016, pela Posição Comum da UE, e desde 2016 nos encontramos com muito respeito", disse à AFP Alberto Navarro, embaixador da UE em Havana.

Em um primeiro encontro no domingo, Mogherini e Rodríguez abordaram "as novas medidas de bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba", tuitou o chanceler cubano.

Trump intensificou o embargo que Washington aplica contra Cuba desde 1962, revertendo a aproximação iniciada por seu antecessor, Barack Obama. Na véspera da chegada de Mogherini, os Estados Unidos anunciaram novas restrições para o envio de remessas e a proibição de transações bancárias.

Nessa linha, Trump ativou em maio o artigo III da Lei Helms-Burton, congelado desde sua promulgação, em 1996, que permite processar na Justiça americana empresas estrangeiras que administrem bens nacionalizados em Cuba pela Revolução de 1959.

"É necessário que a UE defenda e mantenha sua abordagem própria" no diálogo com Cuba, disse secretário de Estado para América Ibérica, o espanhol Juan Pablo de Laiglesia, enquanto alertou sobre os riscos da aplicação da Helms-Burton para as empresas de seu país.

"Resulta primordial estabelecer um diálogo da União Europeia com Cuba no âmbito regional. A UE quer desempenhar um papel construtivo", disse.

O bloco europeu é o principal investidor em Cuba e seu maior parceiro comercial, com um intercâmbio que superou os 3,47 bilhões de dólares em 2018.

Washington justifica suas novas pressões alegando que Cuba é o apoio de Nicolás Maduro na Venezuela, principal aliado político e econômico da ilha.

Caracas também é seu maior fornecedor de petróleo e o país onde trabalham mais de 20.000 médicos, paramédicos e professores cubanos, cujo emprego gera uma receita importante para a ilha.

A UE encabeça um Grupo de Contato de vários países para contribuir com uma solução pacífica da crise da Venezuela.

Direitos humanos

Para poder chegar ao ADPC, Cuba e a UE resolveram suas diferenças em termos de liberdades políticas e direitos humanos.

Cuba chega a este encontro com uma nova Constituição que ratifica seu regime socialista, mas mostra avanços nesses temas sensíveis.

Estimulada pelas políticas de Trump, a ilegal oposição interna pediu, porém, para que o acordo seja rejeitado, porque não prevê mudanças políticas na ilha.