Topo

PF diz que presidente da UTC recebeu alerta de prisão um dia antes

Ricardo Pessoa, ao ser preso em novembro de 2014 em São Paulo - Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo
Ricardo Pessoa, ao ser preso em novembro de 2014 em São Paulo Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo

22/02/2015 16h26

O empresário Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC Engenharia, é figura central de uma investigação da Polícia Federal, iniciada em novembro de 2014, sobre vazamento de informação sigilosa dentro da Operação Lava Jato.

O empresário da UTC, um executivo e um advogado do grupo e um "amigo" de nome "Rui" --mencionado em conversa telefônica e não identificado pelos policiais-- estão entre os alvos desta apuração.

Um dia antes de ser deflagrada a sétima fase da Lava Jato, batizada de Operação Juízo Final --no dia 14 de novembro--, Pessoa e outros 10 investigados estavam com os telefones grampeados, com autorização da Justiça Federal.

Diálogos por telefone e mensagens trocadas entre os investigados levaram o setor de Inteligência da PF à conclusão que havia "indicativos concretos de vazamento". O caso passou a ser apurado e um diálogo, em especial, chamou atenção dos investigadores da Lava Jato.

Eram 20h46, do dia 13 de novembro quando Pessoa fala com um dos diretores do grupo UTC Walmir Pinheiro Santana --também alvo da Lava Jato. Ambos estavam com os telefones monitorados pela PF:

"Olha, eu… é… saí daqui do encontro lá com o nosso amigo agora", diz Santana, para o presidente da UTC, que quis saber quem era o amigo: "Qual? O Rui?".

Santana confirmou: "É".

Os interlocutores combinaram se encontrar, em seguida, na casa de Santana, onde estaria também o advogado Renato Tai, que trabalha na UTC.

"É imprescindível lembrar que houve vazamento de informações a respeito da deflagração da 7ª fase da Operação Lava Jato que ocorrera na manhã do dia seguinte a esta ligação", registra a PF em seu relatório de informação sobre as escutas.

Vazamento

Faltava pouco mais de oito horas para que os policiais federais começassem a cumprir os mandados de prisão da Operação Juízo Final.

A lista de prisões --primeira estocada da Lava Jato no coração do esquema de corrupção na Petrobras-- trazia entre seus nomes o de Pessoa.

Minutos após ao diálogo (às 21h28), o advogado Tai liga para Pessoa e orienta o alvo a ler mensagens mandadas para ele no "vermelhinho" --trata-se de um telefone exclusivo para comunicação supostamente segura entre os envolvidos, registra a PF, em seu relatório.

"O que estão marcando amanhã cedo aqui?", questionou Pessoa, quando voltaram a falar por telefone.

"Procedimentos", avisa Tai.

O presidente da UTC pergunta ao advogado, então, se eram os "nossos colegas" que estavam "marcando procedimentos ou os outros?"

O advogado da UTC responde: "Os inimigos!". E acrescenta que a informação vem de "vários lugares".

Segundo os policiais, "não se trata de interceptação de diálogos entre advogado e cliente, mas sim diálogos que podem indicar o vazamento de procedimentos sigilosos, com violação de sigilo e seus reflexos na esfera criminal."