Topo

Temer fica fora da cúpula de reunião que deve marcar desembarque do PMDB

Dilma conversa com Temer no último dia 2 de março - Ruy Baron/Folhapress
Dilma conversa com Temer no último dia 2 de março Imagem: Ruy Baron/Folhapress

De Brasília

28/03/2016 13h31

Mesmo que consiga a unanimidade a favor do rompimento do PMDB, o vice-presidente da República e presidente nacional do partido, Michel Temer, decidiu que não presidirá a reunião do diretório nacional da legenda desta terça-feira (29) na qual o desembarque do governo Dilma Rousseff deve ser aprovado.

De acordo com interlocutores do vice-presidente, o peemedebista decidiu não ficar à frente do encontro para se preservar. A ideia é não passar a imagem de que comandou o processo de rompimento. Com a decisão de Temer, o senador Romero Jucá (RO), primeiro vice-presidente do PMDB, presidirá os trabalhos. Jucá é a favor da saída.

Até então, havia a expectativa de que Temer comandasse a reunião do diretório desta terça-feira, caso tivesse certeza de que o desembarque seria aprovado por consenso. Para o vice-presidente, alcançar a unanimidade na reunião é importante como um sinal de que a sigla está unida em torno dele e de seu eventual governo.

Apesar de não querer transparecer que está à frente da articulação pelo rompimento, Temer está se reunindo com membros do PMDB durante toda esta segunda-feira para tentar eliminar os focos de resistência ao desembarque. Pela manhã, já se reuniu com o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), um dos principais defensores da permanência do partido no governo.

Além de Braga, Temer pretende conversar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na tentativa de convencê-lo a apoiar o rompimento imediato. Aliados do senador, contudo, avaliam como "muito difícil" um acerto. Até semana passada, Renan e demais setores da ala governista do PMDB preferiam ver "o governo cair de podre".

Ministros perto do adeus

Ministros do PMDB sinalizaram à presidente Dilma que será muito difícil permanecer no governo caso o partido aprove a saída da base aliada na terça. A indicação foi dada durante uma reunião no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (28), na qual compareceram seis dos sete representantes da legenda na Esplanada.

Dois ministros ouvidos pela reportagem afirmaram que vão anunciar uma decisão conjunta depois que a definição do partido for formalizada. Mesmo aqueles que resistem à ideia de abandonar o cargo reconheceram que ficar no governo será muito difícil se o PMDB realmente optar por deixar a base aliada.

Um deles classificou como um "banho de água fria" a decisão do PMDB do Rio de abandonar Dilma, anunciada na semana passada.

A presidente Dilma Rousseff - Renato Costa-23.mar.2016/Folhapress - Renato Costa-23.mar.2016/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff
Imagem: Renato Costa-23.mar.2016/Folhapress

Antes da reunião com a presidente, o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) teve um encontro com o vice-presidente Michel Temer. Ele tentou, num último apelo, convencer o vice, que é presidente nacional da legenda, a adiar a reunião do Diretório Nacional do PMDB. A data, no entanto, está mantida. Segundo um aliado do peemedebista, a legenda vai dar um prazo maior, provavelmente até o dia 12 de abril, para que os ministros consigam se organizar e entregar seus cargos.

Além de Braga, compareceram ao encontro com Dilma Marcelo Castro (Saúde), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Helder Barbalho (Portos), Mauro Lopes (Aviação Civil) e Henrique Eduardo Álvares (Turismo).

Segundo a assessoria da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, ela não compareceu por causa da morte de uma amiga. Kátia é uma das maiores apoiadoras de Dilma e, nos últimos dias, cresceram os rumores de que a ministra poderia trocar de partido para permanecer no governo.

Varejo

Diante da debandada do PMDB, a estratégia do governo vai ser atuar no varejo para conquistar o maior número de deputados possível.

A ideia é entregar os cargos que estavam com o partido para outras legendas que garantirem votos contra o impeachment. Hoje, o cálculo do Planalto é que o governo não tem os 171 nomes necessários para barrar o processo na Câmara e que seria muito difícil paralisá-lo no Senado.

 

Para auxiliares palacianos, diante da perspectiva de que a comissão que analisa o impeachment vai terminar seus trabalhos em meados de abril, a permanência ou não de Dilma na Presidência vai depender dos acordos que serão fechados nos próximos 15 dias.