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Presidente do PT-RJ contraria cúpula e fala em 'plano B' a Lula

Washington Quaquá, presidente do PT-RJ - Divulgação
Washington Quaquá, presidente do PT-RJ Imagem: Divulgação

Ricardo Galhardo

São Paulo

01/02/2018 17h32

O presidente do diretório estadual do PT do Rio, Washington Quaquá, ex-prefeito de Maricá (RJ), quebrou o silêncio que imperava no PT sobre a possibilidade de um substituto para Luiz Inácio Lula da Silva, o chamado "plano B", caso o ex-presidente seja impedido pela Justiça de disputar a Presidência na eleição do dia 7 de outubro. A iniciativa contraria decisão do partido de formalização da pré-candidatura do petista tomada um dia após Lula ter condenação confirmada pela Justiça da segunda instância por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).

Em texto intitulado "Permita-me discordar!", postado na quarta-feira, 31, na página oficial do PT-RJ no Facebook, Quaquá propõe que o PT mantenha a candidatura de Lula até o limite legal, conforme já foi aprovado e divulgado amplamente pelo partido, mas discuta abertamente o "plano B" e escolha "um petista amplo e com experiência de governo, sem sectarismo, que seja seu companheiro de chapa e substituto em caso de violência institucional do TSE [Tribunal Superior Eleitoral]".

Segundo Quaquá, ao insistir em não apontar uma alternativa a Lula, o PT corre risco de transformar sua "bomba nuclear" em um "artefato inativo eleitoralmente".

"E por fim, sinceramente, precisamos discutir muito bem o que é esse negócio de não ter 'plano B'. Não temos nenhuma dúvida de que Lula é nosso líder e, muito mais que isso, o líder do povo brasileiro! Ele comandará essa eleição queira ou não o estado policial! Mas nós não podemos fazer burrada e nos isolar ao ponto de tornar a nossa maior arma; a nossa bomba nuclear, em um artefato inativo eleitoralmente. Lula tem que ser inscrito nosso candidato mesmo com a condenação e mesmo preso, se eles chegarem a esse cúmulo do arbítrio! Mas temos sim que ter um petista na chapa, como vice, desde já que sinalize pro Brasil e pro meio político qual o caminho vamos seguir caso façam uma violência maior e desmedida! Lula tem que dizer para o Brasil e para o povo! Eu sou 'fulano' e fulano sou 'eu'. Querem me fazer uma violência para acabar com os direitos do povo! Se fizerem, eu estarei representado por "Fulano" e vocês vão ser meus guardiões votando nele e nos nossos deputados, senadores e governadores! Essa é inclusive a melhor forma de resguardar o Lula! Escolhendo um petista amplo e com experiência de governo, sem sectarismo, que seja seu companheiro de chapa e substituto em caso de violência institucional do TSE! Esta é inclusive uma forma de dissuasão de uma violência maior, porque tornará esta inócua, pois o resultado eleitoral será definido pelo próprio Lula. Os juízes e todo esse complexo golpista saberão que vão violentar o vitorioso das eleições presidenciais", escreveu.

Repercussão

O texto teve ampla repercussão interna no partido. Segundo petistas, a opinião de Quaquá reflete a posição de um setor minoritário da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a maior do PT, da qual faz parte o próprio Lula. De acordo com dirigentes petistas, Quaquá fez a postagem depois de participar de uma reunião da corrente em São Paulo.

Segundo ele, o que está em jogo são dois caminhos diferentes para a reconstrução do PT sem Lula. O primeiro, sem "plano B", seria de médio prazo, pois pressupõe uma derrota eleitoral. O segundo, conforme Quaquá, permitiria a formação de uma aliança em torno de Lula, manteria o poder do ex-presidente de influir no resultado da eleição deste ano.

"Precisamos decidir se queremos apenas reconstruir o PT com 30% da sociedade. Organizar o povo com uma nova organização, "mais à esquerda", nem que para isso tenhamos que ser derrotados e levar Lula para o martírio, que aliás potencializará a organização mais nítida e de esquerda de nosso partido ou de nosso campo. Um processo de reorganização de médio prazo, mas que pressupõe a derrota nesta conjuntura. Ou se vamos buscar barrar o estado policial já! Neste processo eleitoral de 2018, combinado com ampla mobilização popular, centrada na organização dos comitês nas periferias e junto ao povo. Alianças e frente ampla democrática com setores fora da esquerda. E levar a candidatura Lula até o fim, mas já apontando um vice/parceiro/candidato alternativo em caso de violência. Só uma tática ampla, viável e eleitoralmente concreta pode nos levar à vitória. E a vitória é possível!", disse Quaquá no texto.

Radicalização

De acordo com ele, o discurso radical em defesa de Lula pode levar à desmoralização do PT se não houver o apoio popular nas ruas esperado pela direção do partido.

"O discurso esteticamente radical nosso não vai nos levar a nada. Esse discurso estreito de incitar um movimento de massas sem massa terá efeito desmoralizante! Uma revolução sem exército popular não é revolução é blefe!", escreveu o dirigente.

O nome preferido da CNB para substituir Lula é o do ex-governador da Bahia Jaques Wagner que, no entanto, prefere disputar o Senado. Outro nome citado é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que não vai ser candidato nas eleições deste ano e foi escolhido por Lula para coordenar o programa de governo do PT.