Lula: 'Teto de gastos parece coisa para garantir interesse do sistema financeiro'
"O governo sério sabe que não pode gastar mais do que tem. Se tiver que gastar, fazer dívida, tem que ser para construir novos ativos que possam fazer o país crescer. Ele não pode fazer dívida para custeio, porque aí será sem fim. Isso nós já fizemos e vamos fazer com muita tranquilidade", afirmou, sem responder ao certo qual seria âncora fiscal a substituir o teto de gastos. "O governo que tem responsabilidade não precisa de lei delimitando teto de gastos", avaliou.
Lula evitou dar mais detalhes sobre seu plano para a economia. "Eu aprendi com os economistas mais velhos: nem sempre, em economia, você pode dizer tudo o que vai fazer. Se você disser, você não faz. Aparece gente para atrapalhar. Podem ficar certos que vamos fazer as coisas que têm que ser feitas nesse País", declarou o petista.
Ainda assim, o candidato afirmou que a palavra-chave do momento é "inclusão social" e voltou a garantir que um eventual novo governo petista traria o Estado como maior indutor do crescimento da economia.
Guerra
A guerra na Ucrânia também foi citada por Lula em sua entrevista. "Eu espero que, quando eu ganhar as eleições, a guerra da Rússia e da Ucrânia já tenha terminado. Se ela não tiver terminado, pode ficar certo de uma coisa: o Brasil fará todo esforço que estiver ao seu alcance, em conversas com chefes de Estado, para estabelecer a paz", afirmou.
Eleições
Lula mostrou confiança de que o resultado das eleições deste ano será acatado, apesar da ofensiva de Bolsonaro sobre o sistema eleitoral brasileiro. "Tenho certeza que aqui no Brasil o resultado eleitoral será acatado sem nenhum questionamento", afirmou. Ele chamou Bolsonaro de "cópia mal-feita" do ex-presidente americano Donald Trump e citou a invasão do Capitólio, mas descartou algo na mesma linha com efetividade no Brasil.
"Esse cidadão [Bolsonaro] pode ficar certo que o resultado das eleições será acatado puramente", avaliou. "Resultado é assim, quem perder acata, quem ganhar acata."
O candidato do PT prometeu ainda responsabilidade fiscal, credibilidade e previsibilidade se eleito. "Não tem ninguém do mundo que tenha mostrado mais responsabilidade fiscal do que nós mostramos", disse Lula. "Vamos ser responsáveis, mas vamos cuidar de fazer o Bolsa Família", prometeu. A ideia do PT é manter o benefício do Auxílio Brasil em R$ 600.
Lula chamou a responsabilidade fiscal e a previsibilidade de elementos "necessários". "As pessoas precisam saber o que vai acontecer à luz do dia", declarou. "O Brasil precisa de governo que tenha credibilidade, que gera estabilidade".
Na entrevista, Lula voltou a falar em recriar o Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social e as conferências internacionais para decidir as políticas públicas. "A melhor forma de diminuir a relação dívida/PIB é o crescimento econômico. E vamos fazer isso", avaliou.
Inflação
Lula afirmou que a decisão de política monetária do Banco Central não pode ser "apenas um instrumento para conter a inflação". "Acontece que a decisão e a função que se dá ao Banco Central não pode ser apenas instrumento de aumentar a taxa de juros para tentar conter a inflação. Isso é muito bonito quando tem inflação de demanda, mas quando não tem inflação de demanda não precisa utilizar aumento de juro", declarou.
O petista defendeu ainda a redução do preço dos combustíveis patrocinada por Bolsonaro. "Vamos cuidar de preços administrados e vamos cuidar de aumentar a capacidade produtiva de alimento desse País para que a gente não tenha aumento de inflação", disse Lula.
Na entrevista, o candidato voltou a defender a recuperação da capacidade de investimento e crédito de BNDES, Caixa e Banco do Brasil. "A gente precisa convencer investidores estrangeiros para fazer investimento em algo novo", acrescentou.
Juros
O ex-presidente prometeu que um eventual novo governo petista faria um "trabalho duro" para baixar juros e inflação no País. "Vamos ter que fazer um trabalho imenso, duro, de muita seriedade para trazer a taxa de juros para número considerado razoável pela sociedade brasileira. Segundo, trabalhar para trazer a inflação para patamar que seja razoável", afirmou.
Lula garantiu que a situação econômica desafiadora não é "novidade" para ele. "Para mim não existe novidade em pegar o País na situação que está hoje. Eu já peguei uma vez. O que acontece é que agora está mais desindustrializado do que estava em 2003", declarou. "O Estado brasileiro vai ter que fazer grande investimento em obras públicas, o Estado precisa ser indutor de crescimento", seguiu.
Pauta ambiental
Na entrevista, Lula afirmou que não pode falar em desmatamento zero para não "beirar a perfeição". "Mas é plenamente possível você fazer uma luta muito dura contra o desmatamento, queimadas nesse País, envolvendo prefeitos", afirmou.
Ele avaliou ser necessária a criação de uma "nova governança mundial" para discutir as questões climáticas "com mais seriedade e respeitabilidade". Ele pediu o nascimento de instituições que "ajam diferente" do Fundo Monetário Internacional (FMI). "O Brasil vai cuidar da questão do clima como jamais cuidou", prometeu, se eleito.
"O Brasil tem potencial extraordinário de voltar a ser protagonista internacional, discutindo em igualdade de condições com todos os países do mundo. Inclusive para que a gente possa inclusive discutir uma nova governança mundial", declarou o ex-presidente. "Tudo que foi criado em 1948, depois das Nações Unidas, é preciso que haja certa renovação. É preciso que haja outras instituições, que ajam diferente do FMI, é preciso que haja outros países participando do Conselho de Segurança. uma nova geopolítica mundial para discutir essa questão climática", acrescentou.
Na avaliação de Lula, esse novo entendimento mundial deveria balizar as questões climáticas para todos. "É preciso ter nova discussão sobre questão climática e nova governança mundial. Porque sobretudo na questão do clima, é preciso que a gente decida a nível internacional e que essa decisão valha para todos os países do planeta", argumentou.
Ao citar a Amazônia, o petista defendeu a soberania brasileira, mas citou a possibilidade de "cooperação com a ciência". "Explorar todo potencial de nossa biodiversidade para saber o que a gente pode produzir, seja na indústria de comércio, seja na de fármaco, para a gente gerar melhoria de vida e emprego para 28 milhões de pessoas que moram na região amazônica", declarou, prometendo discutir a questão da Amazônia "com muito carinho" junto a todos os países da região.
"Não precisamos derrubar mais nenhuma árvore para plantar mais soja", defendeu, em aceno à pauta ambientalista cara ao público internacional.
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