Suíços votarão lei que limita salários de executivos
Carolina Montenegro
De Genebra, para a BBC Brasil
No próximo domingo, dia 24, os eleitores suíços votarão em referendo nacional um projeto de lei inédito que limita o salário dos altos executivos do país. Se a proposta for aprovada, o maior salário dentro de uma empresa será limitado a 12 vezes o valor do menor.
A iniciativa, chamada de "1:12 por um Salário Justo" ("1:12 Initiative for Fair Pay"), foi idealizada por partidos de esquerda. Ela é baseada na ideia de que ninguém em uma empresa deve ganhar mais em um mês do que outros ganham em um ano.
Segundo especialistas, se aprovada, a medida por prejudicar a economia do país - provocar queda na arrecadação de impostos, saída de grandes multinacionais e redução de empregos.
"A riqueza suíça é distribuída de forma injusta. Executivos recebem milhões, mas mais de 300 mil pessoas no país têm de trabalhar para ganhar uma ninharia", declarou na TV local David Roth, presidente da ala jovem do Partido Socialista Suíço que coletou 100 mil assinaturas para lançar a votação.
Os eleitores suíços, porém, seguem divididos sobre a polêmica. As últimas sondagens, divulgadas na quarta-feira passada pela consultoria GFS Bern, indicaram que 54% são a contra a proposta, 36% a favor e 10% estão indecisos. Antes, em outubro, outra pesquisa mostrava que 44% dos suíços estavam a favor, 44% contra e 12% indecisos.
Para ser aprovada e entrar em vigor, a proposta precisa apenas ter mais de 50% dos votos, sem necessidade de aprovação do Parlamento.
Segundo o think-tank Denknetz, há 30 anos o pagamento de um CEO equivalia a cerca de seis vezes o salário médio suíço, mas a taxa avançou para 13 vezes no final dos anos 1990. E, em 2007, altos executivos ganhavam, em média, 56 vezes o piso salarial do país.
Duras críticas a bônus e compensações extraordinárias pagas a altos executivos ganharam espaço nos debates públicos desde o acirramento da crise financeira internacional. Em 2008, o governo suíço desembolsou US$ 25,8 bilhões dos cofres públicos para resgatar o UBS, o maior banco do país.
A gota dágua do ressentimento público, porém, veio em fevereiro deste ano, quando a companhia farmacêutica Novartis anunciou que pagaria um pacote de aposentadoria no valor de 72 milhões de francos suíços (US$ 79 milhões) para seu então presidente, Daniel Vasella. Mais tarde, a empresa reduziu o valor para 5 milhões de francos suíços.
Apesar disso, os salários de CEOs de companhias como a Nestlé e a Roche (ambas sediadas na Suíça) continuam em disparada e hoje estão em torno de 15 milhões de francos suíços por ano o equivalente a mais de 260 vezes o menor salário anual da empresa.
É a segunda vez neste ano que os eleitores recorrem ao voto para aumentar o controle sobre o mundo corporativo. Em março, os eleitores suíços aprovaram em referendo um pacote de medidas que aumenta o poder de decisão dos acionistas sobre os salários dos executivos.
Risco para a economia
Críticos afirmam que se a iniciativa 1:12 passar, a Suíça corre o risco de se tornar menos atrativa para negócios. Atualmente, o país está entre as economias mais competitivas do mundo, segundo dados do Banco Mundial.
Um estudo da Universidade de Saint Gallen também alertou que a arrecadação de impostos da Suíça poderá sofrer uma redução de 1,5 bilhão de francos suíços por ano fiscal. Isso porque a 1:12 afetaria os salários dos 2% mais ricos da população, que pagam cerca de 47% de impostos diretos do país.
Executivos de algumas grandes companhias, como a gigante do setor de commodities Glencore Xstrata e a empresa de frete Kuehne + Nagel International AG, já declararam publicamente que vão considerar deixar a Suíça, caso o projeto seja aprovado em referendo.
"A saída mais fácil seria mudar a sede para a França, um país vizinho, ou para outros novos centros de negócios com mais vantagens tributárias e salariais, como Cingapura ou Qatar", afirmou Pascal Serain, executivo na empresa de seguros CSS, sediada em Berna.
Segundo ele, uma fuga significativa de empresas poderia prejudicar a economia suíça, gerando desemprego ou reduzindo a criação de novos postos de trabalho.
Para outros, porém, a medida seria uma forma inovadora de promover justiça social. "Precisamos de mais distribuição de riqueza dentro do país, não de salários estratosféricos para alguns poucos", disse Valérie Schneider, 61, aposentada. Desde setembro, ela mantém pendurado um cartaz vermelho com o 1:12 na sacada de seu apartamento em Genebra.
De Genebra, para a BBC Brasil
No próximo domingo, dia 24, os eleitores suíços votarão em referendo nacional um projeto de lei inédito que limita o salário dos altos executivos do país. Se a proposta for aprovada, o maior salário dentro de uma empresa será limitado a 12 vezes o valor do menor.
A iniciativa, chamada de "1:12 por um Salário Justo" ("1:12 Initiative for Fair Pay"), foi idealizada por partidos de esquerda. Ela é baseada na ideia de que ninguém em uma empresa deve ganhar mais em um mês do que outros ganham em um ano.
Segundo especialistas, se aprovada, a medida por prejudicar a economia do país - provocar queda na arrecadação de impostos, saída de grandes multinacionais e redução de empregos.
"A riqueza suíça é distribuída de forma injusta. Executivos recebem milhões, mas mais de 300 mil pessoas no país têm de trabalhar para ganhar uma ninharia", declarou na TV local David Roth, presidente da ala jovem do Partido Socialista Suíço que coletou 100 mil assinaturas para lançar a votação.
Os eleitores suíços, porém, seguem divididos sobre a polêmica. As últimas sondagens, divulgadas na quarta-feira passada pela consultoria GFS Bern, indicaram que 54% são a contra a proposta, 36% a favor e 10% estão indecisos. Antes, em outubro, outra pesquisa mostrava que 44% dos suíços estavam a favor, 44% contra e 12% indecisos.
Para ser aprovada e entrar em vigor, a proposta precisa apenas ter mais de 50% dos votos, sem necessidade de aprovação do Parlamento.
Segundo o think-tank Denknetz, há 30 anos o pagamento de um CEO equivalia a cerca de seis vezes o salário médio suíço, mas a taxa avançou para 13 vezes no final dos anos 1990. E, em 2007, altos executivos ganhavam, em média, 56 vezes o piso salarial do país.
Duras críticas a bônus e compensações extraordinárias pagas a altos executivos ganharam espaço nos debates públicos desde o acirramento da crise financeira internacional. Em 2008, o governo suíço desembolsou US$ 25,8 bilhões dos cofres públicos para resgatar o UBS, o maior banco do país.
A gota dágua do ressentimento público, porém, veio em fevereiro deste ano, quando a companhia farmacêutica Novartis anunciou que pagaria um pacote de aposentadoria no valor de 72 milhões de francos suíços (US$ 79 milhões) para seu então presidente, Daniel Vasella. Mais tarde, a empresa reduziu o valor para 5 milhões de francos suíços.
Apesar disso, os salários de CEOs de companhias como a Nestlé e a Roche (ambas sediadas na Suíça) continuam em disparada e hoje estão em torno de 15 milhões de francos suíços por ano o equivalente a mais de 260 vezes o menor salário anual da empresa.
É a segunda vez neste ano que os eleitores recorrem ao voto para aumentar o controle sobre o mundo corporativo. Em março, os eleitores suíços aprovaram em referendo um pacote de medidas que aumenta o poder de decisão dos acionistas sobre os salários dos executivos.
Risco para a economia
Críticos afirmam que se a iniciativa 1:12 passar, a Suíça corre o risco de se tornar menos atrativa para negócios. Atualmente, o país está entre as economias mais competitivas do mundo, segundo dados do Banco Mundial.
Um estudo da Universidade de Saint Gallen também alertou que a arrecadação de impostos da Suíça poderá sofrer uma redução de 1,5 bilhão de francos suíços por ano fiscal. Isso porque a 1:12 afetaria os salários dos 2% mais ricos da população, que pagam cerca de 47% de impostos diretos do país.
Executivos de algumas grandes companhias, como a gigante do setor de commodities Glencore Xstrata e a empresa de frete Kuehne + Nagel International AG, já declararam publicamente que vão considerar deixar a Suíça, caso o projeto seja aprovado em referendo.
"A saída mais fácil seria mudar a sede para a França, um país vizinho, ou para outros novos centros de negócios com mais vantagens tributárias e salariais, como Cingapura ou Qatar", afirmou Pascal Serain, executivo na empresa de seguros CSS, sediada em Berna.
Segundo ele, uma fuga significativa de empresas poderia prejudicar a economia suíça, gerando desemprego ou reduzindo a criação de novos postos de trabalho.
Para outros, porém, a medida seria uma forma inovadora de promover justiça social. "Precisamos de mais distribuição de riqueza dentro do país, não de salários estratosféricos para alguns poucos", disse Valérie Schneider, 61, aposentada. Desde setembro, ela mantém pendurado um cartaz vermelho com o 1:12 na sacada de seu apartamento em Genebra.
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