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Bolsa de US$ 10 mil revela desafios do mercado de luxo 'made in USA'

29/03/2015 17h41

Neil Koenig

Producer, The Life of Luxury

Bolsa de couro criada por Steven Fischer é fabricada inteiramente nos Estados Unidos e custa US$ 10 mil

Gucci, Missoni, Balenciaga, Prada e Hermès. Entre as principais marcas de luxo ao redor do mundo, é difícil lembrar-se de alguma que seja produzida nos Estados Unidos.

Mas por que o país, inegável templo de consumo global e bastião patriótico, tem tão poucas grifes 100% locais?

Uma das razões é o alto custo da mão de obra. Segundo especialistas, os Estados Unidos deixaram de fabricar itens de luxo na mesma proporção que no passado.

Outro motivo se deve à falta de profissionais qualificados capazes de produzi-los. "Perdemos muitos desses talentos quando tudo começou a ser terceirizado nos anos 80 e 90", diz o consultor Peter York, que assessora grandes marcas de luxo globais.

Mas o fenômeno não é exclusivo dos Estados Unidos.

Na França, por exemplo, a preocupação com o desaparecimento de talentos cresceu a tal ponto que a indústria está promovendo cursos de treinamento, na esperança de reviver o interesse na produção manual de peças.

Aposta

O empresário de Chicago Steven Fischer, no entanto, decidiu apostar contra os rumos do mercado. Ele criou uma bolsa de couro de luxo inteiramente feita à mão. O preço? Cerca de US$ 10 mil (R$ 33 mil).

A ideia surgiu depois que Fischer se deparou com uma antiga bolsa de couro em um leilão. Ele decidiu comprá-la por impulso.

"Foi algo sentimental", lembra.

Pouco depois, ele levou a bolsa durante uma viagem.

Quando desembarcou, Fischer notou que os comissários de bordo estavam enfileirados para falar com ele: "Eu pensei: 'Agora estou numa fria". Mas o que eles me falaram foi: "Senhor, não sabemos onde você comprou essa bolsa, mas essa é a bolsa mais bonita que já vimos em muito tempo".

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Fischer diz que recebeu elogios parecidos de outras pessoas. Em um dado momento, começou a se perguntar: "Como eu poderia fabricar uma bolsa como essa, não só fabricá-la, mas produzi-la 100% nos Estados Unidos?"

Na ocasião, Fischer estava dando aulas de moda na Universidade Northwestern, no Estado americano de Illinois. Ele aconselhava vários empresas no ramo da indústria de luxo.

Mas lançar um produto para esse mercado, diz ele, era "outra história".

Fischer lembra que quase todo fornecedor lhe dizia que ele era "maluco".

"Eles me diziam: Olhe, Steven, se você realmente quer ganhar dinheiro, não produza isso aqui nos Estados Unidos".

Fischer ignorou a recomendação e lançou-se numa empreitada para achar fornecedores e artesãos que trabalhassem com couro. Para isso, passou meses dirigindo no meio-oeste americano.

O segundo passo foi começar a perguntar a proprietários de cavalos onde eles compravam selas e arreios.

Com o passar do tempo, Fischer conseguiu construir uma rede de profissionais qualificados que trabalhavam com couro e metal, que poderiam fabricar componentes seguindo os padrões que ele buscava.

Muitos dos artesãos pertenciam às comunidades Amish - Fischer descreve o trabalho deles como sendo de "excepcional qualidade".

Desafios

No entanto, há desafios. Alguns Amish relutam usar tecnologias modernas, tais como internet, o que dificulta a comunicação com Fischer.

O couro da bolsa vem da fábrica de curtumes de Horween em Chicago, a última restante na cidade.

Todo o esforço, tempo e materiais usados para fabricar a bolsa não saem baratos. O produto é vendido por US$ 9.995 (R$ 32.440).

Fischer diz que o custo é justificado. Ele acredita que se ele pode fabricar um produto com a mais alta qualidade, então também há clientes dispostos a comprá-lo.

Embora o negócio ainda seja pequeno, Fischer planeja expandi-lo. Ele já está aumentando o catálogo de seus produtos para poder vender cintos.

Mas qual é o tamanho do mercado para produtos desse tipo?

Alguns especialistas dizem que há um grande interesse pela procedência das mercadorias em geral, incluindo produtos de luxo.

"Em todo mercado de luxo onde já existem vários consumidores de luxo, sempre há uma oportunidade para produtos 100% nacionais", diz Milton Predaza, do Luxury Institute, companhia sediada em Nova York que aconselha grandes empresas.

No entanto, Predaza acrescenta que a escassez de profissionais qualificados podem tornar difícil a produção manual desses itens em larga escala.

Outro desafio é a forte concorrência. Trata-se de um setor onde os grandes nomes do mercado se beneficiam das economias de escala.

Apesar das incertezas, Fischer permanece destemido.

"Vejo minha aposta como um empreendimento enorme – nunca teria imaginado três ou quatro anos atrás estar onde eu estou agora", diz ele.

"Mas há algo dentro de mim que está me dizendo para continuar com isso e mostrar que podemos criar um mercado de luxo refinado totalmente Made In USA".