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O prisioneiro que está livre para sair, mas se nega a deixar Guantánamo

Muhammad Bawazir está preso em Guantánamo há 14 anos e não quer deixar Cuba - Departamento de Defesa dos EUA/BBC
Muhammad Bawazir está preso em Guantánamo há 14 anos e não quer deixar Cuba Imagem: Departamento de Defesa dos EUA/BBC

22/01/2016 07h49

Muhammad Bawazir passou os últimos 14 anos de sua vida recluso na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba. Nesta semana, ele teve a chance de pegar um avião e abandonar o centro de detenção para sempre, como já fizeram outros dois detentos, mas decidiu ficar.

Esse iemenita de 35 anos recusou a oferta de recomeçar a vida em um país que havia aceitado acolhê-lo, pois não tinha parentes por lá. A decisão surpreendeu o advogado de Bawazir, John Chandler, que disse ter passado meses tentando convencê-lo a deixar o centro de detenção.

O caso vem a público sete anos após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter assinado uma ordem para fechar a prisão de Guantánamo. A base é usada por autoridades norte-americanas desde 2002 para conter suspeitos de terrorismo e é alvo de campanhas de entidades de defesa de direitos humanos, por indícios de tortura e maus-tratos contra os presos.

A ordem de Obama é de 22 de janeiro de 2009, mas a prisão continua em funcionamento.

"É cara, desnecessária e serve apenas como propaganda de recrutamento para nossos inimigos", disse Obama no último dia 12, em seu discurso anual sobre o Estado da União.

Problemas legais, oposição no Congresso e dificuldade em conseguir países para acolher os presos são fatores que impediram Obama de cumprir sua promessa. Apesar disso, o número de presos na base caiu nos últimos anos de 242 para 91, número que hoje seria 90 se Bawazir não tivesse se recusado a subir no avião no último momento.

Um preso teimoso

Bawazir chegou a Guantánamo aos 21 anos, após ser preso no Afeganistão. Em 2008, ainda no governo George W. Bush (2001-2008), sua liberação foi aprovada, mas não pôde ser colocada em prática porque Washington se recusava a enviar prisioneiros ao Iêmen, temendo que alguns deles voltassem a representar ameaça aos EUA.

Hoje, não é possível enviar detentos para lá porque o Iêmen está em meio a uma guerra civil.

Nos 14 anos em Guantánamo, Bawazir protagonizou diversas greves de fome. Em uma delas, chegou a pesar 41 quilos, o que levou autoridades a alimentá-lo à força para evitar sua morte.

"Ele está apavorado por ter que ir a um país onde não tem apoio garantido", disse o advogado John Chandler ao explicar a decisão de seu cliente.

Ele disse ter tentado por meses convencer Bawazir a aceitar a oferta e afirmou que ele tinha concordado na noite de terça-feira, mas voltou atrás no dia seguinte.

"Não sei explicar a lógica da posição dele. É simplesmente uma reação muito emocional de um homem que está preso há 14 anos."

Depressão

O advogado afirmou que Bawazir estava deprimido e o comparou ao personagem do filme "Um Sonho de Liberdade" (1994), que não consegue acertar sua vida após passar muitos anos preso.

"Ele sempre foi muito sensível. Quando estava em greve de fome, me disse: 'Tudo que quero é morrer'. Ele não aguentava o lugar", disse Chandler.

As autoridades norte-americanas não informaram o nome do país que aceitou acolher o prisioneiro, mas o advogado disse ser "um país para onde eu iria sem pensar duas vezes".

O desejo de Bawazir era viver em um local onde possui parentes, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita ou Indonésia, mas aparentemente o governo dos EUA não conseguiu fechar acordo com esses países para que recebessem detentos de Guantánamo.

Agora, diante da decisão, há dúvidas sobre o destino do prisioneiro. O advogado disse estar preocupado com a situação, sobretudo depois que Obama deixar a Casa Branca, no começo de 2017.

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Efe