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Em reação anti-Cunha, Câmara elege Rodrigo Maia presidente

Maia lembrou petista Genoino e diz que dialoga com a esquerda

UOL Notícias

Mariana Schreiber

Da BBC Brasil, em Brasília

14/07/2016 01h13

O deputado Rodrigo Maia, do DEM do Rio de Janeiro, foi eleito na madrugada desta quarta-feira presidente da Câmara. Ele comandará a casa até janeiro de 2017, quando terminaria o mandato de Eduardo Cunha, que renunciou na semana passada ao cargo.

O democrata conseguiu unir os votos da antiga e nova oposição em torno de um objetivo comum - derrotar Rogério Rosso, candidato apoiado pelo ex-presidente da Casa Eduardo Cunha. Ambos os nomes são da base do governo Temer e agradavam o Planalto.

Maia acabou ganhando de lavada, com 285 votos, contra 170 de Rosso. No total, a casa tem 513 deputados, mas Cunha, afastado do mandato, não votou.

Dessa forma, o democrata contou com o apoio formal de seus tradicionais aliados (PSDB, PPS e DEM) e de partidos que eram da base de Dilma Rousseff, como PDT e PCdoB. O voto é fechado, mas certamente Maia também recebeu votos do PT, partido ao qual sempre fez oposição. Oficialmente, a legenda da presidente afastada orientou a bancada a se abster.

"Ambos são ruins, mas um, além de ruim, tem o carimbo de Eduardo Cunha", disse Silvio Costa (PTdoB-PE), fiel escudeiro de Dilma, ao defender voto em Maia.

O resultado da eleição para seu sucessor reforça a expectativa de que o peemedebista será cassado em agosto.

Após a vitória, Maia chorou e disse que comandará a Casa com "simplicidade".

Ele venceu com um discurso de volta à política tradicional, com respeito entre governo e oposição, em claro contraponto ao estilo incendiário de Cunha. Ao discursar no plenário pedindo votos, defendeu a importância da Câmara para resolver a crise do país.

"Ali (na cadeira de presidente), serei um de 513. Nós vamos devolver ao plenário a sua soberania. (...) É melhor votar com clama, mas votar matérias que são corretas. É isso que cada um quer", disse, indicando que não seguirá o modelo de Cunha de pautar temas polêmicos em votações aceleradas.

Quando o resultado foi proclamando, os deputados gritaram em coro "Fora, Cunha! Fora, Cunha".

"Infelizmente tentaram colar essa imagem, e não era", disse Rosso, sobre ter sido tachado de candidato do peemedebista.

Questionado pela BBC Brasil se o resultado indicava que a Casa está cansada do estilo incendiário do ex-presidente, o candidato derrotado disse esperar que Maia atue com transparência.

"É, eu acha que tem que ser sensato agora, compartilhar com a Casa as decisões, ter transparência, ter participação do parlamentar, que fica muito angustiado quando já recebe pautas prontas, quando não sabe exatamente o que vai acontecer. Então, que o Rodrigo possa ter essa transparência".

Rosso vinha sendo apontado como favorito devido ao apoio do "centrão". De estilo simpático, o deputado tem bom trânsito com a maioria dos partidos.

Já Maia tem personalidade oposta, é conhecido por sua antipatia, mas tem fama de respeitar acordos.

"O Rodrigo não sorri. Mas o Rodrigo cumpre palavra. O Rodrigo é leal", ele mesmo disse, também ao discursar.

Ressurgimento

A vitória de Maia representa um ressurgimento do DEM, partido de direita liberal que havia encolhido bastante durante os governos petistas.

Também é a volta de sua família ao centro da política nacional - o novo presidente da Câmara é filho de César Maia, político que foi prefeito do Rio por três mandatos. Depois de deixar o comando da capital fluminense com baixa popularidade, não conseguiu se eleger em duas tentativas para o Senado e acabou virando vereador.

Em discurso na tribuna para pedir votos, Maia lembrou de quando esteve pela primeira vez na Casa, ainda adolescente, acompanhando o pai, que foi deputado da Assembléia que redigiu a Constituição de 1988.

"Cheguei com 15, 16 anos quando meu pai era constituinte. Ficava ali ouvindo os discursos de Francisco Dornelles, César Maia, José Serra, José Genoino. Meu pai dizia: senta lá atrás e fica só aprendendo", contou.

No quinto mandato como deputado, e com 46 anos, Maia começou cedo sua vida política. Nasceu no exílio, no Chile, e acompanhou ainda menino a carreira do pai.

Aos 26 anos, foi nomeado secretário de governo da gestão Luiz Paulo Conde (1997-2000) na Prefeitura do Rio. Dois anos depois, em 1998, elegeu-se deputado federal com quase 100 mil votos. Depois, foi reeleito sucessivamente para o cargo. Também foi vice-líder (2003-2005), líder (2005-2007) e presidente do então PFL que, em 2007, virou DEM.

É casado com Patrícia Vasconcellos, enteada do ministro (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e ex-governador do Rio Moreira Franco. Tem quatro filhos. Ressurgimento