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Quando comer tomate vira um luxo: a vida em meio ao cerco em Aleppo, na Síria

Comerciante vende legumes em mercado em Aleppo, Síria - Thaer Mohammed/ AFP
Comerciante vende legumes em mercado em Aleppo, Síria Imagem: Thaer Mohammed/ AFP

15/08/2016 06h46

Abdul Kalif, um professor de inglês que vive em Aleppo, na Síria, teve recentemente um raro prazer.

Ele estava havia 40 dias sem comer legumes, verduras ou frutas. "Hoje eu pude comer tomates", disse Kalif à BBC.

Foi fantástico, teve até um gosto diferente, delicioso, porque pensava que não iria comer verduras ou legumes por anos."

Kalif está entre os dois milhões de pessoas que continuam em Aleppo, que registra uma escalada de combates nas últimas semanas entre forças rebeldes e do governo pelo controle da cidade.

Segundo ativistas que acompanham o conflito, mais de 50 pessoas foram mortas na cidade no último final de semana, a maior parte em ataques aéreos a localidades no entorno da cidade.

A situação de Kalif é uma amostra de como é a vida para civis presos em meio ao confronto, onde abrigar-se é tarefa tão comum que uma explosão foi ouvida durante a entrevista.

Ele contou sobre ter medo de ser morto ao ir ao mercado, e de sua preocupação com a filha de seis meses.

"Ela me deixa otimista. Quando olho nos olhos dela vejo um bom futuro", diz.

Nos últimos anos, o controle de Aleppo está dividido entre o oeste dominado pelo governo e os bairros do leste com predomínio rebelde.

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Pessoas tentam comprar produtos frescos em área dominada pelos rebeldes em Aleppo
Imagem: Abdalrhman Ismail/ Reuters

Falta água e energia para moradores, segundo a Organização das Nações Unidas. A maioria das pessoas ainda na cidade vive em áreas sob controle do governo, mas estima-se que haja cerca de 250 mil em regiões sob influência rebelde.

Em julho, forças do regime de Bashar al-Assad cercaram o leste de Aleppo, cortando as linhas de abastecimento dos opositores. Mas os rebeldes reagiram e conseguiram reabrir um corredor.

Confrontos no domingo aparentemente se concentraram em áreas próximas a esse corredor, e observadores afirmaram que rebeldes lançaram um carro-bomba em um distrito dominado pelo governo.

Poderia ser uma tentativa dos rebeldes, formados por diferentes grupos, de proteger sua cadeia de suprimentos.

Relatos provenientes de áreas sob controle rebelde indicam que a situação pouco melhorou desde o fim do cerco das forças de al-Assad.

"Até agora pouca coisa mudou", disse Salem Sabbagh, feirante no leste de Aleppo, à rede al-Jazeera.

A Rússia, que tem apoiado as forças de al-Assad, disse que irá respeitar um cessar-fogo diário de três horas para o trânsito de ajuda humanitária.

Mas a ONU diz que isso não será suficiente, e pediu uma pausa semanal de 48 horas nos combates.

Em muitos aspectos, Kalif tem sorte de ter acesso a vegetais. Uma moradora disse à BBC que teve que cozinhar folhas de árvores para sobreviver.

Apesar da situação de desespero, a vida segue adiante, afirma o professor inglês Kalif.

Toda manhã eu me levanto para ver o que ocorre, quem será morto. Essa é a vida que temos aqui."

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Ajuda começou a chegar para moradores em áreas dominadas por rebeldes após a abertura de um corredor humanitário
Imagem: Abdalrhman Ismail/ Reuters