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UE registra recorde no fluxo de imigrantes no último mês

Alexander Zemlianichenko/AP
Imagem: Alexander Zemlianichenko/AP

18/08/2015 20h48

Um recorde de 107.500 migrantes cruzaram as fronteiras da União Europeia (UE) no último mês, segundo dados publicados nesta terça-feira (18), mostrando um drástico aumento do número de refugiados e o consequente desenvolvimento de uma crise humanitária no bloco de 28 países-membros.

A agência de fronteiras da UE Frontex comunicou que os números mais recentes ultrapassaram, em muito, o recorde mensal anterior de 70 mil migrantes registrados em junho. Ainda segundo a Frontex, aproximadamente 340 mil imigrantes chegaram ao bloco europeu nos primeiros sete meses deste ano - contra 123.500 de refugiados no mesmo período do ano passado.

"Esta é uma situação de emergência para a Europa, que exige a intervenção de todos os Estados-membros da UE para apoiar as autoridades nacionais que estão recebendo um grande número de migrantes em suas fronteiras", disse o diretor da Frontex, Fabrice Leggeri, em comunicado.

Já o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) afirmou, também nesta terça-feira, que somente na última semana 20.842 migrantes --praticamente todos fugindo de guerra e perseguição em Síria, Afeganistão e Iraque --chegaram à Grécia.

O país europeu que atualmente está lutando pela sobrevivência de sua economia recebeu aproximadamente 160 mil imigrantes em suas costas desde janeiro, de acordo com dados da agência de refugiados da ONU. Somente em julho, cerca de 50 mil refugiados chegaram à Grécia - uns 7 mil a mais do que em todo o ano passado.

"O ritmo de chegadas está continuamente aumentando nas últimas semanas", disse o porta-voz do Acnur, William Spindler, em coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça.

Alemanha espera até 750 mil requerentes de asilo

Mas a onda de migrantes tem impactado a Europa desde suas ilhas no sul até países do norte. A Alemanha, como potência econômica do bloco europeu, tornou-se o principal destino de refugiados, com um em cada três migrantes que chegaram na UE no ano passado buscando asilo em solo alemão. De acordo com uma publicação do jornal alemão Handelsblatt, a Alemanha espera receber até 750 mil requerentes de asilo em 2015.

O chefe da ONU para refugiados, Antonio Guterres, pediu nesta terça-feira por mais solidariedade entre os países europeus no acolhimento de migrantes, insistindo que é "insustentável" para Alemanha, ao lado da Suécia, tomar a responsabilidade pela maioria dos refugiados.

Enquanto isso, França e Reino Unido estão se preparando para assinar um acordo ainda nesta semana para tentar aliviar a crise migrante no porto francês de Calais, onde milhares de pessoas estão desesperadas para cruzar o Canal da Mancha pelo Eurotúnel.

E não há sinais de que o dilúvio de migrantes na Europa vá diminuir. Aproximadamente 250 mil migrantes já cruzaram o Mar Mediterrâneo para Itália e Grécia neste ano, afirmou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), também nesta terça-feira. A estimativa é de que este número passe dos 300 mil até o fim do ano.

Segundo estatísticas do Acnur, 2.440 pessoas morreram neste ano tentando atravessar o mar Mediterrâneo. Esse número inclui os 49 migrantes asfixiados no porão de um navio que transportava 362 pessoas e que naufragou no último fim de semana.

Ilha de grega de Kos vira símbolo para crise migratória

O aumento do número de migrantes é mais visível na endividada Grécia, que em grande parte vem falhando em fornecer qualquer apoio às dezenas de milhares de migrantes atolados em condições precárias.

"Durante meses, o Acnur tem avisado sobre a crescente crise de refugiados nas ilhas gregas", disse Spindler, insistindo que a "infraestrutura de recepção, serviços e procedimentos de registro tanto nas ilhas como no continente devem ser reforçados com urgência".

Até recentemente, a maioria dos migrantes em viagem à Europa se arriscavam na travessia em direção à Itália, mas perigos e dificuldades logísticas direcionaram o fluxo migratório à Grécia. Quando os migrantes chegam às ilhas gregas há pouco ou nada para eles. A maioria está sendo forçada a dormir ao ar livre.

A ilha grega de Kos, que na semana passada presenciou cenas caóticas de policiais armados com cassetetes entrando em conflito com milhares de refugiados, passou a simbolizar a resposta desorganizada da Europa à crise migratória.