Brasileira entre os dez cientistas mais influentes de 2016
Celina Turchi é destacada pela revista "Nature" por estudo que identificou relação entre microcefalia e infecção pelo vírus zika. Pesquisadora classifica descoberta de "novo capítulo da medicina".A epidemiologista brasileira Celina Turchi entrou nesta segunda-feira (19/12) para a lista dos dez cientistas mais influentes do mundo em 2016 segundo a revista Nature. O reconhecimento se deu graças a seu trabalho que permitiu associar a microcefalia à infecção pelo vírus zika, informou a publicação.De acordo com o editor da revista, Richard Monastersky, a escolha das "dez pessoas que importam na ciência" é feita com base nos avanços científicos revelados pelas pesquisas desenvolvidas por elas.Médica pela Universidade Federal de Goiás, mestre em epidemiologia pela London School of Hygiene & Tropical Medicine e doutora pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, a brasileira Turchi desenvolveu pesquisas em diversas instituições nacionais e internacionais.Com experiência na área de epidemiologia das doenças infecciosas, atualmente, Turchi atua como pesquisadora no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães – Fiocruz no estado de Pernambuco.Em entrevista à agência de notícias Lusa, Turchi atribuiu a indicação da Nature a todo o grupo de pesquisadores que participou da investigação sobre o zika. "São cientistas que têm muito interesse, que se empenharam muito, trabalharam em equipes multidisciplinares, com múltiplas universidades e institutos de pesquisa. Esta distinção é para todos os componentes desse grupo. Sinto que estou só representando um grupo de cientistas e profissionais de saúde do Brasil", disse.Avanço científicoOs resultados preliminares do estudo, publicados em setembro pela revista Lancet Infectious Diseases, demonstram que a epidemia de microcefalia registrada no Brasil em 2015 é resultado da infecção congênita pelo vírus zika.O estudo comparou os 32 recém-nascidos com microcefalia nascidos em oito hospitais públicos do Recife, em Pernambuco, entre janeiro e maio deste ano, com 62 bebês nascidos sem microcefalia nos mesmos hospitais e no mesmo período. Os cientistas recolheram amostras de sangue dos dois grupos e amostras de líquido céfalo-raquidiano dos bebês com a doença, que foram submetidas a análises para o vírus zika e os anticorpos para o mesmo vírus.A conclusão foi que 13 dos 32 casos (41%) tiveram resultados positivos para a presença do vírus no sangue ou no líquido cefalorraquidiano, contra nenhum dos 63 bebês saudáveis. "Concluímos que a epidemia de microcefalia é o resultado da infecção congênita por zika", escreveram os autores no artigo então publicado. O estudo continua em curso e deverá incluir 200 casos de recém-nascidos com microcefalia e 400 sem a doença, o que permitirá quantificar o risco com maior precisão e investigar o papel de outros fatores na epidemia de microcefalia."Pensar que em menos de um ano se estabelece o vínculo causal com uma doença e se levanta a hipótese e se consegue estabelecer o vínculo de associação entre a infecção congênita e a doença. É um novo capítulo da medicina", disse Turchi, lembrando que esse conhecimento é útil para que se invista na prevenção.A cientista brasileira, no entanto, lamentou o fato de que a mesma rapidez não se verifica do ponto de vista da saúde pública."Do ponto de vista das ações e aporte de recursos, ainda não temos a preparação suficiente para respostas imediatas. Do ponto de vista da sociedade, ainda é precário. [A microcefalia] é uma carga social e para os serviços de saúde", disse, comentado a incapacidade provocada pela doença nas crianças, o peso para as famílias e o aumento da procura dos serviços de saúde.Cientistas influentes Além de Turchi, também constam na lista a porta-voz do LIGO (Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory), Gabriela Gonzalez, pela descoberta das ondas gravitacionais; o astrônomo Guillem Anglada-Escudé por descobrir um planeta com tamanho semelhante à Terra na órbita de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol.Também aparecem na publicação Demis Hassabis, cofundador da empresa de inteligência artificial DeepMind; o especialista em fertilidade John Zhang; Kevin Esvelt, que alertou para os perigos de uma técnica que permite forçar um gene a espalhar-se mais depressa do que o normal por uma população; bem como Terry Hughes, que alertou para a descoloração da Grande Barreira de Coral, na Austrália.Outros cientistas na lista dos mais influentes são o químico atmosférico Guus Velders; a física Elena Long; e Alexandra Elbakyan pelo seu site Sci-Hub, que desafiou as publicações científicas convencionais ao disponibilizar ilegalmente na internet 60 milhões de artigos.TMS/lusa
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