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Análise: Trump põe Otan contra a parede, e pressão parece estar funcionando

11.jul.2018 - Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao lado da premiê da Alemanha, Angela Merkel, e do secretário geral da Otan, Jens Stoltenberg - AFP PHOTO / GEOFFROY VAN DER HASSELT
11.jul.2018 - Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao lado da premiê da Alemanha, Angela Merkel, e do secretário geral da Otan, Jens Stoltenberg Imagem: AFP PHOTO / GEOFFROY VAN DER HASSELT

12/07/2018 08h00

Presidente americano muda agenda de cúpula em Bruxelas e força reunião de emergência. Ele quer que os parceiros europeus gastem tanto quanto os EUA com defesa. E, entre acusações e ofensas, parece estar conseguindo

A pressão do presidente americano, Donald Trump, para que seus parceiros europeus elevem sua contribuição financeira à Otan levou nesta quinta-feira (12/07) a uma rara interrupção da agenda da Aliança Atlântica, que realiza cúpula em Bruxelas.

O secretário-geral da Otan, Jeans Stoltenberg, se viu forçado a convocar uma reunião de emergência, em meio às repetidas acusações de Trump, que chegara a chamar os aliados europeus de delinquentes na véspera.

A reunião extraordinária expôs novamente o momento delicado nas relações transatlânticas, após um primeiro dia de cúpula em que os países chegaram a assinar uma declaração conjunta. O assunto gastos parecia ter ficado para trás, com o comprometimento dos países-membros de avançar rumo a um consenso.

Mas na reunião desta quinta, Trump mostrou que ainda não estava satisfeito: interrompeu a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, quando eles já avançavam sobre a agenda do dia, sobre Ucrânia e Geórgia. Um cenário descrito como caótico por diplomatas.

O presidente americano voltou a pressionar os europeus a elevarem seus gastos para 4% do PIB nacional, o dobro do que os países prometeram atingir até 2024, de 2%. E isso forçou Stoltenberg a pedir que os líderes de Ucrânia e Geórgia se retirassem da sala, para que se pudesse discutir sobre orçamento.

Durante toda a cúpula em Bruxelas, Trump adotou um tom agressivo, questionando os valores de uma aliança que definiu décadas de política externa americana, fazendo acusações à Alemanha sobre suas relações com a Rússia e defendendo, de forma surpreendente, um aumento ainda maior nos gastos de defesa dos europeus.

Foi só ao final, nesta quinta-feira, que ele adotou um tom mais conciliatório. Os países aliados, disse, "reforçaram seu compromisso" com a despesa em Defesa "como nunca tinham feito antes".

"A Otan é agora uma máquina bem afinada", assegurou Trump durante entrevista coletiva convocada de urgência. Ele disse ainda que seu comprometimento com a aliança segue "muito forte", apesar dos rumores de que ele teria ameaçado abandoná-la.

Trump, que um dia declarou a Otan "obsoleta", disse nesta quinta: "Eu acredito na Otan. Eu estava extremamente descontente com o que estava acontecendo, e eles aumentaram substancialmente seu comprometimento".

Merkel, por sua vez, disse ter havido um comprometimento de todas as partes na reunião de emergência. Mas também não deu detalhes sobre quando de fato um aumento de gastos poderá ocorrer. Segundo ela, Trump, na verdade, trouxe de volta à pauta um assunto que já estava sendo discutido há meses.

Segundo Stoltenberg, após o fim da Guerra Fria, os países foram reduzindo seus gastos com defesa à medida que as tensões se aliviavam – agora, é necessário aumentá-los, já que as tensões voltaram a crescer, defendeu.

Os gastos dos Estados Unidos com defesa foram de 3,6% do PIB nacional em 2017. A Alemanha, por outro lado, gastou apenas 1,24% e, para 2024, promete não mais que 1,5% – mas considera que assim já está se aproximando do objetivo de 2% acordado pelos aliados.

Segundo a Otan, apenas oito países devem cumprir a meta dos 2% neste ano: além dos Estados Unidos, Grécia, Reino Unido, Polônia, Romênia, Lituânia, Letônia e Estônia.