Legião de mexicanas vive à espera dos maridos que emigraram aos EUA
Paula Escalada Medrano.
Cidade do México, 18 mar (EFE).- São mulheres que ficaram sozinhas no limbo e à espera, porque seus maridos emigraram para os Estados Unidos, e hoje protagonizam uma exposição intitulada "Penélopes" em que o fotógrafo Héctor Mediavilla conta suas complicadas histórias.
Mulheres lutadoras como Lidia Gutiérrez, de 58 anos, cujo marido foi há duas décadas para os Estados Unidos deixando-a com cinco filhos, apesar de seus pedidos para que não partisse.
"Eu já não tinha palavras nem argumentos para pedir que ele não fosse, porque não era a primeira vez, mas eu pressentia que desta vez ele iria por longo tempo", contou à Agência Efe a mulher que esteve a ponto de ser internada em um hospital psiquiátrico pela tensão que lhe causou a partida.
Segundo números oficiais do México, uma média de 390 mil mexicanos emigra anualmente aos Estados Unidos, três quartos deles homens que costumam ficar nesse país deixando para trás suas famílias a que lhes passam uma pensão, ou não.
O marido de Lidia, que nunca veio visitá-la porque era imigrante ilegal, lhe enviava 4 mil pesos ao mês (R$ 623) e, quando economizava, um pouco mais que ela usava nas emergências. Foi assim durante 19 anos, até que ele retornou.
"Ele foi para os Estados Unidos supostamente para comprar uma casa para mim mas, no ano passado, ele voltou e não teve casa nem nada, e tudo terminou em divórcio", disse Lidia. Já era tarde demais e aquele homem "era um desconhecido".
Proveniente de uma família de 12 irmãos, a mexicana assegura que seu pai nunca precisou emigrar e nunca ficaram sem comer. "Minha era mãe batalhadora, meu pai, batalhador. Isso é o que conta, a família", afirmou.
"Em muitos casos elas dizem 'prefiro que fiquemos aqui comendo feijões', mas outras vezes eles pensam que ali vão conseguir algo que aqui não podem", comentou à Efe o fotógrafo Mediavilla sobre o tema de sua obra.
Através de vídeos e fotografias, o artista fala sobre a fragmentação da família, das mulheres que esperam por seus homens que se foram, em teoria, para buscar um futuro melhor para a família.
Mediavilla começou a se aproximar das "Penélopes" em 2009, quando conheceu duas meninas que sofreram o impacto migratório: Beatriz Sánchez, que com três meses de gravidez perdeu a seu companheiro que morreu cruzando o Rio Bravo, e sua irmã Claudia, cujo marido foi trabalhar e depois de um ano e meio lhe disse que não retornaria.
"Chamou muito minha atenção, perguntei e me dei conta de que era uma situação muito normal, demais normal", apontou o fotógrafo.
Apesar do comum, não há dados oficiais sobre mulheres abandonadas, que muitas vezes são invisíveis e não recebem qualquer apoio institucional.
Durante cerca de dois anos, Mediavilla percorreu vários estados do centro do país escutando as histórias dessas mulheres, publicando-as em um blog e, agora, na exposição que pode ser vista no Centro Cultural da Espanha da Cidade do México.
De sua experiência, o fotógrafo pôde comprovar que embora cada uma tenha sua história particular, todas têm algo em comum: a "capacidade de luta", a "esperança dentro da desesperança".
Compartilham esses traços, disse, "sobretudo porque a maioria é mãe, pela vontade, a força e a esperança de levar seus filhos adiante", assim como pelo "orgulho de dizer 'Vamos continuar tentando lutar, apesar do sonho que tinha com meu parceiro, (ele) não está mais (aqui)'".
Muitas dessas mulheres, além disso, estão "em uma espécie de limbo", em um hiato, porque não sabem se os maridos vão voltar ou não e, portanto, não podem refazer suas vidas. Como a Penélope de "Odisseia" que desfazia à noite o que tecia durante o dia, esperando Ulisses.
"As instituições governamentais deveriam reconhecer o status da mulher abandonada por seu marido. Muitas atravessam um grande problema porque não podem se divorciar, e outras ficam sob a vigilância da sogra", contou.
María Eugenia d'Aubeterre, antropóloga na Benemérita Universidade Autônoma de Puebla, estuda há 20 anos a imigração e seu impacto nas comunidades.
"São muitos os efeitos contraditórios da migração nas vidas. A figura de Penélope é a mulher que tece e destece, mas pode ser sua própria mortalha, porque são mulheres que estão zelando por seus filhos, por suas comunidades", opinou.
Essas Penélopes "não estão esperando simplesmente os dólares chegarem", pois se transformam em protagonistas de sua família, são as que precisam manter a casa sozinhas, cuidar das crianças e da terra. Mães, mas também avós e viúvas porque seus maridos tentaram de atravessar a fronteira e ficaram no caminho.
"O que está por trás de tudo isso não é que as pessoas gostam de emigrar para conhecer mundo; essas pessoas emigram porque foram levados a essas condições", contou.
Além disso, essa situação costuma ser herdada nas famílias, pois muitas vezes os filhos de pais que se mudaram também acabam partindo.
De fato, um dos filhos de Lidia Gutiérrez também foi para os EUA, já faz uma década. Com ele, Lidia sempre fala; ele sim, se preocupa com ela - diz - e ele continua enviando dinheiro, dólares que, no México, ajudam a aguentar sua ausência.
Cidade do México, 18 mar (EFE).- São mulheres que ficaram sozinhas no limbo e à espera, porque seus maridos emigraram para os Estados Unidos, e hoje protagonizam uma exposição intitulada "Penélopes" em que o fotógrafo Héctor Mediavilla conta suas complicadas histórias.
Mulheres lutadoras como Lidia Gutiérrez, de 58 anos, cujo marido foi há duas décadas para os Estados Unidos deixando-a com cinco filhos, apesar de seus pedidos para que não partisse.
"Eu já não tinha palavras nem argumentos para pedir que ele não fosse, porque não era a primeira vez, mas eu pressentia que desta vez ele iria por longo tempo", contou à Agência Efe a mulher que esteve a ponto de ser internada em um hospital psiquiátrico pela tensão que lhe causou a partida.
Segundo números oficiais do México, uma média de 390 mil mexicanos emigra anualmente aos Estados Unidos, três quartos deles homens que costumam ficar nesse país deixando para trás suas famílias a que lhes passam uma pensão, ou não.
O marido de Lidia, que nunca veio visitá-la porque era imigrante ilegal, lhe enviava 4 mil pesos ao mês (R$ 623) e, quando economizava, um pouco mais que ela usava nas emergências. Foi assim durante 19 anos, até que ele retornou.
"Ele foi para os Estados Unidos supostamente para comprar uma casa para mim mas, no ano passado, ele voltou e não teve casa nem nada, e tudo terminou em divórcio", disse Lidia. Já era tarde demais e aquele homem "era um desconhecido".
Proveniente de uma família de 12 irmãos, a mexicana assegura que seu pai nunca precisou emigrar e nunca ficaram sem comer. "Minha era mãe batalhadora, meu pai, batalhador. Isso é o que conta, a família", afirmou.
"Em muitos casos elas dizem 'prefiro que fiquemos aqui comendo feijões', mas outras vezes eles pensam que ali vão conseguir algo que aqui não podem", comentou à Efe o fotógrafo Mediavilla sobre o tema de sua obra.
Através de vídeos e fotografias, o artista fala sobre a fragmentação da família, das mulheres que esperam por seus homens que se foram, em teoria, para buscar um futuro melhor para a família.
Mediavilla começou a se aproximar das "Penélopes" em 2009, quando conheceu duas meninas que sofreram o impacto migratório: Beatriz Sánchez, que com três meses de gravidez perdeu a seu companheiro que morreu cruzando o Rio Bravo, e sua irmã Claudia, cujo marido foi trabalhar e depois de um ano e meio lhe disse que não retornaria.
"Chamou muito minha atenção, perguntei e me dei conta de que era uma situação muito normal, demais normal", apontou o fotógrafo.
Apesar do comum, não há dados oficiais sobre mulheres abandonadas, que muitas vezes são invisíveis e não recebem qualquer apoio institucional.
Durante cerca de dois anos, Mediavilla percorreu vários estados do centro do país escutando as histórias dessas mulheres, publicando-as em um blog e, agora, na exposição que pode ser vista no Centro Cultural da Espanha da Cidade do México.
De sua experiência, o fotógrafo pôde comprovar que embora cada uma tenha sua história particular, todas têm algo em comum: a "capacidade de luta", a "esperança dentro da desesperança".
Compartilham esses traços, disse, "sobretudo porque a maioria é mãe, pela vontade, a força e a esperança de levar seus filhos adiante", assim como pelo "orgulho de dizer 'Vamos continuar tentando lutar, apesar do sonho que tinha com meu parceiro, (ele) não está mais (aqui)'".
Muitas dessas mulheres, além disso, estão "em uma espécie de limbo", em um hiato, porque não sabem se os maridos vão voltar ou não e, portanto, não podem refazer suas vidas. Como a Penélope de "Odisseia" que desfazia à noite o que tecia durante o dia, esperando Ulisses.
"As instituições governamentais deveriam reconhecer o status da mulher abandonada por seu marido. Muitas atravessam um grande problema porque não podem se divorciar, e outras ficam sob a vigilância da sogra", contou.
María Eugenia d'Aubeterre, antropóloga na Benemérita Universidade Autônoma de Puebla, estuda há 20 anos a imigração e seu impacto nas comunidades.
"São muitos os efeitos contraditórios da migração nas vidas. A figura de Penélope é a mulher que tece e destece, mas pode ser sua própria mortalha, porque são mulheres que estão zelando por seus filhos, por suas comunidades", opinou.
Essas Penélopes "não estão esperando simplesmente os dólares chegarem", pois se transformam em protagonistas de sua família, são as que precisam manter a casa sozinhas, cuidar das crianças e da terra. Mães, mas também avós e viúvas porque seus maridos tentaram de atravessar a fronteira e ficaram no caminho.
"O que está por trás de tudo isso não é que as pessoas gostam de emigrar para conhecer mundo; essas pessoas emigram porque foram levados a essas condições", contou.
Além disso, essa situação costuma ser herdada nas famílias, pois muitas vezes os filhos de pais que se mudaram também acabam partindo.
De fato, um dos filhos de Lidia Gutiérrez também foi para os EUA, já faz uma década. Com ele, Lidia sempre fala; ele sim, se preocupa com ela - diz - e ele continua enviando dinheiro, dólares que, no México, ajudam a aguentar sua ausência.
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