Porto que recebeu 1 milhão de escravos é declarado patrimônio pela Unesco
O Cais do Valongo, um antigo porto do Rio de Janeiro que recebeu cerca de um milhão de escravos e que hoje é só um local de escavação arqueológica, foi reconhecido nesta quarta-feira pela Unesco como patrimônio da diáspora africana.
A Unesco destacou o local arqueológico como parte da chamada "Rota do Escravo", um projeto lançado pelo órgão da ONU em 2006 para destacar o patrimônio material e imaterial relacionado ao tráfico de escravos no mundo, informou a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Segundo as autoridades brasileiras, o porto foi o que mais escravos africanos recebeu em toda a América.
"O projeto Rota do Escravo fixou (no Rio de Janeiro) pela primeira vez no mundo uma placa reconhecendo um local como patrimônio da memória da diáspora africana", disse o chefe da Seção de Diálogo Intercultural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Ali Moussa Ive, citado no comunicado.
"É um momento muito importante. Agrada-me muito o destaque que o Rio de Janeiro está dando a um dos mais importantes locais da memória da diáspora africana e do tráfico africanos escravizados", afirmou Ive, diretor do Projeto Rota do Escravo e que liderou uma comissão da Unesco na visita Rio de Janeiro.
A decisão da Unesco foi simultânea a um ato promovido nesta quarta-feira pela Prefeitura de Rio de instalação de uma placa que concede ao Cais do Valongo o título de "patrimônio cultural" da cidade.
A data marca também a comemoração do Dia da Consciência Negra, feriado em alguns estados brasileiros que lembra o assassinato em 1695 de Zumbi dois Palmares, o negro que governou uma "república" de escravos livres no nordeste.
De acordo com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), vinculado à Prefeitura, tanto o reconhecimento da Unesco como o da Prefeitura reforçam a campanha do Rio de Janeiro para promover a candidatura do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial da Humanidade, título declarado pela Unesco.
O Cais do Valongo, situado próximo ao atual porto do Rio de Janeiro e retratado em várias pinturas do francês Jean-Baptiste Debret, era o píer no qual eram desembarcados os escravos vindos da África, principalmente de Angola, Congo e Moçambique.
Segundo registros históricos, pelo local passaram entre 1790 e 1830 cerca de 706 mil escravos africanos, mas os historiadores consideram que o número pode chegar a um milhão se for levado em conta que operava desde muito antes.
O píer foi desativado em 1831, quando foram assinadas as primeiras leis que encaminharam a abolição da escravidão no país, e rebatizado em 1843 como Píer da Princesa por ter servido de local de desembarque de Tereza Cristina de Bourbon, a futura esposa de Pedro II, o segundo imperador do Brasil.
A área foi aterrada em 1911 para uma reforma urbanística e redescoberta em 2011, quando começaram as obras de remodelação do porto do Rio de Janeiro.
"O Rio de Janeiro tem muito orgulho de suas raízes e de nossos antepassados negros. Por isso queremos que o Cais do Valongo seja reconhecido como Patrimônio Mundial", afirmou o presidente do IRPH, Washington Fajardo.
Segundo Milton Guran, representante do Brasil no Comitê Cientista do projeto Rota do Escravo da Unesco, ao longo de quase quatro séculos de escravidão o Rio de Janeiro recebeu quase 20% de todos os africanos escravizados que chegaram à América.
"Isso transforma o píer em uma referência da maior transferência forçada de população da história", afirmou Guran, que espera que o local seja declarado Patrimônio da Humanidade até 2015, quando Rio de Janeiro completará 450 anos.
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