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Jornais da Venezuela clamam por ajuda do Legislativo diante da falta de papel

Em Caracas

31/05/2014 21h22

Um total de 84 jornais de cidades do interior da Venezuela pediram uma "reunião urgente" com o presidente do parlamento, o governista Diosdado Cabello, para que ajude a acabar com o desabastecimento de papel.

Em uma resolução divulgada neste sábado pela Câmara Venezuelana de Jornais os donos desses 84 meios disseram que recorrem a Cabello já que o governo fechou as portas para eles.

O desabastecimento de papel "ameaça" estes membros da Câmara de Jornais da Venezuela, "instalados e operando há anos no interior do país" e que "cobrem toda a geografia nacional, chegando até aos povos mais distantes" com uma tiragem diária de "mais de 2.500.000 exemplares", sustenta o texto.

Estes 84 veículos empregam, segundo a Câmara, "mais pessoas do que todos os jornais de Caracas" e sua venda diária de exemplares e cobertura fornecem "muitas informações, contribuindo com isso, de maneira determinante, à formação da opinião pública nacional".

O texto pede que Cabello conceda "uma reunião para que, em conhecimento pleno da situação use seus poderes" para resolver a situação e para que possam "trabalhar em paz, sem desassossego" pelo futuro de seus trabalhadores e suas empresas e, "acima de tudo seguir servindo à Venezuela, à liberdade e à democracia".

O último clamor atendido do setor remonta 14 de maio, quando o jornal "El Universal" de Caracas informou que o governo tinha autorizado a aquisição de divisas necessárias para pagar 600 toneladas de papel.

"'El Universal' recebeu autorização para adquirir as divisas requeridas a fim de nacionalizar as 600 toneladas de papel jornal, propriedade do diário, que tinham chegado ao país em janeiro deste ano", informou o próprio veículo na edição dessa data.

Estudantes marcham descalços pelo "sofrimento da Venezuela"

Desde 2003, a Venezuela vive um controle de câmbio que deixa nas mãos do Estado o monopólio da administração e comercialização de divisas.

O "El Universal" anunciou em 5 de maio que contava com papel para, no máximo, duas semanas, apesar de ter bobinas de sua propriedade em um porto do país aguardando passar pela alfândega, situação que atribuiu ao "insólito atraso" por parte do governo na entrega de divisas.

Para os donos dos jornais, os atrasos na atribuição de dólares obedecem a uma tentativa governamental de "silenciar" as vozes críticas, enquanto o governo os acusou de realizar "chantagem política" com as denúncias de escassez de papel.

A Associação Colombiana de Editores de Jornais e Meios Informativos (Andiarios) enviou 52 toneladas de papel no mês passado para alguns jornais venezuelanos, em solidariedade pela situação que atravessam.

Na última quarta-feira, a brasileira Associação Nacional de Jornais (ANJ) lançou um comunicado se posicionando contra a situação vivida pela imprensa escrita na Venezuela, e informando que enviaria ao presidente Nicolás Maduro uma carta para protestar "contra as dificuldades para concessão de licença para a importação de papel para os jornais e solicitando que cessem suas ações contra a imprensa".

O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa da Venezuela divulgou nesta semana uma carta pública dirigida a Maduro na qual solicitavam que fizesse o necessário para que os jornais normalizem seu acesso à provisão de papel, cujo desabastecimento está condicionando sua circulação.