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Palmira poderá ser reconstruída, diz presidente do Louvre

Em Paris

19/11/2015 15h20

A humanidade não perdeu para sempre a cidade síria de Palmira nem outros vestígios milenares que o Estado Islâmico tenta fazer desaparecer, pois podem ser reconstruídos, disse à Agência Efe o presidente do Museu do Louvre, Jean-Luc Martínez, autor de um relatório sobre como proteger o patrimônio dos países em guerra.

"Para as pessoas que querem destruir o passado, nós propomos construir o futuro. Trabalhamos já para o pós-conflito", afirmou o historiador da arte e arqueólogo em entrevista exclusiva à Agência Efe.

"A escala humana, o tempo de destruição é muito limitado e Palmira é uma cidade de vários milênios. Não vão ser dois ou três anos de destruição que a apagarão. Isso não é possível", contemporizou.

Enquanto não chega o momento de atuar no terreno, a reconstrução pode ser preparada à distância, com a identificação das obras, a listagem dos arquivos, a reconstrução em 3D, enumerou Martínez, consciente que este trabalho "levará tempo", por isso que, para ser eficaz, deverá fazer parte de um projeto a longo prazo.

Enquanto isso, lembrou, "Palmira vive já fora de Palmira". Há uma sala no Louvre dedicada a essa cidade Patrimônio da Humanidade, disse o presidente da pinacoteca mais visitada do mundo, por onde passam a cada ano mais de nove milhões de pessoas.

"O dinheiro existe", e é preciso reuni-lo não em doações, mas em um "fundo de dotação mundial" cujos juros custeiem os projetos, explicou, ao lembrar que existem precedentes, como os palácios de São Petersburgo devastados na Segunda Guerra Mundial pelo exército alemão, reconstruídos e redecorados graças a arquivos e vestígios.

Em seu relatório, encomendado pelo presidente francês, François Hollande, em julho, Martínez cita trabalhos de memória semelhantes aos executados em meados de século 20 em Dresden, na Alemanha; em Varsóvia e em Tóquio.

Martínez entregou suas conclusões ao chefe de Estado em 9 de novembro, dias antes dos ataques do EI em Paris que deixaram 129 mortos.

No contexto da "implacável" guerra que a França acaba de anunciar contra o EI, as 50 medidas que Martínez propôs ilustram como "da mesma maneira que é preciso uma coalizão militar, é preciso criar uma coalizão internacional de especialistas, solidários com o patrimônio dos países em perigo".

Para isso, nos dois primeiros dos cinco eixos de ação propostos, pediu que a França reforce seu compromisso de proteção do patrimônio e que lance um pedido solene que mobilize a comunidade internacional. À isso se segue a luta contra o tráfico de obras, a necessidade de conservar a memória dos lugares monumentais e de reforçar a cooperação entre museus.

Em seu diagnóstico global, o documento examina os instrumentos adotados na ONU, na Unesco, em Haia e em outras instâncias para proteger o patrimônio em perigo e os erros que permitem, por exemplo, que o tráfico de obras de arte seja uma fonte de financiamento do EI.

Após examinar país por país a "destruição voluntária do patrimônio, sem precedentes na história recente", do Camboja a Afeganistão, Líbano, Iraque, Líbia, Iêmen e Síria, o relatório sugere como, quando e com que meios é possível protegê-los.

Na entrevista o diretor do Louvre destacou a ideia de criar "Museus Refúgio", que protejam bens de países em guerra a pedido de um Estado soberano, como fez o governo republicano espanhol na Guerra Civil quando pediu ajuda à França, e de "Museus de obras expropriadas", enquanto as obras de arte não podem voltar a seus países.

Ele propôs também deter as escavações ilegais, formar especialistas de países em conflito, multiplicar exposições com obras roubadas para mostrá-las por todo o mundo, o que ajudaria a torná-las "invendáveis", e elaborar uma "lista negra de 'paraísos da ocultação'" de patrimônio.

Martínez apresentará na próxima terça-feira seu plano em Bruxelas, no Conselho de ministros de Cultura, e pedirá também a criação imediata de uma única base de dados de bens roubados e a harmonizar as legislações dos países-membros.