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Ex-capitão que liderou rebelião em quartel é conhecido opositor na Venezuela

Héctor Pereira

Em Caracas

06/08/2017 17h08

O ex-capitão da Guarda Nacional da Venezuela (GNB) que liderou neste domingo (6) uma rebelião contra o governo do país em um quartel e ganhou a atenção da comunidade internacional protagonizou assim um novo capítulo de seu histórico de tentativas de minar a fidelidade dos militares ao presidente Nicolás Maduro.

Juan Carlos Caguaripano Scott está afastado da GNB por traição à pátria e rebelião em 2014, quando tornou público seu desprezo à chamada revolução bolivariana após a represália aos protestos antigovernamentais daquele ano, que tiveram saldo de 43 mortes, segundo um balanço oficial.

A partir daquele momento, ele permaneceu na clandestinidade - alguns dizem que esteve fora do país - e foi apontado como um dos artífices de um plano golpista frustrado em 2015 que incluía matar Maduro, segundo o chavismo governante, e recebeu o nome de "Operação Jericó".

Identificando-se como capitão da ativa da GNB, Caguaripano publicou em abril de 2014 nas redes sociais seu primeiro "apelo à reflexão" para a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), em que apontava "insolentes razões legais e constitucionais para intervir".

Entre elas ele citou "a ocupação, intromissão e violação da soberania nacional por parte de agentes cubanos e grupos narcoterroristas estrangeiros em todos os âmbitos da administração pública e militar".

Caguaripano também disse que havia militares "cumprindo ordens abusivas e arbitrárias, protegendo entidades (grupos de defesa da revolução, às vezes armados)".

Além disso, o capitão manifestou repúdio à "formação vergonhosa de grupos civis armados de guerrilha urbana e rural em todo o território nacional, dispostos a matar e massacrar em defesa de um grupo politico sob a proteção de autoridades legítimas" e a "destruição sistemática da identidade militar".

O militar denunciou "o sequestro e manipulação descarada dos poderes Eleitoral e Judiciário", o que gerou um "conflito que pouco a pouco vai se transformando diante de nós em uma guerra civil".

Agora, sob a alcunha de "comandante da operação David Carabobo", disse Caguaripano declarou-se "em rebeldia" contra "a tirania assassina de Nicolás Maduro" junto com um grupo de 20 homens com trajes militares e armados, com quem tomou o quartel conhecido como Forte Paramacay no estado de Carabobo, no centro-norte do país.

Em um vídeo que "viralizou" na Venezuela, Caguaripano reiterou, como em 2014, que não conclamava um golpe de Estado, mas uma "ação cívica militar para restabelecer a ordem constitucional" e para "salvar o país da destruição total, para deter os assassinatos" de jovens e familiares.

Também como três anos atrás, ele garantiu ter o apoio de integrantes das quatro forças componentes da FANB, de "homens e mulheres valentes amantes da liberdade" unidos "mais do que nunca com o povo da Venezuela ".

No entanto, o levante deste domingo foi neutralizado por outra ala das Forças Armadas, e agora há total controle da instituição militar, segundo o dirigente chavista Diosdado Cabello.

Caguaripano afirmou em 2014, durante uma entrevista à rede de televisão "CNN en Español", que havia "muitos" militares insatisfeitos com o governo de Maduro - oito em cada dez, segundo os seus cálculos - que estavam trabalhando em uma "saída" e que continuariam a fazê-lo "apesar da perseguição".

O capitão ressaltou que, devido às suas posições críticas, o Alto Comando da FANB punia estes militares atrasando promoções, com designação para trabalhos em "prisões, fronteiras e lugares mais remotos que ninguém deseja" e que inclusive foi acusado em 2008 de conspiração, o que o levou a ser detido.

Para o chavismo, movimento que governa o país desde 1999, ele não é mais do que um agente indisciplinado com planos de insurreição, que conta com a cumplicidade de outros militares de alta patente - alguns detidos e outros foragidos da Justiça venezuelana - e de vários líderes opositores, como o presidente do Parlamento, o opositor Julio Borges.

Diosdado Cabello declarou em 2015 que Caguaripano tinha tido conexões com alguns membros dos quatro componentes da FANB no ano anterior para promover um levante, uma estratégia que tinha "vínculos internacionais" para tirar Maduro do poder.

"Não vão vencer (...) durarão 25 minutos e é muito", advertiu na ocasião o poderoso parlamentar governista.

A FANB informou rapidamente que o levante de hoje contra o governo foi obra de civis disfarçados de militares e que Caguaripano foi afastado da instituição por traição à pátria e rebelião em 2014, quando "fugiu do país e recebeu proteção em Miami, nos Estados Unidos".