ONU aprova ação militar francesa na República Centro-Africana após confrontos
Por Emmanuel Braun e Paul-Marin Ngoupana
BANGUI, 5 Dez (Reuters) - Milícias rivais travaram combates intensos na capital da República Centro-Africana nesta quinta-feira, e a Organização das Nações Unidas (ONU) autorizou uma ação militar francesa para interromper a violência entre muçulmanos e cristãos e evitar um massacre de civis.
Testemunhas no local, entre elas uma da Reuters, disseram que pelo menos 105 pessoas morreram nos combates entre antigos rebeldes, que agora estão no comando do país, e um conjunto de milícias e rebeldes leais ao presidente derrubado François Bozizé. Muitos dos mortos eram civis.
Cientes do genocídio de Ruanda em 1994, quando centenas de milhares foram mortos enquanto o mundo assistia, os Estados Unidos e outras potências ocidentais pediram uma ação internacional para evitar que a anarquia na República Centro-Africana leve a atrocidades contra a população civil.
A maior parte dos combates em Bangui perdeu a intensidade até o meio-dia, mas as ruas permaneciam desertas e houve relatos de abusos durante os conflitos.
"Recebemos vários relatos de muitas fontes confiáveis dizendo que houve execuções", afirmou Joanne Mariner, especialista em crise da Anistia Internacional, em Bangui.
"Isso mostra a necessidade da chegada de tropas internacionais para dar segurança. A situação está rapidamente saindo do controle", acrescentou.
Ao todo, 53 corpos foram levados a uma mesquita de Bangui. Muitas vítimas pareciam ter sido golpeadas ou cortadas até a morte, disse uma testemunha da Reuters no local.
Samuel Hanryon, que trabalha para a organização Médicos Sem Fronteiras num hospital de Bangui, disse haver outros 52 corpos no necrotério do lugar.
A ex-colônia francesa se encontra em estado de conflito desde que rebeldes muçulmanos tomaram o poder em março.
Nesta quinta-feira, uma força de paz africana, que protegia centenas de civis na sua base, foi atacada pelos antigos rebeldes muçulmanos, segundo uma testemunha.
Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU autorizou tropas francesas e africanas a usar a força para proteger civis. Um embargo de armas foi imposto ao país e o conselho pediu que a ONU preparasse uma possível missão de manutenção de paz.
A França tem cerca de 650 soldados no aeroporto de Bangui. Desses, 250 foram enviados para a cidade nesta quinta-feira para proteger interesses e cidadãos franceses. O chanceler francês, Laurent Fabius, disse que o número de homens pode alcançar 1.200 com relativa rapidez.
A República Centro-Africana é rica em ouro, diamantes e urânio, mas décadas de instabilidade têm mantido o país em crise.
O líder da antiga aliança rebelde Seleka, Michel Djotodia, é agora presidente interino, mas está com dificuldades para manter os seus combatentes sob controle, muitos dos quais são atiradores dos vizinhos Chade e Sudão.
O governo acusa os simpatizantes do ex-presidente Bozizé de preparar o ataque e ordenou um toque de recolher na madrugada.
(Reportagem adicional de David Lewis, em Dacar; de Marion Douet e John Irish, em Paris; de Joe Bavier e Ange Aboa, em Abidjan; de Michelle Nichols, na ONU)
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