Carlos Madeiro

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Reportagem

Cid Gomes vê acúmulo de poder do PT, segue irmão e rompe com governo do CE

O senador Cid Gomes (PSB) rompeu com o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT). A ruptura, após 18 anos de aliança estadual, foi selada após uma reunião entre os dois na sexta-feira (15), em Fortaleza, e o motivo seria o acúmulo do poder do PT no estado.

Com o rompimento, Cid segue os passos do irmão, o ex-governador Ciro Gomes (PDT), que não só é oposição, como tem se dedicado a criticar o PT no estado. "O PT é hoje o mal maior do Ceará", disse ao UOL em julho.

Segundo divulgado inicialmente pelo site 'O Otimista", e confirmado pela coluna, Cid está insatisfeito especialmente com a escolha de um nome do PT como candidato do governo a presidente da Assembleia Legislativa. No caso, o escolhido foi Fernando Santana (PT).

O PT tem nove integrantes no Legislativo cearense, composto de 46 deputados. Entretanto, Elmano tem uma larga base de apoio, que integra vários partidos de centro e esquerda. A tendência é que não haja reação contra um nome do governo.

Cid argumenta que o PT já tem muito poder acumulado e defendia que o cargo ficasse com outro partido da base, em especial o PDT, partido que tem sua irmã, Lia Gomes, como deputada estadual.

A Assembleia é comandada pelo petista Evandro Leitão, que vai deixar o cargo para assumir a Prefeitura de Fortaleza em 1° de janeiro. Entretanto, quando foi eleito deputado em 2022, Leitão era filiado ao PDT — a mudança de partido ocorreu apenas em dezembro passado.

O anúncio da ruptura foi feito pela deputada Lia Gomes, que afirmou que a decisão se deve pela falta de espaço para negociação. "Ele não se sente mais do grupo", disse ao jornal Diário do Nordeste.

Ele disse [ao governador] que existe uma concentração de decisão nas mãos das pessoas do PT.
Lia Gomes, ao Diário do Nordeste

Procurada, a assessoria de Cid Gomes afirmou que o senador ainda não se manifestou. O governo do estado também foi procurado, mas não deu resposta.

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Lia Gomes (PDT), deputado estadual do Ceará
Lia Gomes (PDT), deputado estadual do Ceará Imagem: Reprodução/Facebook

O incômodo do PDT, de Ciro, ficou claro com a adesão de vários nomes do partido à campanha do bolsonarista André Fernandes (PL) no segundo turno da eleição de Fortaleza. O partido rachou na disputa.

O argumento usado para apoiar um candidato da extrema direita foi justamente por ser contrário ao acúmulo de poder do PT no estado, que estaria criando uma "ditadura" — nas palavras de Ciro e alguns parceiros — no estado. O PDT, porém, foi duramente derrotado nas eleições de outubro, com apenas 5 prefeitos de pequenas cidades eleitos.

Apesar de perder força ao longo dos anos e ser derrotado em sua cidade-natal (Sobral), Cid ainda se mantém com grande influência política no estado. Prova disso é que o PSB liderado por ele elegeu 65 prefeitos em 2024, o maior número do estado com folga (o PT, em segundo, elegeu 47).

Camilo tenta amenizar cenário

 O ministro da Educação, Camilo Santana
O ministro da Educação, Camilo Santana Imagem: Valter Campanato - 7.jul.23/Agência Brasil
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Também em entrevista à imprensa cearense neste domingo, o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), disse que divergências são normais e afirmou que vai apoiar Cid para reeleição ao Senado em 2026 por gratidão e pelo que ele representa para o Ceará. Cid foi eleito para o cargo em 2018.

Inicialmente, o rompimento estaria ligado apenas ao governador, e não incluiria Camilo, com quem Cid tem estreita relação.

Maior nome da política cearense hoje, Camilo foi governador eleito por escolha justamente de Cid, que era governador e o indicou como candidato à sucessão do seu grupo, mesmo sendo um político pouco conhecido, mas que venceu as eleições estaduais de 2014 e 2018.

Já Elmano, que é ligado à ex-prefeita Luizianne Lins (PT), é de outra ala que historicamente tem divergência com a família Gomes —que já foram chamados por esse grupo de coroneis à época que governavam o estado.

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