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Obama tem caminho difícil após conquista republicana no Senado dos EUA

Por Steve Holland e John Whitesides
Imagem: Por Steve Holland e John Whitesides

05/11/2014 09h57

Por Steve Holland e John Whitesides

WASHINGTON (Reuters) - Os republicanos se aproveitaram de uma onda de descontentamento dos eleitores para tomar o controle do Senado dos Estados Unidos na eleição de terça-feira, aplicando um duro golpe ao presidente Barack Obama e limitando sua agenda legislativa, o que pode forçá-lo a corrigir o curso para os últimos dois anos no cargo.

A conquista republicana foi ampla e profunda, em um avanço visto como uma acentuada rejeição a Obama, que tem enfrentado crise após crise e cuja impopularidade fez até mesmo candidatos democratas se afastarem dele em muitos Estados onde a disputa era acirrada.

Os republicanos também fortaleceram sua posição dominante na Câmara dos Deputados. Quando o novo Congresso tomar possa, em janeiro, eles estarão no controle de ambas as Casas do Congresso pela primeira vez desde as eleições de 2006.

A vitória dos republicanos no Senado forçará Obama a reposicionar seus projetos. Ele agora terá de utilizar ações executivas que não exigem aprovação legislativa ou avançar com temas que possam ter apoio bipartidário, como acordos comerciais e reformas tributárias.

Também vai colocar à prova sua capacidade de se comprometer com oponentes políticos fortalecidos que têm resistido à sua agenda legislativa desde que ele foi eleito. E isso pode levar a algumas mudanças de assessores da Casa Branca, uma vez que os exaustos membros de sua equipe consideram ir embora para dar lugar a novos funcionários.

Obama, eleito em 2008 e reeleito em 2012, convocou líderes democratas e republicanos do Congresso à Casa Branca na sexta-feira para fazer um balanço do novo cenário político.

Ele assistiu à apuração dos votos na Casa Branca, e não viu muito o que comemorar.

Antes dos resultados da eleição, a Casa Branca não indicava grandes mudanças para Obama. Funcionários disseram que o presidente buscaria esforços conjuntos com o Congresso em áreas como comércio e infraestrutura.

“O presidente vai continuar a buscar parceiros no Capitólio, sejam democratas ou republicanos, que estejam dispostos a trabalhar com ele em políticas que beneficiem famílias de classe média”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, na terça-feira.

Obama, que foi senador por um mandato antes de se tornar presidente, tem sido frequentemente culpado por não desenvolver relações mais próximas com legisladores.

Ele encontrará um rosto familiar em uma nova posição mais influente. O senador republicano Mitch McConnell, do Estado de Kentucky, que venceu uma dura batalha contra a democrata Alison Lundergan Grimes para se reeleger, vai substituir o democrata Harry Reid como líder da maioria do Senado. Reid tem sido um dos principais aliados políticos de Obama. 

“Algumas coisas não mudam depois desta noite. Eu não espero que o presidente acorde amanhã (quarta) e veja o mundo diferentemente do que via quando acordou na manhã anterior. Ele sabe que eu também não. Mas temos uma obrigação para trabalhar juntos em questões que possamos concordar”, disse McConnell em seu discurso da vitória em Louisville.

DISPUTAS ACIRRADAS

Na votação de terça-feira, republicanos venceram em lugares nos quais os democratas eram favoritos, ganhando a corrida pelo Senado na Carolina do Norte, conseguindo vitórias onde seria difícil, como em Kansas, e levaram a melhor em diversas disputas por governos estaduais, inclusive em Illinois, berço político de Obama.

De oito a 10 disputas pelo Senado que eram consideradas acirradas, os republicanos venceram quase todas. O partido de oposição precisava de seis assentos a mais para conquistar a maioria do Senado, que tem 100 cadeiras, e no fim da noite eles conquistaram sete. 

A margem de vitória aconteceu quando a republicana do Estado de Iowa, Joni Ernst, foi declarada vencedora sobre o democrata Bruce Braley e o republicano Thom Tillis derrotou a democrata Kay Hagan na Carolina do Norte. 

A corrida em Iowa foi particularmente indicativa do sucesso republicano. Ernst estava atrás nas pesquisas e disparou nas últimas semanas, apesar dos amplos esforços de figuras democratas de destaque para salvar Braley, incluindo uma visita da primeira-dama do país, Michelle Obama.

Candidatos republicanos ao Senado também conquistaram assentos de democraras em Montana, Colorado, Virgínia Ocidental, Dakota do Sul e Arkansas. 

"RESPONSABILIDADE PARA LIDERAR"

Com o fim da euforia da vitória, republicanos enfrentarão uma grande pressão para mostrar aos norte-americanos que são capazes de governar, após terem sido criticados pela população por paralisarem o governo por causa de uma crise orçamentária há um ano.

Esse será um fator-chave em suas ambições para retomar a Casa Branca em 2016.

O senador republicano Ted Cruz, um conservador que pode concorrer em 2016, disse à CNN: “O povo americano está frustrado com o que tem acontecido em Washington, mas agora a responsabilidade recai sob nós para liderar."

Embora ainda haja conversas para conciliação, o gelo ainda deve demorar para ser quebrado em Washignton.

Batalhas partidárias podem surgir sobre a reforma das leis de imigração, e há expectativa que Obama tome ações executivas no fim do ano para deferir deportações de alguns imigrantes sem documentos. Outro ponto é a política energética, área em que os republicanos pressionam o presidente para aprovar o oleoduto Keystone XL trazendo petróleo do Canadá. 

Jay Carney, ex-porta-voz de Obama, disse esperar que Obama faça um esforço para avançar com suas prioridades independentemente da configuração do Congresso. 

Qualquer que seja o caso, Obama enfrentará pressão para realizar mudanças na Casa Branca. Uma pesquisa Reuters/Ipsos mostrou que 75 por cento dos entrevistados acreditam na necessidade de a administração “repensar" a abordagem para grandes questões enfrentadas pelos Estados Unidos. Já 64 por cento disseram que Obama deve substituir alguns de seus mais graduados assessores após a eleição. 

A vitória republicana já era prevista antes da abertura das urnas na terça-feira para escolher 36 senadores, 36 governadores e todos os 435 membros da Câmara dos Deputados. 

Obama e outros representantes da Casa Branca culparam o mapa eleitoral pela derrota, notando que muitas corridas para o Senado aconteceram em Estados conservadores onde Obama perdeu em 2012. 

(Reportagem adicional de Jeff Mason, Susan Heavey, Tim Ryan e Ian Simpson em Washington; Marti Maguire em Raleigh, Carolina do Norte; David Beasley em Atlanta; Steve Bittenbender em Louisville, Kentucky; Barbara Liston em Orlando, Bill Cotterell em Tallahassee e Zachary Fagenson em Miami; Colleen Jenkins em Winston-Salem, Carolina do Norte; Jonathan Kaminsky em Nova Orleans)