Josmar Jozino

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Reportagem

Caso Gritzbach: 'Acompanhei a morte do delator por live', diz membro do PCC

Em emails enviados a ministro, desembargadores, juízes, procuradores e promotores de Justiça, um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) apelidado de Tacitus revelou ter acompanhado por live o assassinato de Antônio Vinícius Gritzbach, 38.

Delator do PCC e de policiais civis investigados por corrupção, o empresário Gritzbach foi morto com 10 tiros de fuzis no dia 8 de novembro do ano passado, logo após desembarcar no terminal 2 do aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Nas mensagens enviadas às autoridades, Tacitus escreveu: "Eu e os amizades [faccionados do PCC] criamos uma live e vimos e ouvimos tudo em tempo real. Acompanhamos a queda daquele verme [Gritzbach] ao vivo e a cores, com áudio e som".

No dia do crime, exatamente às 18h14, Tacitus enviou email para este colunista e para outras autoridades, com cópias ocultas, comunicando a morte de Gritzbach. Ele publicou a foto da vítima caída na calçada do terminal com a seguinte legenda: "Agradeço a colaboração de todos".

No último dia 2, Tacitus havia mandado email com ameaças de morte para a família de Gritzbach, como informou esta coluna. Ele recomendou aos parentes do delator do PCC para que providenciassem até os testamentos e aproveitassem os últimos dias, caso não devolvessem a ele R$ 6 milhões.

Tacitus deu prazo até 31 de dezembro de 2024 para a família de Gritzbach quitar a dívida. Segundo ele, o delator do PCC deu o endereço de duas casas-cofre dele aos policiais civis Valdenir Paulo de Almeida, 58, o Xixo, e Valmir Pinheiro, 55, o Bolsonaro. Ambos foram presos em setembro de 2024 e são acusados de roubar R$ 90 milhões de 15 casas-cofre do PCC.

"Mensagens soam como fraude"

Os emails de Tacitus às autoridades, alegando ter acompanhado a morte de Gritzbach por uma live, foram enviados após um promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) dizer em entrevista que as mensagens escritas por ele "soam como uma fraude".

Na entrevista, o promotor de Justiça afirmou que o emissário [Tacitus} parece alguém tentando tirar vantagem do episódio, e não dispõe de controle da situação". Tacitus rebateu a crítica e escreveu nas novas mensagens que "seus emails não são oportunistas".

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Ele garante que seus assuntos com Gritzbach, como as trocas de mensagens, tiveram início pelo menos um ano antes do acordo de delação premiada firmado entre o empresário e o Gaeco e homologado pela Justiça de São Paulo em abril de 2024.

Quebra de sigilo de emails

Para provar que suas mensagens não são fraude, Tacitus propõe ao Gaeco a quebra do sigilo e análises de datas de todos os emails de Gritzbach, para mostrar que ambos trocaram emails [e até ofensas] quando o delator do PCC sofria ameaças de morte da facção criminosa.

Uma cópia da troca de mensagens entre Tacitus e Gritzbach foi enviada ao Gaeco e também para este colunista, um mês antes de o delator do PCC ter sido assassinado. No email, Tacitus ameaça o empresário e diz que quer de volta o dinheiro dele roubado pelos investigadores Xixo e Bolsonaro.

Tacitus diz para Gritzbach que "ele vivo não terá paz". Afirma ainda que "o empresário enriqueceu ilicitamente" e que "se estiver preso, morto, fugindo, mentindo ou caguetando é indiferente para ele". E acrescenta que "o que interessa é o dinheiro que foi roubado das duas casas-cofre dele"

Gritzbach responde ao email de Tacitus, de maneira agressiva e com palavrões: "E aí seu p** no c*. O Xixo quer falar com você. Como faz para te encontrar?".

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A Polícia Federal e o Gaeco desconhecem a identidade de Tacitus. O MP-SP diz que ele enviou diversos emails —inclusive para o Gaeco e policiais civis delatados por Gritzbach e presos por corrupção —por um provedor clandestino, com sede em um país sem acordos de cooperação com o Brasil.

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