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Vaticano se surpreende por "crucifixo comunista" presenteado ao papa na Bolívia

Philip Pullella

Em Santa Cruz

09/07/2015 19h26

O Vaticano admitiu nesta quinta-feira (9) ter se surpreendido ao descobrir que a foice e o martelo adornados com um Cristo crucificado, presente dado pelo presidente boliviano, Evo Morales, ao papa Francisco, foi desenhado por um sacerdote jesuíta assassinado em 1980.

O papa ficou perplexo quando Morales, numa reunião na quarta-feira (8) à noite, entregou-lhe o incomum presente. A princípio, pensava-se que o objeto havia sido feito a pedido do presidente socialista.

A combinação do crucifixo com o símbolo do comunismo, uma doutrina sob a qual muitos cristãos foram perseguidos no ex-bloco soviético, e ainda são em alguns países comunistas, resultou em indignação de representantes católicos.

"O cúmulo da soberba é manipular Deus a serviço de ideologias ateias", escreveu o bispo espanhol José Ignacio Munilla no Twitter, publicando uma foto de Francisco recebendo o presente.

Outros representantes da Igreja e alguns políticos de oposição bolivianos acusaram Morales, o primeiro presidente indígena do país, de se aproveitar da ocasião para expor sua ideologia anti-imperialista e provocar o papa.

Mas, enquanto crescia a controvérsia na noite de quarta-feira, jornalistas bolivianos disseram recordar que o autor original da escultura de madeira foi o padre jesuíta espanhol Luis Espinal.

Espinal, forte defensor dos direitos dos mineiros, foi assassinado por um grupo paramilitar durante a ditadura de 1980. (Reportagem adicional de Sarah Marsh e Diego Oré, em Santa Cruz)