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Antes do Natal, Venezuela tem prateleiras cheias com produtos caros demais para a população

Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Imagem: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Fabian Cambero

Em Caracas

11/11/2016 21h06

Para completar um ano de crise econômica que deixou muitos venezuelanos com fome, o governo socialista do país está enchendo as lojas com produtos antes do Natal, a preços que a maioria não pode pagar.

Milhares de contêineres de comidas de festa e brinquedos estão a caminho, dizem autoridades, e, ao mesmo tempo que as prateleiras dos supermercados parecem mais cheias, os preços estão absurdamente altos para pessoas ganhando apenas dezenas de dólares por mês pela cotação cambial no mercado negro.

"Se você tem dinheiro, então é claro que você está feliz", disse Geronimo Perez, vendendo jornais no centro de Caracas. "Mas se não, você é deixado de mãos vazias."

Um pacote de 1,8 kg de leite em pó custa o equivalente a 20 dólares em Caracas pela cotação do mercado negro. Isso é mais do que duas semanas de trabalho pelo salário mínimo venezuelano.

O país está atravessando grandes problemas econômicos e sociais, uma vez que uma década e meia de controles cambial, de preços e agora os preços baixos do petróleo deixaram o governo e as empresas sem recursos suficientes para importar bens.

Isso significa que os supermercados não têm produtos básicos de arroz a frango, e muito menos ainda presentes de Natal.

"Pelo menos as crianças"

As filas para os supermercados que estocam os bens regulados podem alcançar centenas ou milhares, e muitos deles acabam frustrados.

O presidente Nicolás Maduro põe a culpa pelos problemas numa guerra" econômica" travada contra o seu país, e o governo prometeu que os suprimentos serão ?suficientes? em dezembro.

O bolívar se desvalorizou cerca de 40% em relação ao dólar no mercado negro somente no mês passado. Um dólar compra quase 1.900 bolívares nas ruas, comparados com dez bolívares pelo índice oficial do governo.

Isso significa que importadores trazendo produtos pelo mercado negro estão pagando ainda mais e passando esses custos para os consumidores, alimentando a inflação que, segundo o FMI, vai superar os 2.000% no ano que vem.

A irritação é crescente, e centenas de milhares foram às ruas nas últimas semanas na esperança de uma mudança. Outros, porém, estão contentes com o alívio das festas.

"É melhor pois pelo menos a gente pode celebrar um pouco em meio a todos esses problemas, pelo menos as crianças," disse Karina Mora, deixando um mercado no centro de Caracas com os dois filhos pequenos.