Topo

Em discurso em Washington, Lula diz que seguirá ativo na política

"Eu falo todo dia para a minha mulher: Marisa, não espere que eu morra dentro de casa. Quando eu morrer um dia, vai ser num palanque, vai ser em algum lugar falando alguma coisa, brigando com alguém", disse Lula - Erika Santelices/AFP - 1º.fev.2013
"Eu falo todo dia para a minha mulher: Marisa, não espere que eu morra dentro de casa. Quando eu morrer um dia, vai ser num palanque, vai ser em algum lugar falando alguma coisa, brigando com alguém", disse Lula Imagem: Erika Santelices/AFP - 1º.fev.2013

Sergio Lamucci

De Washington (EUA)

04/02/2013 01h16

Num discurso de improviso, dirigido a uma plateia de sindicalistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro neste domingo (3), em Washington (EUA), que vai continuar ativo na política, além de defender enfaticamente o legado de seu governo.

"Eu falo todo dia para a minha mulher: Marisa, não espere que eu morra dentro de casa. Quando eu morrer um dia, vai ser num palanque, vai ser em algum lugar falando alguma coisa, brigando com alguém", disse Lula, que afirmou ainda ter torcido muito pela vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais dos EUA realizadas no fim do ano passado, observando que o presidente americano "não pode errar", porque, se isso ocorrer, um negro nunca mais vai comandar o país.

"O preconceito é muito forte", afirmou Lula, comparando a situação de Obama com a que enfrentou em 2002, ao assumir a presidência brasileira. "Eu tinha certeza de que não podia errar, porque, se errasse, um trabalhador nunca mais seria eleito presidente do Brasil."

Lula participou em Washington da abertura da conferência legislativa da United Auto Workers (UAW), o sindicato que representa trabalhadores da indústria automobilística, aerospacial e de máquinas agrícolas dos EUA, Canadá e Porto Rico. Falou por pouco mais de 56 minutos, num discurso em que rememorou a sua trajetória sindical e política.

"Eu nunca pensei em virar sindicalista, e virei presidente do sindicato; nunca pensei em ser político, e criei um partido; nunca pensei em ser candidato a vereador, a síndico do meu prédio e virei presidente. A luta fez com que eu desse passo atrás de passo", afirmou Lula. "Não há espaço na minha vida para desistir."

O ex-presidente não deu entrevista aos jornalistas brasileiros presentes ao evento. A expectativa é que nesta segunda-feira o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, envie ao Ministério Público de São Paulo a acusação do publicitário Marcos Valério de que Lula teria sido favorecido por recursos do mensalão. A denúncia foi feita em setembro do ano passado, em depoimento ao MP, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) já julgava o processo.

O ex-presidente disse que, ao assumir a presidência, em 2003, pegou um país numa situação complicada, com inflação na casa de 12% e devendo dinheiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). "Hoje, é o FMI que deve ao Brasil", afirmou Lula, que enfatizou o avanço das políticas sociais em seu governo, como o Bolsa Família, a implementação do crédito consignado, do aumento de recursos para a agricultura familiar e do microcrédito. "O Brasil era um país capitalista sem capital, porque não tinha crédito", disse.

Aplaudido mais de dez vezes durante a sua palestra, Lula recomendou aos sindicalistas que participem ativamente da vida política do país. Disse ainda ser inaceitável que uma empresa como a japonesa Nissan não queira a sindicalização de trabalhadores. No Mississippi, a empresa faz pressão para que os empregados não se sindicalizem.

Ao comentar a crise econômica global, Lula afirmou que se gastaram fortunas para se salvar os bancos, mas nada para os trabalhadores. Criticou ainda a arrogância dos banqueiros de países desenvolvidos, que ditavam regras para países como Brasil e Bolívia, mas quebraram na crise de 2007 e 2008.

Lula falou ainda de sua torcida por Obama, a quem classificou como uma "figura extremamente inteligente e competente". Segundo ele, um país com a história extraordinária dos Estados Unidos precisava de um presidente negro. Antes de chegar aos Estados Unidos, Lula esteve em Cuba e na República Dominicana. Questionado rapidamente na entrada do evento pelos jornalistas brasileiros sobre a saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que não sabia de nada.