PERSONAGEM DA SEMANA

De saída, Pazuello foi o homem errado na hora errada

Por Paulo Eduardo Dias*

A entrada no ministério

A pandemia de covid-19 já tirava o sono da maioria dos brasileiros quando, após duas baixas no Ministério da Saúde, Bolsonaro se lembrou do general Eduardo Pazuello. O militar veio elogiado por ser especialista em logística.
Tarla Wolski/Futura Press/Estadão Conteúdo

Interino por meses

Pazuello assumiu interinamente em maio, após Nelson Teich deixar o posto, e assim permaneceu por quase quatro meses. Só foi efetivado no cargo em setembro.
Ueslei Marcelino

Defensor da cloroquina

Os antecessores Luiz Henrique Mandetta e Teich chegaram a se indispor com Jair Bolsonaro na condução do combate à pandemia. Já Pazuello defendeu o uso de cloroquina no tratamento de covid-19, mesmo sem comprovação científica sobre sua eficácia. Por muitas vezes, também foi flagrado sem uso de máscara de proteção e já foi infectado pelo coronavírus.
Frederico Brasil/Futura Press/Estadão Conteúdo

Falta de transparência

A gestão de Pazuello também dificultou a divulgação de informações sobre mortos e infectados pela covid. Como o governo preferia divulgar só o número de curados, um consórcio de imprensa, integrado pelo UOL, passou a coletar dados junto às secretarias de Saúde estaduais. Em novembro de 2020, o STF determinou que os números fossem divulgados pelo governo federal.
ADRIANO MACHADO
Arte UOL

Contrário ao isolamento

Pazuello fez coro contrário ao isolamento social. Ele chegou a traçar um paralelo com as eleições de 2020. "Se isso não trouxe nenhum tipo de incremento ou aumento em contaminação, não podemos falar mais em lockdown nem nada", disse. Especialistas apontam as campanhas eleitorais como motivo para a alta de casos no final do ano.
Alex Falcão/Futura Press/Estadão Conteúdo

Gafes

  • "Testagem não é essencial", afirmou em julho. É uma das maiores deficiências no controle da doença no Brasil
  • "Não é um número que fará a diferença", disse, ao país bater 100 mil mortos pela covid
  • Disse que a vacinação ia começar no "dia D, na hora H", que só foram chegar depois de SP dar a 1ª dose
  • Vacinas que eram aguardadas no Amazonas foram parar no Amapá

Lenta compra de vacinas

Foi desmentido pelo presidente ao falar sobre a compra de CoronaVac, em parceria de empresa chinesa com o Butantan. Demorou para fechar compra do imunizante da Pfizer, apesar de ter sido o 1º com registro definitivo aprovado pela Anvisa. Lotes são entregues de maneira insuficiente a estados, enquanto as mortes só crescem. Em promessa mais recente, anunciou 562 milhões de doses em 2021, das quais 68 milhões são de vacinas sem aprovação. O montante de doses tem recorrentemente sido reduzido.
Marlon Costa/FuturaPress/Estadão Conteúdo

Senhores, é simples assim. Um manda e o outro obedece, mas a gente tem um carinho

Eduardo Pazuello, sobre apoio de Bolsonaro
Pedro Paulo Gonc?alves/Fiocruz

Alvo de investigações

Foi denunciado pela OAB pela má condução no combate à pandemia. É investigado pela Procuradoria-Geral da República sobre a falta de oxigênio no Amazonas, um dos estopins das críticas que passou a receber à frente do ministério. Já mudou de versão sobre quando foi avisado sobre o esgotamento do material usado na intubação de pacientes. A crise no estado também gerou uma notícia-crime no STF contra o militar e Bolsonaro.
Carlos Madeiro/UOL

Visão militar

Durante sua passagem pelo ministério, Pazuello incomodou os militares por permanecer na ativa. Foi pressionado, nos bastidores, mas resistiu e manteve a farda. Agora, pode ser reincorporado às Forças Armadas, mas provavelmente terá que aguardar para ganhar um novo cargo. A torcida de diversos militares, no entanto, é para que o ministro desista.
Carolina Antunes/Presidência da República
Bolsonaro pensou em alterar as normas para promover Pazuello a general quatro estrelas. A mudança, porém, é vista com ceticismo por membros do governo e com indignação no Exército.
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Mudança de discurso

Com milhares de mortes por dia, Pazuello passou a defender o uso de máscara, o isolamento social e a prevenção. De saída, anunciou milhões de reais para compra de vacinas. Em seu lugar, assume o cardiologista Marcelo Queiroga.
Reprodução/Instagram
Publicado em 20 de março de 2021.
Edição: Lúcia Valentim Rodrigues; Arte: Carol Malavolta.

*Colaboraram Carla Araújo e Natália Lázaro