PERSONAGEM DA SEMANA

"Lockdown" à brasileira

Por Guilherme Castellar, Colaboração para o UOL, no Rio

O Brasil tem medo de lockdown?

Com o país batendo recordes de mortes por covid-19 --na quarta (3), foram 1.840--, Estados e municípios têm adotado medidas de restrição para tentar conter a pandemia e reduzir a pressão sobre o sistema de saúde.
Bruno Kelly/Reuters

Restrições pelo país

O estado de São Paulo e a Prefeitura do Rio decretaram novas regras esta semana. O objetivo é reduzir a circulação nas ruas. Mas igrejas e escolas, por exemplo, podem funcionar, com capacidade reduzida e distanciamento. Já Santa Catarina adotou lockdown em fins de semana.
Estefan Radovicz/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Cuidado e investimento

Oficialmente, os responsáveis pelos decretos dizem que tomaram as medidas no "tempo certo", de acordo com as determinações de áreas técnicas e da ciência, e que investem em leitos e vacinas.
Reprodução/Twitter

Medidas 'tímidas'

Especialistas, porém, classificam restrições como essas como pouco efetivas. Na prática, faltou coragem para decretar lockdown rigoroso, como a Itália, na primeira onda, e Portugal, na segunda, com as famílias proibidas de saírem de casa.
Alberto Lingria/Reuters

As restrições brandas realizadas no Brasil, com lista de atividades essenciais que abrangem até serviços estéticos, não são rígidas o suficiente para serem consideradas lockdown. Logo, não produzem os efeitos desejados.

Paulo Almeida, advogado e diretor do Instituto Questão de Ciência
Michael Dantas/AFP

Remédio amargo

O lockdown rigoroso, apesar de drástico e com impacto social e econômico em razão do fechamento do comércio, é apontado por cientistas como a forma mais efetiva para uma melhora rápida da situação.
PAULO GUERETA/ESTADÃO CONTEÚDO

Notícias falsas

Para a microbiologista Natalia Pasternak, há falta de conhecimento científico sobre a eficácia do lockdown tanto por parte dos gestores públicos quanto de parcela da sociedade, pois todos são bombardeados por informações falsas de que ele não funciona.
ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

A ideia de que o lockdown não seria eficaz é uma informação política enviesada, não é científica. A ciência demonstra claramente de que ela é efetiva, como Portugal mostrou agora.

Natalia Pasternak, microbiologista
NurPhoto via Getty Images

Guerra de versões

A adoção de medidas sanitárias mais rígidas no Brasil também é marcada por um descompasso no discurso do governo federal e de Estados e municípios, responsáveis diretos pelo atendimento de saúde.
Divulgação/Agência Paraná

No que depender de mim nunca teremos lockdown. Nunca, uma política que não deu certo em lugar nenhum do mundo.

Jair Bolsonaro, em discurso na quarta-feira (3)
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Governo lava as mãos

Para Lorena Barberia, professora do Departamento de Ciência Política da USP, ao criar um falso dilema entre saúde e economia, o presidente faz um cálculo político de olho na reeleição.
André Porto/UOL

Ele quer mostrar à população que está preocupado com os empregos e que não cabe a ele resolver a pandemia. Até porque compreende que a situação é complexa e de difícil reversão.

Lorena Barberia, cientista política
Amanda Perobelli

Pandemia desenfreada

Como a ideia de ineficácia do lockdown reverbera em parte da população, prefeitos e governadores adotam restrições mais tímidas de olho em seus capitais políticos --muitos deles, assim como Bolsonaro, já estão de olho nas eleições de 2022.
Marcos Oliveira/Agência Senado
Publicado em 06 de março de 2021.
Edição: Luciane Scarazzati

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