Personagem da semana

SP sem plano: medidas para conter pandemia em xeque

Por Leonardo Martins, Colaboração para o UOL, em São Paulo

Criado pela gestão do governador João Doria (PSDB) como uma "estratégia para retomar com segurança a economia" em meio à pandemia, o Plano São Paulo começa a ser questionado. Os ajustes mais frequentes e o "abre e fecha" têm incomodado setores da economia e médicos.
Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo
Um exemplo foi a coletiva de quarta (24), considerada 'desastrosa' em termos de comunicação por autoridades do governo. Doria anunciou 'toque de restrição' --que, na prática, é um reforço na fiscalização.
ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Dois dias antes, o coordenador do Centro de Contingência, João Gabbardo, havia anunciado a necessidade de mais restrições. Neste caso, a opção pelo 'toque de restrição' foi de Doria. A orientação dos especialistas era toque de recolher e lockdown.
Divulgação/Governo Estadual
Médicos consultados pelo estado dizem que não é a primeira vez que o governador não acata as medidas sugeridas por eles. Procurada pelo UOL, a assessoria afirmou que, "em ao menos seis oportunidades, as sugestões foram adotadas pelo governo" e que a gestão obedece "a critérios técnicos, e não a pressões".
Sergio Andrade/Governo de São Paulo

Qualquer decisão, por mais simples que seja, tem que ser avalizada pela ciência e medicina.

João Doria
MISTER SHADOW/ASI/ESTADÃO CONTEÚDO
O Plano São Paulo foi criado no ano passado. Junto ao Centro de Contingência do Coronavírus, Doria dividiu o estado em 17 regiões e estabeleceu 5 fases de flexibilização --da vermelha, com mais restrições, à azul, próxima ao 'normal', que ainda não foi atingida.
Governo de São Paulo/Divulgação
Nos últimos meses, o plano começou a ser 'adaptado', com mudanças nas reclassificações das regiões e alterações na transição de fase. No ano passado, a média foi de 2 alterações por mês. Só em 2021, já foram ao menos 7 atualizações.
Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Aqui, a gente faz o seguinte: melhorou, a gente sai [da restrição], desfazendo tudo. Não tem cautela. Melhora, você vai lá e pronto: libera tudo.

Luís Fernando Aranha,
infectologista do Hospital Albert Einstein e professor da Unifesp
Fernanda Luz/Agif - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Paralelamente, prefeitos e comerciantes começaram a questionar as decisões do governo estadual e, pior, a desobedecer as ordens de restrição mesmo na fase vermelha.
Lucas Borges Teixeira/UOL
Um caso emblemático foi o da prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota). Na fase vermelha, ela emitiu um decreto permitindo o funcionamento de serviços não essenciais, o que é proibido nesse estágio. Rosim chegou a ser alvo de duras críticas de Doria.
Reprodução/Instagram
O inverso também aconteceu. Algumas prefeituras decidiram por conta própria apertar ainda mais as restrições, como na região de Araraquara, na semana passada, e em 5 cidades do ABC paulista, agora.
Tetê Viviane/Futura Press/Estadão Conteúdo
Para infectologistas e pesquisadores --inclusive de dentro do Centro de Contingência--, o Plano SP se tornou "reativo", correndo atrás do prejuízo, e não "proativo", evitando que o pior possa acontecer. Segundo apurou o UOL, os médicos que assessoram o governo estão preocupados.
Reinaldo Canato/UOL

Já identificamos a transmissão da variante P.1 [de Manaus]. Se ela se disseminar no estado, como aconteceu em Araraquara, o colapso do sistema de saúde é iminente.

Médico do Centro de Contingência ao Coronavírus que pediu para não ser identificado
Divulgação / Santa Casa
Publicado em 27 de fevereiro de 2021.
Edição: Carlos Iavelberg e Luciane Scarazzati