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Talvez a batalha da entrada da Ucrânia na União Europeia não esteja perdida

Milhares de manifestantes tomaram as ruas das principais cidades da Ucrânia contra a decisão do governo de suspender a assinatura do acordo que dá início ao processo de entrada do país na União Europeia - Reprodução/BBC
Milhares de manifestantes tomaram as ruas das principais cidades da Ucrânia contra a decisão do governo de suspender a assinatura do acordo que dá início ao processo de entrada do país na União Europeia Imagem: Reprodução/BBC

26/11/2013 15h48

Muitos eurocéticos (setores contrários à União Europeia) costumam apresentar as instituições europeias como uma burocracia ineficaz que enquadra uma zona econômica dotada de uma moeda falida, o euro.

Trata-se de uma visão redutora que desconsidera o papel crucial da União Europeia (UE) na transição da Grécia (1974), de Portugal (1974) e da Espanha (1975) para a democracia. Mais importante ainda, no final da URSS, a UE ajudou a estabilizar a Europa Central e os países bálticos, integrando esses lugares no seu espaço institucional e democrático. Neste processo, foram pacificadas fronteiras nacionais disputadas e rejeitadas que causaram, durante séculos, conflitos sangrentos nesta parte do mundo.

No momento em que a Europa comemora (do latim commemorare = recordar em comum) o centenário do início da Primeira Guerra Mundial e dos dramas e massacres que se seguiram, a paz gerada pela UE, garantindo a democracia, a liberdade e o Estado de Direito no Velho Mundo, ganha todo o seu sentido. Como demonstram os recentes acontecimentos na Ucrânia, a UE continua aparecendo como um polo democrático e pacificador para os países da esfera de influência da Rússia.

Os jornais europeus relembram que, há quatro anos, a UE propôs um contrato de associação sem integração  – facilitando vistos de entradas, acordo alfandegários e a introdução de normas jurídicas europeias – com  vários países pós-soviéticos: a Ucrânia, a Armênia, o Azerbaijão, a Geórgia, a Moldávia e a Bielorrússia.

Para além do interesse econômico (a Ucrânia e a Bielorrússia têm uma economia diversificada, o Azerbaijão é um grande produtor de petróleo), a UE também visava objetivos geopolíticos: limitar a influência da Rússia na região.

Mas a Rússia se antecipou, fazendo capotar o tratado de aliança que a UE assinaria com a Ucrânia na próxima sexta-feira ( 29), em Vilna, capital da Lituânia (país membro da UE desde 2004). 

Num encontro secreto com o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich , num aeroporto militar perto de Moscou, Vladimir Putin alternou ameaças e promessas, levando a Ucrânia a abandonar o barco do contrato de associação com UE.

Citado pela revista alemã "Der Spiegel", Elmar Brok, presidente da comissão de relações internacionais do Parlamento Europeu, declarou: “Os russos usaram todo o seu arsenal” para bloquear as iniciativas da Ucrânia em direção à UE, onde vivem mais imigrantes ucranianos do que na Rússia.

A projetada entrada da UE na zona de influência russa fica prejudicada. Em 2010, a virada autoritária na Bielorrússia, levou a UE a abandonar as negociações com o país e, em setembro deste ano, a Armênia também se retirou do projeto pró-europeu.

Da mesma forma que o "Der Spiegel", o jornal "Le Monde" (também de centro-esquerda e pró-europeu como a revista alemã) critica em editorial a passividade dos dirigentes europeus e dos principais países membros da UE frente às manobras de Putin.

Numa entrevista ao diário parisiense, um especialista francês, Arnaud Dubien, resume: “Moscou ganhou uma nova batalha geopolítica”. Talvez a batalha ainda não esteja perdida. Milhares de ucranianos começaram a manifestar nas ruas de Kiev para forçar o governo a honrar seu compromisso com a UE.