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Os limites eleitorais da extrema direita francesa

Líder da Frente Nacional, partido de extrema direita, Marine Le Pen, deixa a cabine de votação no norte da França - Pascal Rossignol/Reuters
Líder da Frente Nacional, partido de extrema direita, Marine Le Pen, deixa a cabine de votação no norte da França Imagem: Pascal Rossignol/Reuters

02/04/2015 19h46

Isoladas de seu contexto, as eleições departamentais da semana passada na França têm significação limitada. Tratava-se de eleger os conselheiros das regiões administrativas (départements) da França continental e ultramarina.

Num país centralizado como a França, as regiões contam pouco. Só conta mesmo é o poder em Paris, a Presidência da República e o controle do governo e da Assembleia nacional.

Porém, no médio prazo, o escrutínio ganha um sentido mais amplo. Assim, a presidência de François Hollande e o governo de Manuel Valls, seu primeiro-ministro, perderam as quatro eleições realizadas no país nos últimos 12 meses. Nas eleições municipais (março de 2014), na eleição para os representantes do país no Parlamento europeu (maio de 2014), nas senatoriais (setembro de 2014) e agora nas regionais, os resultados confirmaram uma evolução partidária: enfraquecimento da atual maioria socialista, avanço da direita gaullista e crescimento constante da extrema direita liderada pelo Front National (FN). Visto de mais perto, o quadro eleitoral é mais complexo.

Em primeiro lugar, o número de abstencionistas foi elevado. Só 48% dos eleitores inscritos votaram no primeiro turno e 46% no segundo turno (o voto não é obrigatório na França).

Em segundo lugar, o sistema de dois turnos nas legislativas ou nas eleições regionais, praticado desde o século 19, desfavorece o FN.

Com efeito, a regra eleitoral é a seguinte. O candidato que conquista a maioria absoluta dos votos é éleito no primeiro turno. Se nenhum deles obtém a maioria, há um segundo turno onde se reapresentam os candidatos que alcançaram ao menos 12,5% dos votos dos eleitores inscritos na circunscrição. Aqui está a explicação do relativo fracasso do FN de Marine Le Pen. Tendo obtido 25% dos votos no primeiro turno e 22% no segundo, o FN elegeu muitos conselheiros departamentais. Mas não obteve a maioria em nenhum conselho regional. Assim, a direita gaullista ganhou a direção de 66 departamentos (tinha a maioria em 41 antes das eleições) e a esquerda capitaneada pelos socialistas obteve 30 (tinha 61 departamentos precedentemente). Como explicar esse resultado?

Sucedeu que, em bom número de circunscrições, os eleitores que retornaram às urnas no segundo turno preferiram votar no candidato com maiores chances de derrotar o candidato do FN. As vezes puderam votar no candidato de seu próprio partido. Noutras vezes, quando seu candidato não se havia qualificado (isto é, obtivera menos de 12,5% dos votos no primeiro turno), o eleitor votou contra o FN. Elegendo assim o candidato gaullista ou socialista que enfrentava o FN.

Tal é o grande limite à ascensão da extrema direita francesa ao poder político do país. Sem aliados que lhes transfiram seus votos no segundo turno, os candidatos do FN são geralmente derrotados. A pergunta que fica, e que subjaz aos debates políticos franceses, é a seguinte: até quando os eleitores conservadores se recusarão a votar nos candidatos do FN?