Invasão do Iraque não trouxe paz nem democracia para o Oriente Médio
A entrevista do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair à CNN, reconhecendo “certa verdade” nas afirmações que atribuem a ascensão do Estado Islâmico à guerra do Iraque (2003-2011), relançou a polêmica sobre as origens e as consequências dos atuais conflitos no Oriente Médio.
Críticos de Tony Blair interpretaram tais declarações como uma defesa antecipada das responsabilidades que lhe são imputadas no relatório Chilcot, cuja publicação é iminente.
Nomeado em 2009 pelo governo britânico, Sir John Chilcot dirige a comissão governamental encarregada de investigar o papel do Reino Unido, e do governo de Tony Blair (1997-2007), na guerra do Iraque.
Nos Estados Unidos, a pauta sobre a guerra do Iraque entrou na pré-campanha presidencial. No campo democrata, o pré-candidato de esquerda, o senador Bernie Sanders, questionou o apoio que sua rival, a senadora Hillary Clinton, deu à guerra iniciada em 2003.
No campo republicano, foi o pré-candidato Donald Trump que abordou o assunto. De maneira oportunista, Trump pretendeu ter-se oposto à guerra desde o início. Não houve reação oficial do grande comandante da guerra, o então presidente George W. Bush. Mas seu filho Jeb Bush, rival de Trump nas primárias republicanas, desmarcou-se da opção militar escolhida por seu pai.
Segundo o competente Ryan Lizza da revista New Yorker, Jeb Bush disse que, se soubesse, como sabe hoje, que Saddam Hussein não dispunha de armas de destruição em massa, não teria invadido o Iraque em 2003.
Na Espanha, sob a pressão do debate no Reino Unido e nos Estados Unidos, o ex-chefe do governo conservador José Maria Aznar (1996-2004), apressou-se em declarar que a Espanha “saiu ganhando” ao apoiar “o esforço liderado pelo presidente Bush no Iraque”.
Essa sequência de reações ilustra o consenso que se estabeleceu nas capitais ocidentais: a invasão do Iraque não trouxe nem a paz nem a democracia para os países do Oriente Médio e da Ásia Central. Muito pelo contrário, a situação piorou no Iraque, levando de roldão a Síria e desestabilizando a Turquia.
No meio tempo, Washington teve que se reaproximar do Irã e abriu espaço para a Rússia de Putin aumentar sua influência sobre a Síria. No meio do caos instalado na região, cresce o fluxo de refugiados e, sobretudo, o poder militar dos extremistas da pior espécie liderados pelo Daesh. (Sigo aqui a norma de parte da mídia ocidental e dos setores muçulmanos moderados, que não reconhecem nenhum atributo de “Estado” ou de qualidade “islâmica” no autodenominado Estado Islâmico --EI--, preferindo assim utilizar o nome “Daesh” --acrônimo do EI em árabe-- para designar as hordas islamistas congregadas sob este título).
Numa frase destinada a marcar posição na campanha presidencial americana, o senador Bernie Sanders definiu a invasão do Iraque como “o pior desastre de política externa” da história dos Estados Unidos. A radicalidade desta declaração dá a dimensão da perplexidade e da insegurança suscitadas pela evolução nos conflitos no Oriente Médio.
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