Pastor que orou por Lula transforma em briga eleição da bancada evangélica

Pastores num tiroteio de declarações ácidas e idas e vindas no calendário eleitoral. A escolha do próximo presidente da bancada evangélica virou briga e será decidida no voto pela primeira vez.

O que aconteceu

A polarização entre Lula e Bolsonaro é o pano de fundo do racha. Candidatos acusam os adversários de colocar as prioridades da bancada em segundo plano para trabalhar a favor dos dois caciques políticos.

O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) é apontado como defensor dos interesses do Planalto. Ele nega e diz que são os adversários que alinharam a bancada evangélica ao bolsonarismo.

Alguns gestos de Otoni se tornaram marcos na divisão da bancada. Em 15 de outubro, o deputado elogiou e orou por Lula durante cerimônia de sanção do projeto do Dia da Música Gospel.

A atitude teve ainda mais peso porque era o segundo turno das eleições municipais. Diferentemente de outros deputados pastores, Otoni já havia abandonado o candidato do bolsonarismo a prefeito do Rio e apoiado a reeleição de Eduardo Paes (PSD-RJ).

Guinada ideológica. Otoni foi fervoroso apoiador de Bolsonaro. Como o restante da bancada evangélica, apoiava o ex-presidente nas eleições e nas votações na Câmara.

O candidato disse que a mudança mostra independência. Na visão de Otoni, o discurso de costumes que sempre pertenceu aos evangélicos foi sequestrado por Bolsonaro por causa do alinhamento da bancada.

Os que me acusam de estar próximo ao governo por orar pelo presidente querem transformar a frente [evangélica] num puxadinho do bolsonarismo.
Deputado Otoni de Paula

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Aproximação com o Planalto

A briga existe, mas dialogar com o governo está nos planos de todos os candidatos a presidente da bancada. Principal adversário de Otoni, o deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP) também defende o fim do isolamento dos evangélicos.

Mas adversários suspeitam que Otoni será subserviente. Outro temor dos parlamentares pastores é que a atuação política da bancada passe a ser favorável a Lula e pavimente uma aliança na campanha de 2026.

Os discursos de Otoni são citados para justificar o temor. Ele costuma dizer que o Bolsa Família atende aos fiéis mais carentes e reclama que Bolsonaro se apropriou do discurso conservador sem dar poder e cargos aos evangélicos.

Em que o presidente Bolsonaro atendeu a frente parlamentar [evangélica] nos quatro anos de seu governo? Nada. Nós não tivemos nenhum avanço.
Deputado Otoni de Paula

Silas Malafaia é acusado de tentar intervir na eleição da bancada evangélica
Silas Malafaia é acusado de tentar intervir na eleição da bancada evangélica Imagem: Renato Araújo/Câmara dos Deputados
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Malafaia entra na briga

A divergência trouxe um nome de fora da Câmara para a briga: Silas Malafaia. Otoni reclama de tentativa de intervenção externa para manter a bancada em segundo plano e submissa a Bolsonaro. O pastor nega.

Otoni afirma que seu principal adversário é uma indicação de Silas Malafaia. A alegação é negada pelo deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), que se apresenta como um candidato equilibrado e independente.

Malafaia refuta que esteja interferindo na eleição para presidente da bancada evangélica. Ele diz que tem o telefone de vários deputados e não ligou para nenhum deles. Acrescenta que a escolha do próximo líder é uma tarefa dos parlamentares.

Na avaliação de Malafaia, o Planalto está trabalhando para fazer Otoni líder da bancada. Ele declarou ainda que Gilberto Nascimento tem uma postura independente e não concorda em alinhar os evangélicos com o governo federal.

Como estou agindo nos bastidores se não liguei para nenhum deputado?
Pastor Silas Malafaia

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Deputado Gilberto Nascimento é o principal adversário e promete independência
Deputado Gilberto Nascimento é o principal adversário e promete independência Imagem: Reprodução/YouTube

Adiamento da eleição

Os evangélicos têm uma tradição de consenso. Os deputados não escolhem os presidentes da bancada no voto, mas por aclamação, depois de haver debates internos.

Será a primeira vez que haverá votação. A eleição estava marcada para última quarta-feira e acabou adiada para fevereiro do ano que vem, porque a disputa interna estava muito grande.

Otoni falou que houve mudança porque ele seria vencedor. Atual presidente da bancada evangélica, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) explicou que antecipou a eleição para o futuro presidente pode começar o diálogo com o próximo presidente da Câmara.

O atual líder da bancada atribuiu a briga à falta de uma liderança inconteste. Outros integrantes da bancada ressaltam que a última eleição já sinalizava divisão interna. Silas Câmara e o deputado Eli Borges (PL-TO) dividiram o mandato.

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Otoni e Gilberto falam que, passada a eleição, é hora de união. Os deputados evangélicos vão na mesma linha, mas não deixam de alfinetar os adversários.

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