As broncas de Trump na Europa
A viagem de Donald Trump à Europa, iniciada em Bruxelas, tem nesta quinta (12) a etapa britânica e será concluída em Helsinki com um encontro com Vladimir Putin.
Na reunião da capital belga com os dirigentes dos países membros da OTAN, o presidente americano abordou um tema fora da pauta. Por que os EUA devem gastar mais que os outros países membros (3,5% do PIB americano, representando dois terços do orçamento da OTAN) para manter um aparato militar criado em 1949, no auge da Guerra Fria, para defender os europeus contra os soviéticos?
A questão tem sido colocada desde o desabamento da URSS (1991). Mas ganhou um perfil mais agudo nos últimos anos, com a agressividade russa na Ucrânia.
Ao mesmo tempo, os países europeus ficaram mais ricos e a Alemanha reunificada se tornou a maior potência do continente. Desse modo, o assunto tem sua pertinência. Contudo, o tom usado pelo presidente americano causou surpresa e desconforto entre seus aliados. Fazendo contas aleatórias dos gastos de uns e outros, Trump chamou seus aliados de "delinquentes", por não pagarem sua alegada dívida aos Estados Unidos. Para rematar, o presidente deixou entender que os EUA poderiam se retirar da OTAN.
Segundo os especialistas, trata-se de um blefe, visto que a medida seria, muito provavelmente, vetada pelo Congresso americano. Alvo preferido de Trump, a Alemanha foi acusada em Bruxelas de ser "cativa" da Rússia por causa de sua dependência das importações de gás russo. Na realidade, a Alemanha importa 50% do gás que consome da Rússia.
O projeto de um gasoduto de 1200 km, ligando a Rússia à Alemanha pelo mar Báltico aumentará as importações alemãs. Ora, como apontou o Le Monde, os EUA vem produzindo quantidades crescentes da gás de xisto que gostariam de exportar para a Europa. Aqui também, o discurso de Trump tem sua lógica. Mas a acusação de sujeição à Rússia causou irritação na Alemanha e suscitou uma resposta de Angela Merkel. Lembrando que ela havia crescido na Alemanha Oriental sob o jugo soviético, Merkel declarou: "Nós conduzimos as nossas próprias políticas, podemos tomar decisões independentes".
Com o Reino Unido, Trump foi ainda mais descortês, afirmando que o plano moderado do Brexit apresentando recentemente pelo governo de Theresa May desconsidera a vontade dos eleitores britânicos que votaram no referendo de 2016 em favor da saída da União Europeia.
Dezenas de milhares de manifestantes anti-Trump desfilarão amanhã (sexta) nas ruas de Londres para protestar contra a visita do presidente americano. Outros protestos estão previstos em Glasgow e Edinburgh, capital da Escócia, que também será visitada por Trump no fim de semana. Trump poderá se irritar e tuitar mais disparates durante sua estadia do Reino Unido.
O encontro com Putin na próxima semana também trará surpresas e interrogações. Numa declaração em que criticava as "inexatidões e a fanfarronice (bluster)" de Trump com os aliados europeus, o senador John McCain, figura tutelar do partido republicano, atacou a caracterização que o presidente americano fez de Putin, chamando-o de "concorrente" dos EUA.
"Putin não é amigo nem concorrente, ele é um inimigo dos Estados Unidos, não porque nós desejamos, mas porque ele escolheu isso". De todo modo, o encontro de Helsinki já se apresenta como a reunião diplomática mais perigosa para o futuro político de Trump realizada até agora. Não só nas questões de forma, como com seus aliados europeus, mas sobretudo nas questões de fundo.
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