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Não se deixe paralisar pelo medo

Milhares marcham em Toulouse (França), em homenagem aos mortos em Paris - Remy Gabalda/AFP
Milhares marcham em Toulouse (França), em homenagem aos mortos em Paris Imagem: Remy Gabalda/AFP

Richard Branson

13/12/2015 00h01

Em seu primeiro discurso de posse, em 1933, o presidente Franklin D. Roosevelt disse uma frase que ficou famosa: “a única coisa que devemos temer é o próprio medo: sem nome, sem razão, o terror injustificado que paralisa os esforços necessários para transformar a recuada em avanço". Suas palavras não podiam ser mais apropriadas para hoje.

O medo talvez seja a mais básica das emoções humanas. Mesmo nos melhores períodos, o medo é algo constante em nossas vidas diárias. Seja o medo de ir mal em uma prova, de deixar uma primeira impressão negativa para alguém ou de fazer a escolha errada nos negócios. Mas o medo também pode funcionar como um incentivo saudável para tomarmos precauções e avaliarmos nossas opções com cuidado.

Medos mais profundos também nos afligem, os do “tipo A”, que tendem a ser menos racionais e, às vezes, podem nos paralisar. Perto do topo da lista, de acordo com os pesquisadores que estudam essas coisas, está o medo de voar. O medo de falar em público e o de altura vêm logo atrás. Outros medos universais incluem a rejeição, o medo de compromisso, de aranhas, do escuro, da intimidade e, naturalmente, da morte.

Mas eu me pergunto: se um estudo fosse feito hoje, o terrorismo não estaria nessa lista? Será que acontecimentos terríveis como os recentes atentados em Paris, Beirute, Bamako e San Bernardino não alteraram nossa perspectiva?

No mês passado, depois que terroristas mataram 130 pessoas e feriram outras centenas em Paris, não foi nenhuma surpresa ver uma queda repentina e acentuada nas viagens para a região. Estou no ramo das viagens aéreas há muito tempo, então entendo totalmente como acontecimentos terríveis como estes podem afetar as decisões dos passageiros. O medo de voar já é ruim o bastante. Acrescente a isso o menor sinal de risco de um ataque, e muitas pessoas cancelam suas viagens imediatamente.

Nós já vivenciamos essa síndrome. Após os ataques sem precedentes de 11 de setembro de 2001 nos EUA, quase todas as viagens de turismo e negócios no mundo diminuíram drasticamente. A recuperação foi lenta. Mas, por fim, o setor se recuperou.

Infelizmente, todos nós precisamos aprender a lidar com a ameaça do terrorismo. Mas, como qualquer outra coisa nessa lista de medos, não podemos deixar que a ansiedade em relação a outro ataque altere a forma como vivemos nossas vidas. Hoje em dia, mudanças dramáticas e contínuas --tecnológicas, climáticas, políticas ou sociológicas-- são a nova norma. Não importa onde estivermos, viver com a ameaça do terrorismo parece ser inevitável.

Mas precisamos voltar à normalidade, e temos de continuar viajando livremente a negócios e por lazer. Assim como cidades como Nova York, Londres e Madrid se recuperaram depois de sofrerem ataques, estou confiante de que Paris e a inimitável "joie de vivre" (alegria de viver) dos franceses logo vão prevalecer.

Parte da recuperação dependerá de as pessoas continuarem visitando Paris e outros lugares que foram atingidos pelo terrorismo. É muito inspirador ver turistas e empresários viajando para a França logo após os ataques recentes. (Na verdade, enquanto escrevia esta coluna, estava a caminho de Paris para a conferência sobre mudanças climáticas COP-21.)

Outro fator é que os governos não devem emitir alertas de viagem alarmantes sem necessidade, desencorajando seus cidadãos a visitar outros países. Sim, os governos devem fazer de tudo para manter os cidadãos seguros, mas reduzir as viagens por causa do medo do terrorismo é uma vitória que os terroristas desejam.

Devemos lembrar que, além de serem importantes para a economia mundial, o turismo e as viagens também desempenham um papel muito mais importante para a compreensão e a confiança mútua entre culturas aparentemente diversas. Assistir a programas de viagens e ler livros sobre pessoas e lugares distantes nunca substituem uma viagem. Falar pessoalmente com as pessoas, dividir o pão e compartilhar risos e lágrimas ainda pode fazer toda a diferença.

Termino com a conclusão do mestre Mark Twain, o escritor norte-americano. Como costuma acontecer, quando se trata do medo, ninguém colocou melhor do que ele: "Viajar acaba com o preconceito, a intolerância e a mente fechada, e muitos de nós precisam disso urgentemente por esse motivo. Uma visão ampla, saudável e generosa do homem e das coisas não pode ser adquirida vegetando num cantinho do mundo durante a vida inteira.”

(Richard Branson é fundador do Virgin Group e de companhias como a Virgin Atlantic, Virgin America, Virgin Mobile e Virgin Active. Ele tem um blog em www.virgin.com/richard-branson/blog. Você também pode segui-lo no Twitter: twitter.com/richardbranson. Para saber mais sobre o Virgin Group: www.virgin.com.)