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Cacau pode proteger contra câncer e derrame, diz estudo

12/03/2007 10h57

Um nutriente chamado epicatequina e que está presente no cacau parece reduzir o risco de desenvolvimento de várias doenças que costumam matar, sugerem pesquisadores nos Estados Unidos.
Entre o povo Kuna, do Panamá, que pode beber até 40 copos de suco de cacau por semana, a incidência de derrame, doenças cardíacas, câncer e diabete é inferior a 10%.

Os Kuna parecem ainda ter uma vida mais longa do que outros habitantes do Panamá, e não desenvolvem demência, disse relatório dos cientistas americanos na publicação Chemistry and Industry.

Mas os especialistas destacam que a herança genética e outros fatores ligados ao estilo de vida também desempenham um papel na saúde das pessoas.

O pesquisador Norman Hollenberg, de Harvard, disse que o composto presente no cacau beneficiaria outras populações também, inclusive nos países industrializados, embora admita que podem haver diferenças étnicas.

Ele admite que seus estudos são baseados em observações, então não podem fornecer provas irrefutáveis.

Kuna

Hollenberg investigou os efeitos da epicatequina em centenas de idosos de culturas diferentes, assim como centenas de membros do povo Kuna, nos últimos 15 anos.

"Meu interesse começou com o fato de o povo Kuna não desenvolver pressão alta", explicou.

Há cerca de 70 mil Kunas, metade vive no continente e outra, nas Ilhas San Blas, do Panamá.

"Eu estava procurando os genes protetores mas a causa acabou sendo o meio ambiente, quando eles migraram para o continente com todos os benefícios da vida urbana ocidental, sua pressão sangüínea aumentou com a idade e a hipertensão se tornou muito comum."

E a incidência de morte por doenças cardíacas, derrame, diabete e câncer ocorreu em seguida, de acordo com estudo publicado por Hollenberg no International Journal of Medical Sciences.


Os Kunas bebem várias xícaras de cacau por dia

Ele acredita que a bebida local dos Kuna é a chave para isso, e que sua descoberta é tão significativa que a epicatequina deveria ser considerada essencial em uma dieta alimentar e, portanto, classificada como uma vitamina.

"Vitamina essencial"

No momento, a ciência não vê a epicatequina como um composto com papel essencial, mas há muitas evidências que sugerem que ela pode ter um efeito de proteção do organismo.

A epicatequina pertence ao grupo dos flavonóides, e pode ser encontrada também em chás, vinho, chocolate e algumas frutas e legumes.

Um de seus efeitos, acredita-se, seria a elevação dos níveis de óxido nítrico no sangue, que ajuda a relaxar os vasos sangüíneos e melhora a circulação.

E suas propriedades antioxidantes podem explicar como ele pode impedir o câncer.

O nutricionista Daniel Fabricant, vice-presidente de questões científicas da Associação de Produtos Naturais, disse que a ligação entre alto consumo de epicatequina e a redução do risco de doenças letais deve ser mais investigada.

"Pode ser que essas doenças sejam resultado de uma deficiência de epicatequina", sugeriu.

Cacau

A planta do cacau foi cultivada pela primeira vez no período 250-900 da era Cristã, pela civilização maia no que são hoje o México e países vizinhos na América Central.

Os maias ofereciam as sementes para os seus deuses, usavam-nas como moeda e com fins medicinais, para combater a fadiga e problemas no aparelho digestivo.

Flavonóides como a epicatequina são removidos do cacau comercial porque tendem a apresentar um gosto amargo.

Especialistas também questionam se seria recomendável a uma pessoa consumir quantidades suficientemente abundantes de alimentos que contém epicatequina, como vinho e chocolate.

Hollenberg, que é consultor científico de vários laboratórios farmacêuticos e recebeu apoio financeiro para a sua pesquisa da companhia que produz barras de chocolate e doces M&M/Mars, acredita que há possibilidade de empresas da área de nutrição desenvolverem suplementos de epicatequina, na forma de barras de chocolate.

Ellen Mason, da Fundação do Coração da Grã-Bretanha disse que acha esta "uma observação interessante de uma cultura única", mas disse que a organização "não recomenda que as pessoas na Grã-Bretanha comecem a beber chocolate líquido em grandes quantidades para proteger o coração".