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Estudo indica ruptura de placa tectônica sob Oceano Índico

Jonathan Amos

27/09/2012 17h34

Uma série de fortes terremotos em abril na região costeira de Sumatra, no Oceano Índico, seria um indício da futura quebra em dois da placa tectônica Indo-Australiana, de acordo com um estudo publicado na revista científica Nature desta semana.

Pesquisadores afirmam que a análise dos tremores, cujo mais forte teve magnitude de 8,7 pontos, indica que a placa que hoje é uma só deve se romper, criando um novo bloco. A mudança deve levar milhões de anos para acontecer, no entanto.

"Este é um processo que provavelmente começou há 10 milhões de anos, então você pode imaginar quanto tempo ainda vai ser necessário para chegarmos a ter uma fronteira clássica", afirmou Matthias Delescluse, da Escola Normal Superior, de Paris. Ele é autor de um dos três estudos que tratam dos terremotos de abril na última edição da Nature.

A ilha de Sumatra, no oeste do arquipélago indonésio, se encontra em cima do ponto de encontro entre as placas tectônicas Indo-Australiana e a de Sonda. Estas enormes porções da crosta rígida exterior da Terra se deslocam uma contra a outra a uma velocidade de cerca de 5 cm a 10 cm por ano.

A placa Indo-Australiana, mais alongada, abrange a maior parte do fundo do Oceano Índico, e afunda para baixo da de Sonda, que sustenta a ilha de Sumatra. O atrito na fronteira, travando e destravando, além da súbita liberação de energia acumulada, são a causa de grande parte dos terremotos violentos, como o de magnitude 9,1, que provocou o catastrófico tsunami de 26 de dezembro de 2004.

Escala poderosa

Mas os tremores de 11 de abril de 2012, embora tenham sido tão poderosos quanto o de 2004, não tiveram o mesmo impacto nem geraram um tsunami. A explicação para isso está na natureza do acidente geológico, na forma como bloco rochoso se movimenta horizontalmente de cada lado da quebra, em vez de um movimento vertical, que leva à geração de tsunamis. 

Os sismos de abril também estavam mais a oeste, diretamente sobre a placa Indo-Australiana, em uma área de deformação em grande escala e diversas falhas. Delescluse disse ser evidente que o movimento registrado nas fronteiras da placa esteja forçando a parte central dela. 

"A Austrália já se movimenta em relação à Índia, e a Índia já se movimenta em relação à Austrália", disse à BBC o pesquisador francês. "Ambas estão separadas por uma série de falhas. Se você olhar a Terra hoje, entre as placas tectônicas, verá apenas uma falha. Ou seja, o processo que identificamos começa com várias falhas e termina com apenas uma."

Para os pesquisadores a questão é descobrir quanto tempo é necessário para que uma dessas falhas fique tão frágil a ponto de concentrar toda a deformação da placa nela, tornando as outras inativas.

Tremores secundários

Em outro estudo, Thorne Lay e equipe, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, detalham as relações entre essas falhas e como elas se romperam no último dia 11 de abril.

A análise sísmica dos cientistas indica que pelo menos quatro falhas tiveram participação no evento de magnitude 8,7, que durou cerca de 160 segundos. O evento foi considerado pelo grupo "provavelmente o maior já registrado" em apenas uma placa tectônica.

O terceiro estudo sobre o sismo publicado na revista científica descreve como o terremoto provocou outros tremores ao redor da Terra. Esse efeito já era conhecido, mas o grupo liderado por Fred Pollitz, do US Geological Survey, ficou surpreso com a demora nestas consequências.

"Para a maioria dos terremotos, espera-se que a zona de tremor secundário não passe de mil km. Mas também sabemos que tremores principais muito grandes, como o evento do ano passado no Japão, de magnitude 9, podem provocar outros terremotos menores", afirmou Politz.

A diferença foi que o terremoto de abril deste ano acabou levando a outros tremores mais fortes e potencialmente mais perigosos, com intervalos de algumas horas ou até vários dias depois do tremor principal. "Com efeito, isso estendeu a zona de tremores secundários ao mundo inteiro", disse.