Brasileiro ajuda a desenvolver jardim que andará sozinho pelas ruas
O Hortum Machina tem 3 metros de altura, pesa 400 quilos e, sem piloto ou controle remoto, anda devagar pelas ruas de Londres. Essa megaestrutura, o primeiro jardim ambulante completamente autônomo de que se tem notícia, é uma invenção do arquiteto brasileiro Danilo Sampaio e do engenheiro maltês William Victor Camilleri, com o apoio da escola londrina de arquitetura Bartlett.
Hortum Machina, ou jardim máquina em tradução livre, é um exoesqueleto gigante redondo feito de alumínio reciclável "recheado" de plantas nativas britânicas. "Nada mais é do que a nossa terra", explica Sampaio, que se inspirou nos domos popularizados pelo arquiteto futurista americano Buckminster Fuller.
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"Nossa intenção é criar uma extensão de um parque. As plantas saem de uma zona limitada e vão para a rua, para a calçada - locais onde não há área verde".
As reações químicas das folhas com o meio exterior, a eletro-fisiologia, funcionam um pouco como o nosso sistema nervoso, explicam os dois inventores. Sampaio e Camilleri usam eletrodos para recolher e analisar essas reações químicas.
"Colocamos as plantas em situações diferentes. Um dos experimentos foi colocar as mesmas plantas em um ambiente com muito sol e depois num outro com pouco sol. Adquirimos dados sobre as reações químicas das folhas e fizemos um cruzamento para entender as variações", relata Sampaio.
Em seguida, os pesquisadores conectam as plantas a um sistema de informações: um minicomputador chamado Raspberry Pie que, ao captar esses dados, pode transformá-los em movimento.
Desejo das plantas
Hortum Maquina é um robô esférico que obedece ao desejo das plantas. Se a maioria delas achar que o sol está muito forte, a esfera inteira vai descansar na sombra. Quando chove, ela gira para que todas as folhas sejam molhadas. Mas a invenção também possui benefícios para os humanos.
"O sistema tem uma tecnologia para detectar a poluição. Ele consegue deixar a esfera parada em um lugar por um tempo prolongado até que o ar daquela região melhore", afirma Sampaio.
"Esse projeto permite também espalhar sementes pela cidade, em locais onde as árvores nativas foram retiradas", acrescenta o arquiteto. O desaparecimento progressivo das plantas nativas tem um impacto muito grande sobre a biodiversidade e, consequentemente, sobre a saúde humana.
Protetora da biodiversidade
Algumas plantas são essenciais para certos tipos de abelhas, que possuem um papel crucial na cadeia alimentar mundial. Elas são responsáveis por polinizar as flores e permitir o desenvolvimento de 75% das espécies de frutas e legumes que comemos.
Phil Stevenson, diretor do projeto The Hive (a colmeia), nos jardins botânicos reais de Londres, Kew Gardens, é especialista em polinização. Ele aponta que "nos últimos 40 anos metade das colmeias desapareceram do Reino Unido".
No Brasil, uma portaria do Ministério do Meio Ambiente de dezembro de 2014 lista quatro espécies nativas de abelhas como ameaçadas de extinção, medida que visa proteger essas espécies da captura. Em fevereiro, relatório da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos da ONU alertou para a ameaça de extinção de diversos animais polinizadores em todo o mundo, colocando em risco a produção de alimentos e a qualidade do ar global.
Para Sampaio, esses desafios ecológicos foram um elemento crucial na elaboração de Hortum Machina. "A ideia desse projeto é dar autonomia e liberdade às plantas para que elas tomem o espaço das pessoas e sejam um corpo presente no nosso dia a dia", diz ele.
"As pessoas nos ônibus tiravam fotos, os carros paravam para ver o que estava acontecendo, as crianças ficavam maravilhadas e tentavam subir na esfera. Foi uma reação muito bacana", conta Sampaio, que levou seu projeto ao Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
No entanto, o arquiteto agrega que o Hortum Maquina precisará de investimentos tecnológicos para que possa ser implementado mais amplamente nas cidades do futuro - por exemplo, usando tecnologias semelhantes às que estão sendo testadas em carros autônomos.
As plantas também precisam ser nativas da região para sobreviverem sem intervenção humana.
"Quem sabe, com a verba necessária, a gente possa criar uma comunidade de 2 mil a 3 mil miniesferas e soltá-las pela cidade para fazer com que a qualidade do ar melhore onde for necessário", opina.
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