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Por que o homem não pisou mais na Lua?

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Imagem: Reprodução

13/12/2017 10h37

Foi, nas palavras de Neil Armstrong, um pequeno passo para o homem, mas um salto enorme para a humanidade.

Em 21 de julho de 1969, às 2h56 no horário local (0h56 no horário de Brasília), um ser humano - no caso, Armstrong - pisou pela primeira vez na Lua. A notícia estremeceu o mundo. Outras cinco expedições americanas chegaram ali até dezembro de 1972, quando Eugene Cernan fechou o ciclo de alunissagens, ou seja, de pousos na superfície da Lua. Depois dele, nenhum homem voltou ao satélite natural da Terra em mais de 45 anos.

Muitas teorias de conspiração foram criadas deste então para apoiar a ideia de que as alunissagens nunca aconteceram e que as imagens que se difundiram não foram nada mais do que montagens feitas em estúdios de televisão. Mas os motivos, na verdade, são outros: dinheiro, relevância científica e, é claro, questões políticas.

Mas quase meio século depois, o governo dos Estados Unidos anunciou que pretende voltar ao satélite em breve. E que isso pode ser só uma primeira parada em uma jornada para a conquista de Marte.

Na segunda-feira, o presidente Donald Trump aprovou a Diretriz de Política Espacial 1, uma ordem presidencial que autoriza a Nasa a enviar novamente missões tripuladas à Lua.

A previsão é que a diretriz, que foi firmada sem consulta prévia ao Senado, só entre em vigor quando restar ao presidente dois anos na Casa Branca. Mas tendo em vista os prazos para a aprovação dos orçamentos, muitos especialistas temem ela não será efetiva - a menos que Trump seja reeleito em 2020.

Entenda a seguir o que fez os Estados Unidos, e nenhum outro país, não enviarem uma tripulação sequer à Lua em quase meio século - e por que isso pode mudar agora.

Questão de orçamento

Com a façanha de Armstrong, os Estados Unidos foram coroados em sua batalha pela corrida espacial com a então União Soviética, que já havia colocado um cachorro e um tripulante, Yuri Gagarin, no espaço, mas não conseguiu chegar muito além da atmosfera terrestre.

A iniciativa foi, no entanto, extremamente dispendiosa.

"Enviar uma nave tripulada à Lua era extremamente caro, e realmente não há uma explicação verdadeiramente científica para sustentá-la", explica à BBC Mundo Michael Rich, professor de Astronomia da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

De acordo com o especialista, para além do interesse científico, por trás das missões à Lua encontravam-se razões políticas - basicamente a competição pelo controle do espaço.

Ao longo dos anos, com a Lua "conquistada" pelos Estados Unidos, pisar no satélite começou a perder o interesse. "Não havia justificativa científica ou política para retornar", diz Rich.

George W. Bush propôs em 2004, durante seu mandato, um plano semelhante ao de Trump: enviar uma nova tripulação à Lua e, de lá, abrir as portas para a conquista de Marte.

Mas o projeto se desfez, segundo Rich, pela mesma razão pela qual não havia se repetido antes: seu custo.

O governo Barack Obama, que sucedeu Bush, não se mostrou disposto a gastar os US$ 104 bilhões (o equivalente a R$ 344,44 bilhões) calculados como o custo da empreitada.

"Na prática, é muito difícil convencer o Congresso a aprovar um orçamento tão exorbitante quando, a partir do ponto de vista científico, não havia razões suficientes para retornar à Lua. O projeto Apollo (para levar o homem até lá) foi grandioso, mas pouco produtivo cientificamente falando", comenta.

Durante os anos do programa, o montante que o governo dos Estados Unidos destinava aos projetos da Nasa representava quase 5% do orçamento federal. Atualmente, corresponde a menos de 1%.

"Naqueles anos, os americanos estavam convencidos de que destinar tal quantia para esses projetos era necessário. Depois disso, acredito que a maioria da população não estivesse muito convencida da ideia de que seus impostos fossem destinados a um passeio pela Lua", afirma.

Outra razão, comenta, é que a Nasa se viu envolvida em outros projetos mais importantes nos anos que se seguiram: novos satélites, sondas a Júpiter, pôr em órbita a Estação Espacial Internacional, investigações sobre outras galáxias e planetas, ou seja, projetos que tinham mais "relevância científica" do que uma potencial viagem de volta ao satélite.

A nova corrida espacial

As potenciais viagens à Lua começaram, no entanto, a ganhar novamente interesse nos últimos anos.

Há cada vez mais iniciativas estatais e privadas que não só anunciam um retorno ao satélite, mas também planos ambiciosos de colonização, a maioria baseada no barateamento de tecnologias e na fabricação de naves espaciais.

A China, por exemplo, planeja pousar na superfície da Lua em 2018, enquanto a Rússia anunciou que pretende ter uma nave ali em 2031.

Enquanto isso, muitas iniciativas privadas buscam um modelo de negócios espacial que englobe desde explorar os minerais que existem na Lua até vender fragmentos do satélite como pedras preciosas.

E, ao que parece, os Estados Unidos não querem ficar para trás.

Novas justificativas

A agência espacial americana sustenta há anos que ainda existem grandes razões para voltar à Lua.

A Nasa considera que o retorno do homem poderia trazer um maior conhecimento da ciência lunar e permitir a aplicação de novas tecnologias no solo.

Além disso, Laurie Castillo, porta-voz da Nasa, assegurou à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que a agência continua na Lua - mesmo sem a presença humana.

"Temos hoje a Lunar Reconnaissance Orbiter (uma sonda especial americana lançada em 2009 para exploração da Lua), que está fazendo coisas impressionantes", disse

"Mas quando se leva em conta o desenvolvimento tecnológico que alcançamos, você se pergunta se ainda é necessário enviar um homem fisicamente à Lua para comprovar qualquer tecnologia. Então você conclui que as razões para voltar fogem novamente ao meramente científico", opina o professor Rich.

Logo, o anúncio feito por Trump tem fundo político, avalia.

"Acredito que ele queira dar a ideia de que os Estados Unidos não ficarão para trás na nova corrida espacial."

Dados os avanços tecnológicos e a aposta do setor privado na conquista especial, Rich não acredita que uma base na Lua ou em Marte esteja longe da realidade.

"Em menos de cem anos, estou quase certo de que a Lua estará muito próxima e que estaremos explorando outros lugares do Universo."