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Em 10 anos, fogo dizima ao menos 8 prédios com tesouros culturais e científicos do país

As imagens do incêndio que destruiu o Museu Nacional e boa parte de seu acervo inestimável

BBC Brasil

03/09/2018 11h42

Nos últimos anos, o Brasil assistiu a pelo menos 8 grandes incêndios que consumiram prédios que guardavam acervo com valor artístico, histórico e científico.

Neste domingo, o país perdeu parte da sua história guardada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Os bombeiros levaram seis horas para conter as chamas no mais antigo museu do Brasil, que tinha 20 milhões de itens e apresentava problemas de manutenção.

Em julho de 1978, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro viu telas de Picasso, Miró, Dalí e de centenas de artistas brasileiros queimarem em 40 minutos de incêndio, conforme o relato de jornais na época.

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Do acervo, de mais de mil peças, restaram apenas 50. O trauma foi tamanho que somente nos anos 1990 o Brasil reconquistou a confiança de instituições internacionais para sediar exposições de grande porte.

Nos últimos dez anos, contudo, o fogo voltou a destruir museus, teatros e institutos. Além do Museu Nacional do Rio, outros 7 prédios, listados a seguir, sofreram perdas históricas com incêndios.

1. Teatro Cultura Artística, 2008

Teatro Cultura Artística atingido por incêndio em agosto de 2008 - Danilo Verpa/Folhapress - Danilo Verpa/Folhapress
Teatro Cultura Artística atingido por incêndio em agosto de 2008
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Destruído por um incêndio que durou mais de quatro horas em 2008, o Teatro Cultura Artística, na região central de São Paulo, até hoje está coberto por tapumes.

Foi inaugurado em 1950, com um concerto de Heitor Villa-Lobos.

O teto desabou, uma sala foi inteiramente incendiada e uma outra ficou alagada. Além de dois pianos e equipamentos de som e iluminação, foram destruídos o figurino das peças O Bem Amado, do ator Marco Nanini, e Toc Toc.

O afresco de Di Cavalcanti na fachada, com 48 metros de largura e 8 metros de altura, é um dos poucos pontos da estrutura original com condições de ser restaurado.

As causas do incêndio são desconhecidas. Sabe-se apenas que ele começou perto da cortina do palco.

No decorrer da última década, vários prazos para o início da recuperação não foram cumpridos perdidos. Desde março, contudo, o local está em obras, e a expectativa é de que o novo teatro fique pronto em 2021.

2. Instituto Butantan, 2010

Laboratório de répteis do Instituto Butantan é atingido por incêndio neste sábado - Nelson Antoine/Foto Arena/AE - Nelson Antoine/Foto Arena/AE
Laboratório de répteis do Instituto Butantan atingido pelo incêndio em 2010
Imagem: Nelson Antoine/Foto Arena/AE

Em maio de 2010, um incêndio atingiu o laboratório de répteis do Instituto Butantan, na Zona Oeste de São Paulo, destruindo um dos principais acervos de cobras do mundo.

O fogo atingiu o prédio em que cientistas pesquisavam cobras, aranhas e escorpiões. Parte dos animais foi retirada com vida do local e levada para um local seguro.

Segundo o Instituto Butantan, a coleção atingida pelo incêndio possuía cerca de 77 mil cobras catalogadas e cerca de 5 mil em processo de registro.

"É uma tragédia da proporção do incêndio da biblioteca de Alexandria", afirmou à imprensa, na ocasião, Francisco Luiz Franco, que era curador da coleção de serpentes do Instituto Butantan, referindo-se ao fogo que consumiu a maior biblioteca da Antiguidade.

Mais de 100 anos de História e de conhecimento acumulado, ainda segundo o especialista, virou pó com as chamas.

3. Memorial da América Latina, 2013

29.nov.2013 - Coluna de fumaça sai do Memorial da América Latina, espaço cultural situado na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, que foi atingido por incêndio de grandes proporções na tarde desta sexta-feira (29). O Corpo de Bombeiros foi avisado do incêndio às 14h55. Ao todo 15 carros e caminhões dos Bombeiros foram enviados ao local para combater as chamas. Nove bombeiros ficaram feridos, sendo dois em estado grave - Leonardo Soares/Folhapress - Leonardo Soares/Folhapress
O Memorial da América Latina, espaço cultural da cidade de São Paulo, sofreu um incêndio em 2013
Imagem: Leonardo Soares/Folhapress

Em novembro de 2013, um incêndio atingiu o Memorial da América Latina, em São Paulo, e destruiu o auditório Simón Bolívar, onde havia uma tapeçaria de 800 metros quadrados da artista Tomie Ohtake.

Onze integrantes do Corpo de Bombeiros e um brigadista ficaram feridos enquanto tentavam conter as chamas.

O laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo apontou um curto-circuito como causa do incêndio. Segundo a perícia, pouco antes do início do fogo, havia faltado luz no local e um gerador reserva fora acionado, o que pode ter provocado uma sobrecarga de energia.

4. Museu de Ciências Naturais da PUC de Minas Gerais, 2013

24.jan.2013- Funcionários da Defesa Civil inspecionam o prédio do Museu de História Natural na PUC de Belo Horizonte (MG), que pegou fogo na última terça-feira (22). As chamas começaram no segundo andar e, de acordo com o Corpo de Bombeiros, atingiram parcialmente o primeiro andar do prédio de três pavimentos. A suspeita é de que um curto-circuito tenha provocado o incêndio - Frederico Haikal/Hoje em Dia/Futura Press - Frederico Haikal/Hoje em Dia/Futura Press
Interior do museu de História Natural da PUC minas após o incêndio de 2013
Imagem: Frederico Haikal/Hoje em Dia/Futura Press

Em janeiro de 2013, um incêndio destruiu réplicas, cenários, fiações e pisos do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte. A instituição tem um dos maiores acervos de fósseis de mamíferos do Brasil.

Na ocasião, uma funcionária do serviço de limpeza foi resgatada, sem ferimentos, de uma sacada do terceiro andar do prédio, depois de ter ficado cercada pelas chamas.

O fogo atingiu principalmente o segundo andar, onde havia três exposições: uma sobre a vida no Cerrado, outra sobre o paleontólogo dinamarquês Peter Lund, e uma sobre o Período Pleistoceno.

Na ocasião, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Joaquim Mol, disse que "o prejuízo científico foi incalculável".

5. Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios, 2014

4.fev.2014 - Incêndio de grandes proporções destrói o Centro Cultural do Liceu de Artes de Ofícios de São Paulo, no bairro do Bom Retiro, região central da capital paulista - Reginaldo Castro/Estadão Conteúdo - Reginaldo Castro/Estadão Conteúdo
Bombeiros apagam o incêndio que atingiu o Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em fevereiro de 2014
Imagem: Reginaldo Castro/Estadão Conteúdo

Fundado em 1873, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, no centro da capital paulista, reabriu as portas como centro cultural somente no mês passado, depois de ficar mais de quatro anos fechado.

Em 2014, um incêndio destruiu seu galpão centenário.

O Liceu se tornou referência na capital paulista como escola de ensino técnico profissionalizante e de formação geral. No início dos anos 1920, o engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo assumiu sua direção, e seu escritório contratou obras para serem executadas por artesãos e alunos.

Em 1930, a instituição desenvolveu e fabricou o primeiro hidrômetro (instrumento usado para medir a velocidade ou o escoamento da água) inteiramente nacional.

O incêndio de fevereiro de 2014 queimou quadros, esculturas, móveis antigos e réplicas em gesso. Entre as 35 peças danificadas, estava a versão em gesso da Pietá, de Michelangelo, cujo original em mármore está na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Quando pegou fogo, em razão de um curto-circuito, o auto de vistoria dos Bombeiros estava vencido.

6. Museu da Língua Portuguesa, 2015

21.dez.2015 - Um incêndio de grandes proporções atinge o Museu da Língua Portuguesa, na região central de São Paulo. O local não estava aberto para visitas. O bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, que trabalhava no museu, morreu ao tentar combater o início das chamas - Andre Penner/AP - Andre Penner/AP
O Museu da Língua Portuguesa foi atingido por um incêndio de grandes proporções em 2015
Imagem: Andre Penner/AP

Em 21 de dezembro de 2015, chamas tomaram conta dos três andares e da cobertura do Museu da Língua Portuguesa, no centro de São Paulo, que naquela segunda-feira estava fechado para o público.

Tudo virou cinza. À época, Isa Ferraz, curadora do museu, classificou o incêndio como uma "tragédia". O bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, que atuava no museu, morreu ao abrir uma porta enquanto o prédio pegava fogo.

Inaugurado em março de 2006, era um dos museus mais visitados do Brasil e da América do Sul, e o primeiro do mundo dedicado exclusivamente a um idioma.

A estrutura ainda está sendo reconstruída, e a previsão é que fique pronta no ano que vem. Os responsáveis pela restauração estão aproveitando para reformar a fachada até de áreas que não foram atingidas pelo fogo, como a torre do relógio e as paredes do saguão da estação da Luz.

7. Cinemateca Brasileira, 2016

03.fev.2016 - Vista externa da câmara 3 da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, após incêndio - Renata Nogueira/UOL - Renata Nogueira/UOL
A câmara 3 da Cinemateca Brasileira, após o incêndio em 2016
Imagem: Renata Nogueira/UOL

Em fevereiro de 2016, a Cinemateca Brasileira perdeu de forma definitiva 270 títulos. Um incêndio em um dos quatro depósitos do galpão na parte de trás do terreno na Vila Clementino, bairro da zona sul de São Paulo, destruiu cerca de 731 - dos quais 461 felizmente possuía cópia de segurança - de seus 44 mil títulos, entre cinejornais com cenas do noticiário político e curtas-metragens.

Os rolos carbonizados eram feitos de nitrato de celulose, substância inflamável usada em películas cinematográficas até os anos 1950.