Incêndio atinge prédio do Museu Nacional, no Rio; quase todo o acervo foi atingido
Um incêndio de grandes proporções atinge, desde a noite de domingo (2), o prédio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro. Os bombeiros chegaram por volta das 20h30 ao local. De acordo com a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, a maior parte do acervo foi atingida.
Segundo a corporação, uma pequena parte das obras foi retirada antes de ser atingida pelo fogo. Não foi dito quais são essas peças nem para onde elas foram transportadas.
O incêndio atingiu os três andares do prédio e começou por volta de 19h30. O fogo foi controlado somente após seis horas, por volta das 4h e não há informações sobre feridos.
A operação de combate às chamas foi feita pelo batalhão de São Cristóvão com o apoio de mais onze quartéis da região. Segundo o comandante dos Bombeiros, Roberto Robadey, hidrantes estavam sem pressão no início da operação, o que prejudicou o combate. Então eles usaram bombas para sugar a água de um lago do entorno do museu. "Agora temos a garantia de que não faltará mais água", afirmou.
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Quando o incêndio começou, o Museu Nacional já estava fechado para visitação do público. Quatro vigilantes estavam no edifício, perceberam o fogo, fugiram e chamaram os bombeiros. Testemunhas que estavam no parque que há próximo ao local disseram que o fogo começou no primeiro andar, mas ainda não há informações sobre as causas do incêndio.
Dezenas de funcionários da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) acompanham o incêndio. Dois andares foram bastante destruídos e parte do teto desabou.
Uma equipe especializada dos bombeiros entrou no prédio por volta das 21h15 para tentar bloquear áreas ainda não atingidas pelas chamas e avaliar a extensão dos estragos.
Entre os funcionários que, em prantos, acompanhavam o incêndio estava o bibliotecário Edson Vargas da Silva, de 61 anos, que trabalha há 43 anos no museu. "Tem muito papel, o assoalho de madeira, muita coisa que queima muito rápido. Uma tragédia. Minha vida toda estava aí dentro", afirmou.
Uma parte do acervo não fica nesse prédio, então está preservado. O Zoológico do Rio de Janeiro fica bem próximo do Museu Nacional, mas não foi atingido.
Dirigente critica falta de apoio do governo
Em nota, o presidente Michel Temer lamentou a destruição. "Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros", disse Temer.
O novo diretor da instituição, Alex Kellner, que assumiu o cargo este ano, tentava negociar parcerias com a iniciativa privada para recuperar o museu.
Na GloboNews, o vice-diretor do Museu Nacional, Luiz Fernando Dias Duarte, reclamou da falta de apoio do governo na conservação do espaço.
"Nunca conseguimos nada do governo federal. Recentemente estávamos finalizando um acordo com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para um aporte de recursos volumoso, onde iríamos fazer finalmente a restauração do palácio e, ironicamente, planejávamos um novo sistema de prevenção de incêndios", afirmou na TV o vice-diretor. Ele afirma que a instituição busca há anos apoio em diversas esferas do governo federal para ajudar na conservação e readequação do espaço, mas nunca conseguiu.
Museu completou 200 anos em 2018
Há três meses, por ocasião da celebração de seus 200 anos, o Museu Nacional assinou com o BNDES um contrato de patrocínio no valor de R$ 21,7 milhões. Os recursos serviriam à restauração do prédio histórico e fizeram parte da terceira fase do Plano de Investimento para a revitalização do Museu Nacional, e se somaram a R$ 24 milhões destinados nas duas fases anteriores pelo BNDES.
O valor teria as seguintes finalidades: "A recuperação física do prédio histórico; a recuperação de acervos - de modo a garantir mais segurança às coleções e otimizar o trabalho dos pesquisadores -; a recuperação de espaços expositivos - estimulando maior atração de público e promoção de políticas educacionais vinculadas a seus acervos -; a revitalização do entorno do museu; e o fortalecimento da instituição gestora", conforme divulgado à época pelo BNDES.
O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, disse que o dano do fogo ao acervo é "irreparável", e afirmou que o acidente poderia ter sido evitado.
Ao tomar ciência do incêndio, ele divulgou a seguinte nota. "Um incêndio está destruindo o Museu Nacional, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro. É uma imensa tragédia. Trata-se do museu mais antigo do país. Completou 200 anos em junho. Tem um acervo fabuloso em diversas áreas. Aparentemente vai restar pouco ou nada do prédio e do acervo exposto. A reserva técnica não foi atingida", afirma o ministro.
"É preciso descobrir a causa e apurar a responsabilidade. O BNDES assinou em junho um contrato de patrocínio no valor de R$ 21,7 milhões. Tenho procurado ajudar a instituição desde que entrei no MinC. O Instituto Brasileiro de Museus realizou diversas ações. Infelizmente não foi o suficiente. Temos que cuidar muito melhor do nosso patrimônio e dos acervos dos museus. A perda é irreparável. Certamente a tragédia poderia ter sido evitada. O MinC está de luto. A cultura está de luto. O Brasil está de luto. É vital refazer o Museu Nacional, revendo também seu modelo de gestão. E investir agora para que isso não aconteça nos demais museus públicos e privados", diz a nota do ministro.
Acervo tem 20 milhões de itens
O Museu Nacional é vinculado à UFRJ e completou 200 anos em 2018. Seu acervo tem mais de 20 milhões de itens.
Especializado em história natural, é o mais antigo centro de ciência do Brasil e o maior museu desse tipo na América Latina.
A instituição foi criada por Dom João VI, em 06 de junho de 1818, e foi inicialmente sediada no Campo de Sant'Ana. Segundo seu site, "como museu universitário, tem perfil acadêmico e científico".
O maior tesouro do Museu Nacional é o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos de idade. Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, trata-se de Luzia, uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil.
O crânio de Luzia e a reconstituição de sua face - revelando traços semelhantes aos de negros africanos e aborígines australianos - estão em exibição no museu. A descoberta de Luzia mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas. É considerado o maior tesouro arqueológico do país.
Também exposto no saguão do museu está o maior meteorito já encontrado no Brasil, o Bendegó, com 5,36 toneladas. A rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no Sertão da Bahia. Na época do achado era o segundo maior do mundo. Atualmente, ocupa a 16ª posição. A pedra espacial integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.
As múmias também estão entre os grandes destaques do acervo. O corpo mumificado de um índio Aymara, grupo pré-colombiano que vivia junto ao Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia, abre a série de múmias andinas do Museu Nacional. Trata-se de um homem, de idade entre os 30 e os 40 anos, cuja cabeça foi artificialmente deformada, uma prática comum entre alguns povos daquela região. Os mortos Aymara eram sepultados sentados, com o queixo nos joelhos e amarrados. Uma cesta era tecida em volta do defunto, deixando de fora apenas as pontas dos pés e a cabeça.
O Museu Nacional tem a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. A maior parte das peças foi arrematada por D. Pedro I, em 1826. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria é proveniente da região de Tebas. Lápides com inscrições em hieróglifos também fazem parte da coleção.
Palácio foi residência da família real
O prédio onde hoje funciona o Museu Nacional/UFRJ foi uma doação do comerciante Elias Antônio Lopes ao príncipe regente D. João, em 1808, ano da chegada da família real ao Rio. Após a morte de dona Maria I, em 1816, D. João mudou-se definitivamente para o Paço de São Cristóvão, onde permaneceu até 1821.
D. Pedro I e D. Pedro II também moraram por lá. Com o fim do Império, em 1889, toda a família se exilou na França. O palácio foi, então, palco da plenária da primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891. O Museu Nacional se mudou para o palácio no ano seguinte, 1892.
* (Com informações de Luan Santos, Estadão Conteúdo e agências de notícias)
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