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OPINIÃO

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O juiz que virou pó: Moro pulou de cadeira em cadeira, até acabar no chão

Com a candidatura de Luciano Bivar, União Brasil deixou Sergio Moro falando sozinho - Alexandre Meneghini/Reuters
Com a candidatura de Luciano Bivar, União Brasil deixou Sergio Moro falando sozinho Imagem: Alexandre Meneghini/Reuters

Colunista do UOL

13/04/2022 15h57

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Pulando de cadeira em cadeira, de poderoso juiz da Lava Jato e "herói nacional" a ministro da Justiça de Bolsonaro; de ministro a consultor de multinacional nos EUA; de consultor a candidato a presidente da República pelo Podemos, de onde pulou para o União Brasil, Sergio Moro acabou sentado no chão, chupando o dedo, sem choro nem vela.

Ao trocar o Judiciário pela política nos últimos três anos, Sergio Moro só tinha um objetivo: alcançar o poder que tinha lhe subido à cabeça, quando imaginava que, com Bolsonaro, chegaria a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Quando o presidente percebeu que o ministro queria mesmo era a cadeira dele, ejetou-o do governo, com humilhação.

A pá de cal nas suas ilimitadas ambições, alimentadas pela imprensa lavajatista, foi dado na noite de terça-feira, quando o União Brasil lançou a candidatura de Luciano Bivar a presidente, fechando-lhe qualquer possibilidade de continuar se apresentando como candidato fantasma em viagens pelo Brasil e pelo mundo.

"Fiquei sabendo pela imprensa", limitou-se a dizer, surpreendido pela indicação de Bivar, que lhe oferece agora como consolação uma candidatura a deputado federal por São Paulo, onde nunca morou. Mas isso ele não quer. É muito pouco para o tamanho que Moro imaginava ter.

Olhando para trás, fico pensando em que momento alguém disse ao ex-juiz que ele poderia transformar sua fama na mídia da Lava Jato em candidatura presidencial.

Sem nenhuma vivência partidária, sem ter o apoio de nenhum grupo político, sem nunca ter sido candidato a nada, sem qualquer ligação com setores da sociedade civil organizada, sem apoio de sindicatos, entidades de classe ou igrejas, Moro queria ser candidato em nome de quem, de qual projeto de país?

O seu único trunfo era a bandeira do "combate à corrupção", que foi desmoralizada no governo Bolsonaro, a quem seu nome está ligado. Candidato de uma nota só, flopou nas pesquisas (nunca passou de um dígito) e não conseguiu fazer alianças.

Sua campanha já vinha capengando por falta de votos e recursos, quando trocou o pequeno Podemos pela gigante União Brasil, que não tinha candidato. Imaginou que ali poderia, com sua perspicácia política, ser entronizado como o candidato único da terceira via, agora rebatizada de "centro democrático". Bateu de frente com os profissionais da turma de ACM Neto, que logo lhe cortaram as asas e o colocam no seu devido lugar.

Moro entrou e saiu da campanha presidencial virgem de propostas, sem ter apresentado uma única ideia nova sobre o que pretendia fazer com o país.

Nunca se perdeu tanto espaço e tempo na imprensa como com esta tal de terceira via, a frustrada tentativa de criar um candidato de laboratório, para romper a polarização entre Lula e Bolsonaro, que se mantém desde a primeira pesquisa no ano passado, até hoje.

Na pesquisa Poder Data divulgada nesta quarta-feira, os dois juntos somam 75% das intenções de voto (40% de Lula e 35% de Bolsonaro, que vem se recuperando nas últimas semanas), sem deixar brecha para o surgimento de uma candidatura alternativa, a cinco meses e meio da abertura das urnas..

O nome do ex-juiz nem é mais colocado nas listas de candidatos, como ele queria. Seus votos voltaram, em sua maioria, para Bolsonaro. Ciro Gomes, que disputava o terceiro lugar com Moro, ficou com 5%, Doria e Janones estão empatados com 3% e o resto nem conta.

Além da debacle de Moro, o que esta campanha mostrou foi a perda de poder da grande imprensa, que já não elege nem derruba presidentes, como em outros tempos.

Vida que segue.

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