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Trump lança ultimato e ameaça sair da OMS

13.mai.2020 - Donald Trump na Casa Branca - Pool / Getty Images
13.mai.2020 - Donald Trump na Casa Branca Imagem: Pool / Getty Images

Colunista do UOL

19/05/2020 02h49

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Resumo da notícia

  • Governo americano quer mudanças na entidade nos próximos dias, sob a ameaça de suspender repasses e avaliar saída da agência
  • Acusação é de que OMS não demonstrou independência em relação ao governo chinês
  • Anúncio ocorre durante principal reunião da OMS e é interpretado como esforço para minar influência internacional de Pequim

Em meio à Assembleia Mundial da Saúde, o governo americano anunciou um ultimato e indicou que poderá sair da OMS. O motivo seria a resposta da entidade à crise do coronavírus e sua proximidade ao governo chinês.

Numa carta dura, o presidente americano Donald Trump alertou que se não houver uma reforma imediata da entidade de Saúde e um processo iniciado nos próximos 30 dias, haverá um congelamento dos repasses para a organização. Ele ainda indica que irá reconsiderar a participação americana na agência internacional.

"Se a OMS não se comprometer a melhorias significativas nos próximos 30 dias, eu tornarei permanente a minha suspensão temporária dos aportes dos EUA à OMS e reavaliarei nossa participação na organização", escreveu o americano ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Ontem, ele já havia chamado a OMS de "fantoche da China". Os ataques e pressão ocorrem no momento em que Pequim anuncia US$ 2 bilhões em ajuda para a luta contra a pandemia no mundo e dezenas de países saem em apoio à OMS.

Na entidade, uma resolução vai submetida ao voto hoje, pedindo que uma reforma seja realizada. Mas o texto do documento não cita prazos, enquanto a pressão da Europa, China e da ONU é para que as mudanças sejam iniciadas apenas depois de o vírus ter sido controlado.

Dentro da OMS, as ameaças de Trump são consideradas como um esforço da Casa Branca de encontrar um culpado pelas mortes de 90 mil americanos pelo vírus, um número superior à guerra do Vietnã e da Coreia.

A carta com o ultimato deve ainda incendiar a assembleia mundial, que hoje encerra seus trabalhos em Genebra.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, prometeu ontem iniciar uma investigação sobre a resposta da entidade à pandemia. Mas não deu datas e ainda indicou que seus alertas foram soados no momento certo, quando existiam fora da China apenas 82 casos e nenhuma morte.

Mas auditorias internas obtidas com exclusividade pela coluna revelam que o sistema de alerta não funcionou e que precisará ser revisto. O levantamento, porém, mostra que a OMS seguiu todos os protocolos estabelecidos. O problema, segundo a auditoria, seria a estrutura dos mecanismos hoje existentes, que terão de ser reformados.

A auditoria, porém, insiste que esse não é o momento de fazer a reforma na OMS, sob o risco de ver o combate contra o vírus perder seu foco.

O que diz a carta

Na avaliação de Trump, a OMS não tem independência em relação ao governo chinês e "ignorou de forma consistente" alertas sobre a existência do vírus em Wuhan durante o mês de dezembro.

A OMS afirma que apenas foi informada pela China em 31 de dezembro de 2019. Além disso, a carta ataca o adiamento da emergência global, depois de a OMS sofrer pressão por parte de Xi Jinping.

Uma reunião inicialmente foi realizada no dia 22 de janeiro. Mas não chegou a uma conclusão sobre a declaração da emergência. Nos dia seguintes, Tedros viajou para a China e, em sua volta, a OMS anunciou a emergência, no dia 31 daquele mês.

A agência, porém, acusa os governos de não terem sequer agido quando tal emergência foi declarada. No caso americano, medidas foram decretadas semanas depois desse anúncio, enquanto Trump continuava a minimizar a gravidade dos fatos.

Na carta, Trump ainda acusa Tedros de não ter atuado de forma correta, o que poderia ter salvo "muitas vidas". Para o americano, os passos errado do diretor foram "extremamente custosos ao mundo".

Num trecho da carta, porém, Trump da um sinal claro de seu objetivo: "o único caminho para a OMS é demonstrar independência da China".

Para diplomatas e observadores em Genebra, a luta dos americanos na OMS vai além de buscar um culpado. A meta seria ainda a de frear o avanço chinês e sua influência nas organizações internacionais.

No Brasil, a mesma tese é compartilhada por Ernesto Araújo, o chefe da diplomacia do Itamaraty. Em reuniões, ele vem alertando sobre o risco de que a pandemia seja usada para fortalecer o "plano comunista" pelo mundo e nas instituições internacionais.