Alckmin dá a Tabata estatura que ausência de Lula tira de Boulos
Na política, aquele que inventa pretextos para que alguma coisa não seja feita acaba sendo surpreendido por alguém que está fazendo a coisa. Um dia depois de Lula ter cancelado visita que faria no sábado, com Guilherme Boulos, à periferia de São Paulo, o vice-presidente Geraldo Alckmin estendeu a mão para Tabata Amaral.
Lula alegou que precisava descansar, pois mal chegou de Nova York e já embarca, neste domingo, para o México, onde prestigiará a posse da nova presidente mexicana Claudia Sheinbaum. Alheio às dificuldades de Boulos, que disputa com Ricardo Nunes e Pablo Marçal uma vaga no segundo turno da corrida à prefeitura paulistana, Alckmin ornamentou com sua presença comício de Tabata na Vila Missionária, bairro periférico onde a candidata do PSB cresceu.
Sem Lula, Boulos participou de carreta com sua vice Marta Suplicy na Brasilândia. Fez uma mal dissimulada defesa do voto útil, aquele que abandona candidaturas situadas no segundo pelotão das pesquisas, como a de Tabata, para assegurar a presença de um representante da esquerda no segundo round da eleição.
"A gente está diante da última semana de uma eleição onde estamos enfrentando dois bolsonaristas", disse Boulos. "As pessoas têm que ter noção do significado da gravidade do que isso representa pra cidade de São Paulo".
Na noite da véspera, Tabata fustigara Boulos, no debate da TV Record, com uma menção à volatilidade das posições do preferido de Lula em relação a temas como descriminalização das drogas, aborto e a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela. Neste domingo, ela declarou que "dá tempo" de produzir uma virada capaz de levá-la ao segundo turno.
Ecoando Tabata, Alckmin disse que "eleição é convencimento". Ao lado da segunda-dama Lu Alckmin; do ministro do Empreendedorismo Márcio França e de sua mulher Lúcia Fança, vice na chapa de Tabata, o vice-presidente enalteceu o empenho da candidata do seu partido para iluminar os problemas da cidade. Estimou que as mulheres, donas de 53% dos votos na capital paulista, "vão fazer a diferença" nas urnas.
Com 9% das intenções de voto no Datafolha, a chance de Tabata passar para o segundo turno está situada num ponto qualquer abaixo da estaca zero. Nada menos do que 47% dos seus eleitores admitiram a hipótese de mudar o voto.
Ao se recusar a jogar a toalha prematuramente, Tabata se equipa para ocupar no futuro o terreno baldio da centro-direita. Endossando-a, o vice-presidente e a cúpula do PSB se antecipam à ala do PT que resiste nos bastidores à ideia de reeditar na corrida presidencial de 2026 a chapa Lula-Alckmin.
Alckmin trafega na contramão de Lula num instante em que Ricardo Nunes aparece nas pesquisas à frente de Boulos na periferia paulistana. Apadrinhado pelo governador Tarcísio de Freitas, o prefeito coleciona mais votos que Boulos entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos.
Insuficiente para proporcionar a Tabata uma sobrevida na corrida à prefeitura, a presença do vice-presidente dá à deputada do PSB, por assim dizer, uma estatura que ausência do presidente tira de Boulos.
Lula promete compensar o seu candidato comparecendo a uma caminhada na Avenida Paulista no próximo sábado, véspera do primeito turno. Seja qual for o resultado da disputa em São Paulo, ficou entendido que a renovação da aliança firmada entre Alckmin e Lula na sucessão passada não é automática.
Ainda que a dupla se reencontre num provável palanque de Boulos no segundo turno, a recomposição do arranjo de 2022 em 2026 depende de uma admissão do petismo de que Lula não teria subido a rampa pela quarta vez sem um empurrão da frente ampla que se formou para defender a democracia, mandado Bolsonaro mais cedo para casa.
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