Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Direita começou a perceber que Bolsonaro não é tão necessário

Bolsonaro está na bica de realizar uma façanha. Com seu estilo rombudo de fazer política, acabará transformando o bolsonarismo num aglomerado de amigos majoritariamente feito de inimigos. Ao pronunciar em voz alta críticas que eram sussurradas apenas nos subterrâneos do bolsonarismo, o pastor Silas Malafaia inaugurou uma fila de lamentações que, se não for contida, exigirá a distribuição de senha.

A fila já inclui, além de Malafaia, gente como os ex-ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Tereza Cristina (Agricultura) e o governador de Goiás Ronaldo Caiado. Nenhum deles rompeu com o "mito". Mas todos levam o pé atrás e os lábios ao trombone.

Bolsonaro desprezou os conselhos de Ciro Nogueira para que agisse como um cabo eleitoral multipartidário. Privilegiou candidatos do PL, dando de ombros para palanques dos outros partidos que o prestigiaram em 2022.

Em Campo Grande, Bolsonaro fez pior. Sonegou suporte a Tereza Cristina, do aliado PP, para socorrer um candidato do PSDB. Tereza apoia a reeleição da prefeita Adriane Lopes, que foi ao segundo turno. Bolsonaro indicou o vice de um rival tucano que amargou no primeiro round um terceiro lugar. "Foi um erro", disse a ex-ministra em resposta à canelada do "mito".

Em Goiânia, Bolsonaro chamou Ronaldo Caiado de "governador covarde". Além de fabricar um adversário para o candidato do governador à prefeitura de Goiânia, colocou seus mastins para difundir nas redes sociais a maledicência segundo qual Caiado busca uma aliança com o PT no segundo turno.

Apostas eleitorais diferentes fazem parte do jogo político. Entretanto, deslealdade e ofensa nada têm a ver com isso. Sobretudo depois do equilíbrio com que Bolsonaro tratou Pablo Marçal. Foi o seu zigue-zague entre o grotesco e a candidatura de Ricardo Nunes que levou Malafaia a indagar: "Que porcaria de líder é esse?"

Heterogênea, a direita nacional começa a se dar conta de que Bolsonaro, zonzo e inelegível, já não é tão necessário. O topo do conservadorismo tornou-se um terreno baldio. Visto como favorito para ocupar o oco produzido pelo capitão, Tarcísio de Freitas providencia panos quentes. Bem orientado, sabe que quem sai na chuva antes da hora candidata-se apenas a um resfriado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes