Bolsonaro fará do julgamento no Supremo o comício de sua vida
Bolsonaro sabe o que fez no verão passado. Já percebeu que o Supremo Tribunal Federal o condenará à prisão. Se o comportamento que exibe a caminho do patíbulo serve para alguma coisa é para sinalizar que o capitão transformará o seu julgamento num grande comício. O comício do resto de sua vida.
É mais fácil comover-se com uma pedra do que extrair emoção do puxa-saquismo sanfoneiro do ex-ministro do Turismo Gilson Machado. Os olhos de Bolsonaro marejaram porque a lágrima tornou-se parte da coreografia da vitimização. O capitão fortão precisa acionar de vez em quando o modo fraquinho.
O fortão falou como um ditador vebezuelano na reunião ministerial de julho de 2022: "Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições."
O fraquinho soou manso e lacrimejante: "Alguns falam que o meu defeito foi jogar limpo num país onde tinha muita coisa escondida. Mas valeu a pena. Se eu for embora hoje, valeu a pena". Ao fundo, uma canção desconexa —"O dinheiro do Brasil ia para o povo, não para Cuba..."— e os acordes desafinados.
Bolsonaro sabe o que o aguarda. "Posso ser preso agora, ao sair daqui", disse, após desembarcar no aeroporto de Brasília. No banco dos réus, a encenação não tem serventia. Nas redes sociais, a coreografia vitimista alimenta o conspiracionismo da perseguição, mote do comício hipertrofiado de Bolsonaro.
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